domingo, 16 de julho de 2017

Acordei de bom humor após sonhos intranquilos


Hoje faço um bate-e-volta para o Rio de Janeiro, participar de um debate sobre o SESC Dramaturgias, que será transmitido amanhã, às 14h30, por videoconferência para todo o país, pois na terça, bem cedinho, pego o volante da Pequena Móvel, e rumaremos para Fortaleza cumprir com a nossa agenda de ocupação do CCBNB destrinchada nesta postagem aqui.
Como vamos bater um papo sobre a experiência em participar do projeto a partir da oficina de escrita dramatúrgica que ministrei em Caxias/MA, Vitória/ES e Maceió/AL, antecipo o meu balanço para instrumentalizar os queridos leitores que por ventura vierem a acompanhar o debate em alguma das unidades regionais do SESC para onde a videoconferência será transmitida. 
Assentarei a provocação naquilo que motivou minha proposta para o SESC e que vem sendo discutida aqui no blog: o excesso de narrativização do teatro contemporâneo. Esse assunto pontuou permanentemente o diálogo com as pessoas que participaram das oficinas, e gerou uma inquietação quanto à necessidade de discutir o fato e entender o que esse sintoma da contemporaneidade tenta nos dizer. Como penso que será necessário me debruçar em outra postagem sobre o assunto após ruminar a colheita das réplicas e tréplicas que recebi, não aprofundarei esse mote hoje; todavia, o conteúdo da problematização está escondido na palavrinha que aparece em vermelho neste parágrafo, é só clicar para abrir a Caixa de Pandora.
Debruçar-me-ei sobre quatro pontos que considero cruciais na experiência vivida, dois negativos e dois positivos. Começarei pelos negativos, para dar tempo de diluir meu azedume, fazendo com que o ledor termine a leitura com uma imagem menos ranzinza deste ranheta contumaz que tanto reclama.
O primeiro ponto negativo é que meu Henrique é sem H... Era para ser uma piada; se você não riu, é a prova patente de que você é tão ranheta quanto eu. O segundo, e aqui ressalvo abordar o tema em termos gerais, não sendo generosos com as situações que fugiram à regra, percebi uma dificuldade do SESC em conseguir adequar a clientela da oficina para o recorte mais específico sugerido pela oferta, desnivelando a possibilidade de aproveitamento por parte das pessoas atendidas pela ação; fiquei com a sensação de que pessoas outras, que respondessem mais organicamente às especificidades, pudessem ter ficado de fora não por indiferença, por desaviso.
Já os pontos positivos foram apenas confirmados, pois haviam sido levantados como suspeitas em postagens anteriores que nem vou lincar, por saber que você não se dará o trabalho de clicar. O primeiro diz respeito ao cuidado do SESC em viabilizar uma carga horária significativa, 32h – tendo em vista que uma disciplina acadêmica gira entre 40 e 60 horas, disponibilizar uma atividade formativa com essa extensão comprova o compromisso do SESC com o aprofundamento do estudo das múltiplas dramaturgias postas hoje. Não é muito comum atividades formativas receberem essa atenção quanto ao tempo necessário para que uma facilitação seja realizada largamente, possibilitando ao participante um debruçar-se efetivo, contrapondo-se a certa superficialidade que permeia projetos que incluem formação, inclusive nossos.
A segunda, e que a edição deste ano traz como novidade, é a possibilidade de a oficina ser ministrada em dois momentos, com um intervalo de tempo importante entre os dois. Esse acertado formato possibilitou o confronto entre teoria e prática. Aquilo que fora postulado no primeiro encontro, recebera um outro momento para a verificação das postulações no tête-à-tête com o postulante, arremessando oficineiros e oficinados em um delicioso jogo dialético, repleto de comprovações, antíteses, problemas, réplicas, contradições, esclarecimentos, teses, tréplicas, abraçados pelo empenho na busca da síntese, tão esquecida nas tratativas dialéticas contemporâneas, principalmente virtuais.
No trinchinchim, minha experiência aponta para algo que vem sendo pontuado por onde passo, nas quase setenta cidades que visitei nos últimos anos com diversos projetos: o fato de o SESC ser um ocupador potente da lacuna que as políticas públicas culturais do país não conseguiram preencher, e que agora, na atual conjuntura política de desmonte e desmanche, será alargada até virar uma grande vala onde será sepultada a cultura brasileira.
São apenas umas pitadas de tempero que jogo por cima, para marinar o papo que acontecerá amanhã, e que você poderá acompanhar, se tiver disposição para dar um pulinho na unidade do SESC da cidade que você habita. Como frequentemente faço jejum, chegarei para o debate com fome, e espero que as questões levantadas por você, meu intrépido leitor fantasma, saciem este faminto prosador de inutilidades.  

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