Como estabelecer uma relação de comprometimento com a atividade
artística e seu foco de reflexão, sem deixar que interesses econômicos
comprometam seus resultados estéticos e dialéticos? O exercício artístico
profissional transita por campos imponderados que vão além da arte, e a
necessidade de extrair desse exercício o sustento para viver, pode
ser uma armadilha ardilosamente perigosa. Para o artista profissional, se faz
necessário um policiamento permanente, para que mudanças de rumo na carreira, e
na forma e conteúdo das suas obras, não sejam justificadas por babéis argumentativas,
servindo apenas para dissimular um notório descomprometimento com a sua arte,
em prol do mercado. Nesse caso – se percebida a influência econômica no
conteúdo programático do seu processo, na organicidade da sua prática, no
resultado da sua obra – recomenda-se o desvinculo profissional, para não
comprometer seus resultados artísticos. A mudança de fonte de renda, buscando a
independência financeira através de outras atividades, pode proteger o artista,
desprendendo-o da falha argumentação da necessidade de se adequar ao mercado,
pois, muitas manifestações artísticas, são impassíveis de adequação – conforme
problematiza o fragmento de um manifesto nunca publicado, que utilizo aqui para
concluir:
“[...]
o teatro experimental, de pesquisa, de vanguarda, marginal, laboratorial,
impopular – ou como queiram chamar o teatro que não busca apenas o
entretenimento (Dicionário do Teatro Brasileiro/J. Guinsburg) – é dínamo
incansável para o desenvolvimento sociocultural e artístico de sua época. Esta
opção artística não é compatível com as leis de mercado [...] por não objetivar
o lucro como resultado final, e sim o questionamento, a revisão ou a transgressão
dos valores sociais, políticos, estéticos e culturais da sociedade onde se
manifesta.
Obra
de arte não é produto – afirmação herética para os liberais de plantão.
Torna-se produto dependendo de uma série de fatores e circunstâncias que
dialoguem com o mercado vigente.
Se
uma obra, posteriormente à sua criação, polariza opiniões, acaba afugentando os
investimentos que tem por prática valorizar o consenso. Porém, uma obra digna
não deve abrir concessões no momento da formulação do seu dizer: está aí o
paradigma que incompatibiliza obra de arte e mercado [...].”
Ofereço
o pano para a manga. Traga a agulha e a linha.