domingo, 8 de fevereiro de 2015

Ler & Escrever


O exercício de escrever semanalmente requer disciplina, opinião, inventividade e coragem. O exercício de ler semanalmente o que o amigo escreveu requer paciência, generosidade e disposição. Ler e escrever são gumes da mesma faca. Opostos, se encontram em ações complementares. Enquanto o cursor corre formalizando a opinião, o olhar corre redimensionando o conceito. Escrevo porque algumas coisas me são urgentes, e não conseguem esperar o próximo espetáculo. Porém, também escrevo porque não há mais nada para dizer. Claro está que o valor das opiniões que aqui expresso não superam a simples desnecessidade de escrever. Quando Jorge sugeriu este espaço – vão-se cinco anos de insistência – eu conjecturava solitário tudo aquilo que agora aqui despejo, e permaneço só, munido da ilusão de que algum leitor ainda exista, porque sozinho está aquele que se arriscou e pegou uma caneta pela primeira vez. Escrevinhando. Um escritor é um amontoado de poemas. Um escritor é um emaranhado de romances. Um escritor é um labirinto de contos, ensaios, crônicas, a esconder aquela palavra maldita capaz de sintetizar a linguagem e fazê-lo calar. Se a vida é o desencontro do todo com o nada, a existência do escritor só se justifica se for para falar do nada e escrever de tudo. É o que faço hoje aqui, escrevo; sem conteúdo, sem coesão, mas com a coerência de quem acredita no que escreve, porque vêm do rascunho da minha vida as experiências que transformo em texto. Ao encontrar um leitor, esse texto se renova na experiência do outro, e a trivialidade das palavras escritas ganham cor, uma a uma, pintadas pelos olhos de quem lê, num mosaico multicor único e exclusivo daquele leitor, naquele momento, com aquele texto. Experiência intransferível. Cores inimagináveis. Ler e escrever são como unha e carne, se separadas, sangram. Ao conseguir sua atenção até aqui, torno-me afortunado, porque você já percebeu que hoje trato de algo sem dizer nada, e, ainda assim, você está aqui, atendendo ao meu convite: deslizar o olhar pelas frases que compõem um texto. É um dos meus mais caros desafios: garimpar leitores. Por isso me causa espanto uma expressão utilizada em blogs e redes sociais: seguidores. Eu não tenho seguidores, tenho perseguidos.

17 comentários:

Unknown disse...

Agora já tem um leitor!

Marcelo Flecha disse...

Então é você, Thardelly? Sabia que tinha algum escondido por aí!

Anônimo disse...

Dos textos que sem dizer nada, tudo dizem. Persiga-nos!

Jacqueline Lemos disse...

"Metalingüe-se", e lamba os beiços! Você pode. E deve... pois o prazer do poeta se confunde à sua sina e sua escrita é tanto o meio quanto o fim, mas nunca sem sua metade, o leitor. É carma e bênção... Obrigação!Das que se cumprem de bom grado. Por isso - Insista, persista, resista,escreva. Persiga sempre - A letra e o lido. e multicolorida-mente. Bravo!

Marcelo Flecha disse...

Rute, Jacqueline! Se que a generosidade de vocês, provocada pela minha insistência, não provocaria sentenças falsas, portanto, obrigado!

Unknown disse...

Perseguida? kkkkkk. Seu rascunho é fascinante. Ler suas palavras sempre uma viagem ao seu íntimo . Escrever para você um grande desafio. Eis um sábio, um querido e amado professor Adoro sua perseguição... Eu deixo...Mas mesmo se não deixasse você não desistiria, não é? kkkkkkk

Rosa Ewerton Jara disse...

Eis a melhor maneira de ser perseguida. Portanto, siga, Flecha. De olho em você, sempre.

Marcelo Flecha disse...

Jamais desistiria, Luciana! Principalmente de você! Rosa! Às vezes penso que você não está por aí, e você vem e me surpreende. Apareça sempre!

Marcelo Flecha disse...

Luciana Reis disse:
“Que doce perseguição... Veja - vi como chamou no texto já no fim, portanto foi lida, sim, seu cabra! Tens ressonância em tudo que vens escrevendo. Comigo ocorre de ficar meio que pasmada no meio do cotidiano limitador com as reflexões que provocas, pois tua prosa é vertiginosa. Muito gostoso de ler.Vc diz que nos persegue, ok. Mas na verdade cada texto teu mostra o diálogo ininterrupto que tens com as tuas perseguidoras: a palavra e a idéia (com acento por protesto). Muito bom de se ver. Tua escrita provoca visões. Não leio. Vejo. Continue sempre”.

Unknown disse...

Arrancando leituras e casando experiências... Sinta-se perseguido!

Marcelo Flecha disse...

Olha a Carla Purcina aí, gente!

Fernando Yamamoto disse...

Não posso negar que sou muito mais perseguido que leitor!!! Hehehehehe... Mas como agora estou experimentando a outra face da moeda, confesso que te entendo melhor e saio da inércia preguiçosa com muito menos esforço pra vir compartilhar das tuas reflexões. Abraço!!!!!

14ª Aldeia Sesc Guajajara de Artes disse...

Marcelo,

Concordo quando escreves que este ato exige paciência. E especialmente hoje
essas palavras precisavam chegar mesmo até mim. E nesse momento que seu papel vai além da disciplina e obrigatoriedade. Reafirmo que o amontoado de suas palavras hoje soam como um poema e obrigado por me perseguir com suas postagens.

Abraços

isoneth.sesccultura@gmail.com disse...

Marcelo,

Concordo quando escreves que este ato exige paciência. E especialmente hoje
essas palavras precisavam chegar mesmo até mim. E nesse momento que seu papel vai além da disciplina e obrigatoriedade. Reafirmo que o amontoado de suas palavras hoje soam como um poema e obrigado por me perseguir com suas postagens.

Abraços

Marcelo Flecha disse...

Fernando! Dirigir é brincadeira, se comparado a essa vida de blogueiro, não? Isoneth, querida! Quanto tempo! Que gostoso saber que você está do outro lado do texto. Não me abandone!

Anônimo disse...

Acabei de me tornar um seguidor do blog.

Marcelo Flecha disse...

(risos) esse Hamilton é um gaiato.