O ano começa a
acabar e 2016 leva consigo a marca dos dez anos de existência da Pequena
Companhia de Teatro. Atravessamos uma década fazendo teatro e vivendo dele, em
um mesmo grupo, com os mesmos integrantes, desenvolvendo pesquisa, montando
espetáculos, circulando, ministrando oficinas, promovendo festivais, participando
de debates, palestras, seminários, fóruns, sem fazer concessões de ordem
estética, política, investigativa, financeira ou intelectual. Esse
posicionamento nos custou sangue, suor e lágrimas, mas posso assegurar que nada
pingou sem a devida dose de satisfação por saber que construíamos uma
trajetória regular, honesta, progressiva e permanente.
Primeiro com
César Boaes enredando Jorge Choairy no labirinto de “O Acompanhamento”; depois
com o fraternal enlace de Lio Ribeiro e Cláudio Marconcine, em “Entre Laços”;
em 2010, Jorge e Cláudio se unem num rito patriarcal, em Pai & Filho,
para logo depois saírem da órbita com Velhos caem do céu como canivetes, em
2013. Quatro espetáculos em dez anos. Em dois interstícios a Pequena colabora
com a Cia. A Máscara de Teatro para as montagens de “Medéia” e “Deus Danado”,
em Mossoró, além de coproduzir duas edições do “Auto da Liberdade”. Pinçaria,
também, as 4 edições da Semana Imperatrizense de Teatro, e a performance
poético-teatral “Literatura Viva”, com mais de 200 intervenções, para as duas
primeiras edições da Feira do Livro de São Luís, das quais a Pequena Companhia
de Teatro foi responsável pela direção artística. Para dez anos, poderíamos
dizer que se trata de uma produção econômica, mas construída na medida dos
nossos anseios e das nossas condições.
Uma das principais
virtudes foi que essas produções não se bastaram em São Luís. Desde a primeira
circulação, com “O Acompanhamento” pelo interior do Maranhão, em 2006, até a
derradeira, com “Velhos caem do céu como canivetes” pela Amazônia Legal,
viajamos 67 cidades de 25 estados do país. Todos os espetáculos da Pequena
Companhia de Teatro cumpriram pelo menos um projeto de circulação. Visitamos 26
cidades do Nordeste, 14 do Sul, 4 do Centro-oeste, 14 do Sudeste e 9 do Norte,
ultrapassando as 250 apresentações. Participamos dos principais projetos de
circulação nacional – Programa Petrobras Distribuidora de Cultura, Palco
Giratório/SESC, Viagem Teatral/SESI e SESC Amazônia das Artes –, além de
ocupar(e)mos os Centros Culturais BNB de Sousa e Fortaleza, através da Seleção
de Projetos Culturais BNB. Viajamos de carro, de barco, de van, de avião, de
ônibus, de trem, de carroça – isso mesmo que você lê.
Os 4 Prêmios
FUNARTE de Teatro Myriam Muniz ganhos pela Pequena Companhia de Teatro, em
2009, 2010, 2012 e 2013, foram nosso esqueleto de sustentação, e a tábua de
salvação para inúmeros grupos teatrais do Brasil, que agora padecem com a falta
de entusiasmo do MINC em sinalizar uma gestão séria. Tanto os atores Cláudio e
Jorge, quanto os espetáculos, direções, produções, cenários e figurinos
ganharam o Prêmio SATED/MA de Artes Cênicas - 10 ao todo. Participamos de 62
festivais ou mostras de teatro locais, regionais, nacionais, internacionais e
intergalácticas.
Além disso
estudamos, enrolamos, aprendemos e ensinamos. Ministramos 5 oficinas – de
atuação, de iniciação, de dramaturgia, de leituras dramáticas e de cenografia
– para mais de 50 turmas, em 30 cidades
de 18 estados deste brasilzão, e publicamos, lançamos e vendemos/distribuímos
1.000 exemplares de um livro, minha dramaturgia reunida. Parte dessas
atividades promovidas pelo Programa BNB de Cultura, outro inestimável
investimento cultural que a classe artística perdeu e não se apercebeu.
Adquirimos a
sede, que foi nosso grito de independência criativa. Aqui montamos e estreamos
o espetáculo “Velhos caem do céu como canivetes”, mantivemos nosso repertório
em temporada regular, ofertamos diversas oficinas, debates, visitas guiadas e
um seminário com Gilberto Freire de Santana, Dyl Pires e André Lisboa. Ainda
abrimos as portas para produções externas, e recebemos os espetáculos “Para uma
avenca partindo”, “A escrita do Deus”, “As 3 fiandeiras”, a performance “Ocupa
Árvore”, a palestra “Ser indígena hoje em contexto urbano”, a roda de conversa
com Gero Camilo, a Mostra SESC Guajajara de Artes, a Conexão Teatro, a Semana
do Teatro no Maranhão, o Festival Ponto de Vista/UFMA, A Feira do Livro de São
Luís, o lançamento da revista Palavra, os intercâmbios com o Coletivo Alfenim,
a Cia. A Máscara, os Clowns de Shakespeare, o Patuanú, o Tibanaré, a Cia. Pão
Doce, A Outra Cia. de Teatro (na verdade, esta nos deve a visita, nós é que
fomos lá), a oficina literária de Marcelino Freire, e tudo aquilo que por aqui
passou e você não viu.
Também aqui,
neste blog, a história da Pequena Companhia de Teatro foi sendo construída;
foram 525 publicações, 1283 comentários de assíduos ausentes leitores, e
milhares de visualizações, em mais de 6 anos de ininterrupta reflexão sobre o
teatro e seu entorno, o mundo. Você, confidente leitor, atenta leitora, foram
testemunhas das dores e dos sabores dessa jornada hercúlea, a de se fazer
teatro no Maranhão e fazê-lo reverberar além das suas fronteiras.
Para mim, sem
sombra de dúvida, foram os melhores dez anos da minha vida. Katia, Jorge e
Cláudio, obrigado. No agradecimento aos três sintetizo minha gratidão a todos
os atores que ajudaram a consolidar a nossa caminhada, apoiando, assistindo,
comemorando, participando, criticando, patrocinando, aplaudindo, conversando,
ignorando, refletindo, jantando, ensinando, torcendo, brigando, convivendo,
saboreando. Obrigado!