sexta-feira, 1 de março de 2013

Arcada dentária


Fios de cabelo; quantos temos? Depois de mortos, nem os vermes os querem. Impressões digitais identificam os vivos. A pele é demais perecível. Arcada dentária, os ossos, as alterações sofridas, servem também para identificação. Algumas coisas se perdem e outras são preservadas.

O ator é humano. Alguns processos buscam, a partir dessa identificação a composição de personagens. Quer na mitologia pessoal quer na repetição de movimentos corporais cotidianos característicos de cada um, esses elementos tendem a fortalecer a busca da escritura de uma dramaturgia para o ator. Provém dele - ao menos aparentemente. 

O interesse, parece-me, é buscar alguma coisa orgânica a ponto de se sentir ligado à  criação. Imagino que as repetições de composições, ou elementos surgidos, possam respingar em toda a obra do ator. Como dissociar o que já fora do que está por vir são outros vinténs. A sensação de desamparo, quando me deparo com algum material consistente, a ponto de lidar com ele em processos criativos, angustia. Julgo-me e serei julgado por isso. Esse ligâmen existe. A consciência disso faz com que o ser, produtor de significados, oxigene ainda mais seu corpo já formalizado para uma outra formalização, e mais outra, mais outra, outra. Por isso essa permanente reconceituação de corpo. 

A cada espelho quebrado, um dente é perdido ou achado.

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