domingo, 14 de maio de 2017

Caneta e papel: a resistência da escrita

Na última quinta-feira encerramos o 1º encontro do SESC Dramaturgias, em Maceió/AL, depois de ter passado por Caxias/MA e Vitória/ES. Foram 16h de atividade em cada uma das cidades, instrumentalizando o participante para a produção de escrita dramatúrgica, a partir da profunda análise de gêneros literários, do mergulho nas características do gênero dramático, da democratização do processo de transposição de gêneros da Pequena Companhia de Teatro, e da problematização sobre a preponderância da narrativização no teatro contemporâneo.
Coincidentemente, já havia passado com espetáculos e oficinas nas três cidades que visitei; isso me proporcionou o confronto das realidades, produções e problemas, em um intervalo aproximado de cinco anos, com exceção de Caxias, que visitei com maior frequência. É difícil não observar que, pese aos esforços pontuais de iniciativas que resistem, os problemas perduram, e meia década depois, assim como a realidade ludovicense, não posso afirmar que houve avanços significativos entre o que havia e o que hoje está posto. Nas discussões que perpassaram todas as horas de atividade, foram recorrentes as queixas quanto à minguada produção teatral, a desestruturação de políticas públicas culturais, a dificuldade de conseguir financiamento artístico, a carência de oferta de atividades formativas, e a recorrência de se enxergar o SESC como um ator importante mas não suficiente para sanar as demandas emergenciais de uma classe teatral que tende a definhar ainda mais com a nova ordem estabelecida nacionalmente no que se refere a arte: o desmonte.
Ainda assim, foi gratificante perceber que os que ali estavam para dialogar, cerca de cinquenta dedicados interlocutores, conservavam a força oriunda da resistência cultural – condição presente no DNA de qualquer artista que seja forjado em um país que desconsidera, permanentemente, o poder de transformação sociopolítica da cultura. Esses queridos companheiros de jornada dramatúrgica mantiveram acesa a chama do diálogo, e provocaram seus conhecimentos, ao permitir-se horas de intenso estudo, sem negligenciar o necessário estado de atenção frente ao mundo que nos cerca.
Após esse nosso primeiro momento, onde foram facilitadas as informações e técnicas necessárias para o avanço da atividade, todos os participantes encontram-se agora no processo de escritura de uma peça teatral a partir de uma obra de outro gênero literário; e a oficina pretende que, ao fim, todos os participantes tenham desenvolvido um texto de curta, média ou longa extensão. No decorrer dessa produção, vou acompanhando virtualmente o desenvolvimento de cada um dos projetos dramatúrgicos, verificando os caminhos e os descaminhos que se apresentarem durante a trajetória. Isso continuará até o nosso próximo encontro, pois, como versei aqui, o SESC Dramaturgias prevê o retorno do oficineiro à cidade visitada. Sendo assim, outras 16h, nos três municípios, pretendem possibilitar a prática com a presença do facilitador, onde acompanharei a feitura e finalização de cada um dos textos, dirimindo ruídos que tenham perdurando durante o primeiro encontro.
O projeto terá sequência nesta segunda-feira, quando parto para Caxias/MA, primeira cidade que visitei com a oficina de escrita dramatúrgica. Com a metade que me cabe do SESC Dramaturgias concluído, posso dizer que toda ação de cunho formativo tem marcante repercussão na comunidade artística onde é realizada, pois aciona dizeres e desejos muitas vezes escondidos em lugares recônditos da alma humana, e que, quando provocados, se apresentam com a potência, prontidão e espanto matriciais para a criação artística. Tomara que tudo seja, permaneça, aconteça, recomece, resista...  

4 comentários:

Igor Nascimento disse...

Somos seus consortes! Adorei essa palavra.

Marcelo Flecha disse...

Espero estar com sorte, e vocês tenham trabalhado bastante!

Elizandra Lucca disse...

Resistir e produzir podem ser palavras sinônimas nesse contexto.

Marcelo Flecha disse...

Exato! A produção é o nosso principal caminho de resistência!