domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sob os olhos de Kafka

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A experiência de adaptar Kafka para o teatro coincidiu com a publicação da minha dramaturgia reunida e o surgimento deste blog. Um ano para assumir que escrevo. Sob o olhar impiedoso de Kafka – e tantos outros fantasmas que me açoitam – escrevo porque preciso. Sempre foi assim. Desde o quinto poema anterior ao do dia vinte e nove de junho de mil novecentos e oitenta e seis – primeiro manuscrito meu que possui data de referência – escrevo pela necessidade de espantar as agruras que me cercam. Doloroso, sempre. Um exercício permanente que mistura angústia, incompreensão, nostalgia, revolta e sofrimento. Prazeroso, nunca. Meu prazer está no efêmero, no que ninguém atrapa. O peso do olhar desses monstros transforma meu exercício em detalhe mal concluído, em lente desfocada; uma nota em desafino solta num canto mudo. Penso cada palavra por mim escrita como um natimorto. Nasce morta. Ceifada pelos grandes escritores que sorvi durante a vida: com eles, para que escrever? Ubiratan Teixeira chamou minha tese de “esperta defensiva”. Talvez seja. Em defesa da literatura.

3 comentários:

Jorge Choairy disse...

Lembra do Cazuza? Assim:
"Pra que buscar o paraíso
Se até o poeta fecha o livro
Sente o perfume de uma flor no lixo
E fuxica". (Ritual)

Cláudio Marconcine disse...

e eu que pensei ser um tolo. vc é um tolo e meio. agora, preciso saber o que jorge c. e kátia l. são. assim, me sentirei mais completo e afagado.

Marcelo Flecha disse...

Rs. Só me falta o ouro... do tolo.