domingo, 5 de julho de 2015

O poder do repertório


O maior patrimônio de um grupo de teatro é o seu repertório. Ele multiplica, triplica, quadruplica o alcance das suas ações, dependendo do óbvio cálculo matemático, se um, dois, três, ou quatro espetáculos compõem o seu capital cênico.

Ano passado, enquanto estávamos na XVI Mostra SESC Cariri de Cultura, com “Pai & Filho”, o cenário de “Velhos caem do céu como canivetes” viajava para o 9º FENTEPIRA – Festival Nacional de Teatro de Piracicaba. A MITPB – Mostra Internacional de Teatro Paraíba em Cena exclui espetáculos que tenhas se apresentado no estado da Paraíba: impossibilidade para “Pai & Filho”, que ocupará o Centro Cultural BNB de Sousa/PB, em agosto, mas livre para “Velhos caem do céu como canivetes”, que participará da mostra em outubro. Et cætera.

Também, do seu repertório, surgem novas atividades formativas demandadas pelas necessidades apresentadas na construção de uma nova encenação, mesmo que a metodologia seja a mesma, pois, um novo espetáculo não se enquadra, não se enjaula, não se prende; algo novo sempre nos toma de assalto.

Palestras, oficinas, vivencias, workshops, são frutos de uma nova experiência cênica, e enlanguescem a emissão de conteúdo provindo da encenação em questão, despertando novos interesses, diferentes olhares e maior particularidade no aprofundamento de suas reflexões.

Essa pluralidade potencializa o retorno econômico, fundamental para a manutenção de uma pesquisa teatral continuada, sem a necessidade de dispersar tempo criativo com outras ocupações profissionais, tão comuns aos fazedores de teatro do Maranhão.

A gênese da solução para evitar essa equação adversa é investir no repertório. Claro que, para capitalizar esse retorno, a necessidade do grupo conter elenco estável é basilar. Também, a qualidade, versatilidade e pluralidade desse elenco. Sem um mínimo de dois desses atributos não vejo possibilidade de capitalização.

O difícil é manter o foco, não desviar a atenção, não se seduzir por resultados imediatos, não ceder a pressões externas, avaliar a empolgação, analisar se decisões intempestivas ou entusiasmadas tomadas hoje não comprometem o desenvolvimento do coletivo amanhã.

Foram as nossas decisões no decorrer dos últimos dez anos, focada nesse princípio básico, que possibilitaram a sobrevivência e subsistência dos membros da Pequena Companhia de Teatro até hoje. Não fosse assim, seria impossível ter resistido a anos de crise como o de 2009, com sua fatídica conjuntura político-financeira.

7 comentários:

Rodrigo França disse...

Lúcido!
Rápido e limpo como um samurai! Rsrsrs

Piahuy: Estúdio das Artes disse...

Muito oportuno. A dificuldade da manutenção de elencos estáveis é um problema de difícil solução. A troca de um ator em um trabalho demanda tempo, desgasta e existem percas consideráveis no produto final.

Marcelo Flecha disse...

Rodrigo! Você estava sumido... Cheguei a pensar no pior! (risos) É, Adriano (imagino que seja você), mudanças de elenco são desastrosas... Por isso é fundamental analisar o grau de afinidade na construção de um grupo. Levamos cinco anos nessa construção e outros cinco fruindo dos resultados. É fundamental não agir intempestivamente, e apostar a longo prazo. Abraço, aos dois!

festluso disse...

Prezado Marcelo,
Tentamos por anos manter este repertório mais por muitas das vezes fomos atraídos pelos "resultados imediatos", "as pressões externas" e "decisões intempestivas". Estamos com dois espetáculos agora e vamos mais vez tentar não cair nas tentações...Evoé!

Marcelo Flecha disse...

Feliz com essa decisão, amigo Pellé! Sempre torcendo para o fortalecimento desse histórico Harém, peça fundamental do teatro nordestino! Saudade de você, meu velho amigo!

Anônimo disse...

Durante minha pesquisa de mono quase desisti de falar sobre o chamado "teatro de pesquisa" pq não chegava a uma duzia o número de companhias com elencos estáveis, uma das características principais dessa modalidade de teatro... Foi isso que me fez mudar o foco, e acabei falando só de uma figura desse emaranhado - o diretor.

Beijos, Marcelo :*

Anônimo disse...

Não chegava a uma dúzia aqui no MA*