domingo, 21 de setembro de 2014

Gabo no palco


Especial para o Jornal da Paraíba
Por Tiago Germano
13/09/2014

Na quinta-feira, o JORNAL DA PARAÍBA assistiu à montagem de Velhos Caem do Céu Como Canivetes, espetáculo da Pequena Companhia de Teatro, de São Luís do Maranhão. O espetáculo tem direção de Marcelo Flecha e é livremente adaptado do conto ‘Um senhor muito velho com umas asas enormes’, de Gabriel García Márquez, escritor que morreu no mês de abril.

Na peça, um misterioso Ser Alado cai no quintal de um Ser Humano, um catador de lixo que se instrui lendo os livros que encontra entre os resíduos deixados pelas outras pessoas. Impressiona a atuação de Jorge Choairy e sobretudo de Cláudio Marconcine, que se transfigura no papel deste Ser Humano, um homem que abandona as artes plásticas e vive na miséria, cercado pelas invenções engenhosamente inúteis que passa a produzir.

O desempenho corporal dos atores é fruto de uma metodologia desenvolvida pelo grupo chamada de Quadro de Antagônicos, no qual a oposição física entre os atores vai definindo, lendo e regendo as partituras físicas de cada um. O cenário, produzido artesanalmente, pelos próprios integrantes da companhia, é dominado por uma torre erguida no centro por latinhas do Guaraná Jesus.

Astier Basílio
Especial para o Correio da Paraíba
13/09/2014

 
Um ser humano confinado em um lugar ermo, revirando o lixo. Despenca em seu quintal um ser alado. É em torno deste episódio, e de seus desdobramentos, que se desenvolve o espetáculo Velhos Caem do Céu como Canivetes, montagem da Pequena Companhia de Teatro, do Maranhão, apresentada quinta no Festival Nordestino de Teatro, em Guaramiranga. No cenário, uma imensa torre composta por latinhas de guaraná Jesus foi um dos pontos de discussão entre os debatedores. “Eu não consigo ver o lixo aí tal o nível de organização da cena”, pontuou Makários Maia, encenador do Rio Grande do Norte e convidado como debatedor do evento. Numa discussão filosófica, o ser humano e o ser alado falam sobre fé. “Você não coloca a dúvida em cena, mas a descrença”, avaliou Makários. “É um espetáculo de perspectiva niilista”, observou Wilson Coelho, tradutor, diretor e dramaturgo do Espírito Santo, também integrante da banca de debatedores. Além do embate sobre a existência, numa encenação que conciliou tanto o corpo dos atores, trazendo-os dilatados, a montagem, numa composição repleta de objetos que mais parecem instalações, assume uma exuberância e a linguagem também é evidenciada como falência da comunicação – a torre de latinhas é evocada como um símbolo da Torre de Babel, de onde decorreu o castigo divino na multiplicação das línguas para impossibilitar, pela incomunicação, a chegada dos humanos aos céus.


Um comentário:

Flávia Teixeira disse...

Delícia dever ter sido participar disso...Pano pra manga! Preciso ver!!!!