domingo, 16 de dezembro de 2018

Contrariando a nova ordem


A Pequena Companhia de Teatro iniciou recentemente uma nova parceria, desta vez com a Cia. Prisma de Artes, de Fortaleza/CE, com o intuito de montar um espetáculo que reúna as urgências do coletivo cearense, com estreia prevista para o primeiro semestre de 2019.

Passamos uma semana em Fortaleza – momento capital para o atravessamento do pensamento e das práticas de cada grupo – atentos às demandas oriundas das aflições que compõem o quadro das nossas lutas, e afinados na percepção de estudar o melhor caminho para dar eco a elas.

Sinto que tudo está cada vez mais urgente. Teatro é ação. É movimento. Quanto mais um coletivo se move, se desloca, se transmuta, se reinventa, maior a pujança surgida. Quanto mais um grupo encena, maior a probabilidade de responder às urgências provenientes da contemporaneidade.

Nesse caminho, depois das preliminares discussões sobre o que dizer, motivado por alguns textos e gatilhos provocadores, mergulhamos num intenso exercício de experimentação, tentando fazer aflorar de maneira mais orgânica o compromisso do discurso com esse agora de que trato no parágrafo acima.

Atores em processo de experimentação se revelam, se entregam ao descompromisso com a lógica, se metamorfoseiam sem temer o ridículo, fazendo com que a verdade seja uma órbita pulsante em cada experimento. Como nosso caminho ainda não estava comprometido nem com forma ou conteúdo, o torvelinho de opões foi sendo desvelado, assegurando um repertório de alternativas interessantes, embaladas na atmosfera do contemporâneo, pela fragmentação do discurso, pelo descolamento com uma narrativa dramática, e pela amarga sensação de estarmos vivendo uma distopia.

Agora nos dedicamos ao encaminhamento mais organizado do dizer, estabelecendo metas e prazos para definirmos concentradamente as possibilidades levantadas, porque uma coisa é consensual entre a Prisma e a Pequena: a força do discurso é crucial para a saúde da encenação, tendo em vista que o comprometimento dos envolvidos depende exclusivamente da identificação destes com o objeto de pesquisa. É o momento em que não se pode titubear, pois toda a sequência do trabalho pode ficar comprometida se não houver clareza e confiança no dito, para que a defesa desse postulado se materialize na potência aplicada pelo grupo na construção da cena.

Somar ações, encontros, estratégias, parcerias, pensamentos e práticas é a forma que o teatro de grupo do país tem para enfrentar a nova ordem que se avizinha, certos da tragédia que assolará a cultura brasileira: quem fala em fundo do poço não sabe o que é profundidade.

2 comentários:

Fernando Yamamoto disse...

Merda, queridos Flêtcha e Prisma!!!!

Unknown disse...

Exelente avante!