quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Antagônicos e os vetores

Na matemática vetores são segmentos de retas orientadas, tendo mesma direção e sentido. No teatro utiliza-se o mesmo conceito para relacioná-los na perspectiva do corpo dilatado, vivo. Forças que são exercidas potencializadoras do corpo exigido em cena.
Maurício Abud, Silvana Abreu, Luis Louis, Barba, Burnier... todos buscam/buscaram essa presença viva do ator em cena através dos vetores. Esse fluxo de energia é percebido através de sensações... físicas. O (1) é o enraizamento. Abrir os artelhos, fazer com que a planta do pé grude no chão, e que o ponto de equilíbrio seja confortável. Quadril encaixado, tensão na musculatura e nos tendões das pernas. O (2) equivale a ser puxado pela nuca, como se um fio existisse ligando o (1) ao (2). Estatura aumentada em alguns centímetros. O (3) é encaixar os ombros, que comumente ficam caídos. Recolocá-los no seu devido lugar. A força de tração existe entre os pontos. Como se ampliasse nossa envergadura. Tudo se amplia, pois o princípio aqui é o da dilatação. Corpo ampliado, dilatado, vivo. O (4), como que um farol estivesse apontando para a frente, e esse farol fosse a região dos mamilos. Inevitavelmente, o corpo será projetado para cima, o que será equacionado pelo vetor (5), como se fossem asas a se mostrar. Corpo preparado e pronto. Assim é um corpo dilatado. No início das apresentações de Pai & Filho, é a primeira das preparações que faço antes de entrar em cena. E em cada um dos vetores, fico de 10 a 20".
Em se tratando dos antagônicos, esses vetores terão sua força alterada ou excluída quase que por completo. Quando há contaminação de outros nos escolhidos para a origem das personagens, há uma mudança significativa dos vetores, mudança no aspecto da multiplicidade deles. É que a dilatação expande; outros, não. Vou me debruçar um pouco sobre eles para compreendê-los melhor, dando espaço, obviamente, para as impressões de diretores e de espectadores. Quanto a mim, continuo a ser somente, e tão somente, um ator.

Um comentário:

Marcelo Flecha disse...

A postagem é pertinente e contundente. Creio que o Quadro de Antagônicos pode contribuir rediscutindo e/ou questionando certos cânones da antropologia teatral. O exemplo da Dilatação é um: antagônicos como a Retração, o Relaxamento ou o Peso redefinem uma alternativa distanciada e, em alguns casos, opostas (como bem destaca a postagem) aos conceitos abordados. O Quadro acaba sendo um instrumento que permite experimentar riscos/escolhas além dos cânones.