Contam
que o Rei Alexandre, ao ser inquirido pelo filósofo Aristóteles com a pergunta
“– O que queres ser quando crescer?”, teria respondido, num rompante
premonitório, “– Quero ser Grande!”. Claro que a anedota foi inventada por mim,
e o trocadilho infame é mero preâmbulo para dar consistência histórica à tese
que a seguir desenvolvo, pois depende da sua atenção para que não se torne lixo
eletrônico.
A
grande pergunta da vida é: o que você quer ser quando crescer? Agora, o caro
leitor, pensa-me caçoador, mas não brinco; a mais importante resposta que um
ser vivente deve se responder antes de morrer é: o que é mesmo que eu quero
ser? A resposta a essa pergunta pode ser dada na infância, na juventude. Contudo,
a grande maioria das pessoas só consegue respondê-la na maturidade e outras,
passam a vida sem encontrar a resposta.
A
fortuna contida nessa resposta, quando elucidada a tempo de poder prosseguir
por um resquício de vida, consolida o foco de toda uma conduta e,
concomitantemente, aguça a construção de um futuro para essa vida, a partir de
ações presentes capitaneadas pela objetividade oferecida pela resposta.
Para
dar generalidade à tese, usarei como exemplo uma vida qualquer: a minha. Quando
consegui responder que queria ser um encenador, fazer teatro, ser um homem
de teatro – isso aconteceu no século passado –, antepararam-se, na minha
trajetória, toda sorte de enlaces que desviariam minha caminhada e afetariam o
futuro, que é meu presente hoje.
Ao
recusar os vários convites para ser diretor do Teatro Arthur Azevedo (não se
espantem, o primeiro ocorreu há mais de uma década), se aparentemente eu
desprezava uma oportunidade única, o envolvimento com essa jornada me levaria,
no mínimo, três ou quatro anos de serviço público e, consequentemente,
amortizaria a atenção dada ao que considerava o principal projeto da minha
vida, e que hoje atende pela alcunha de Pequena Companhia de Teatro.
Ao
responder à pergunta do milhão, também respondia que não desejava ser
funcionário público. As coisas são excludentes? Não. Contudo, temos de convir
que a divisão de foco e atenção tendem a modorrar uma ou outra opção, alargando
o tempo necessário para a conquista dos dois objetivos. Ao responder à pergunta
a tempo, eu concentrei esforços, e jamais me afligiram o músico que não fui, o
jogador que ficou, o chef que não cozinhou, o poeta que não publicou, o
motorista de ônibus que não dirigiu – sim, na infância, quando inquirido com a
peremptória pergunta, eu respondia: Quero ser jogador de futebol e motorista de
ônibus.
Toda
essa pluralidade, contida em qualquer ser humano inquieto, permaneceu e foi
exercitada como instrumento de aperfeiçoamento do meu oficio – ser encenador –,
mesmo as atividades que aparentemente não tivessem maior relação, como o
motorista que sou nas viagens da Pequena Companhia de Teatro pelo país afora.
Entretanto, não absorveram maior tempo que o necessário a qualquer atividade
paralela, imprescindível para a distração, o entretenimento, o relaxamento.
Ao
me apresentar como cobaia, ofereço uma alternativa de reflexão sobre o quanto o
permanente titubeio pode ser lesivo para a nossa passagem pela vida, tendo em
conta que o que fazemos é mero passatempo de existência, até chegar o momento
de poder responder à segunda e derradeira pergunta mais importante: o que fiz
da minha vida?