Velhos Caem do Céu Como Canivetes, espetáculo de excessos e de difícil
assimilação
Por Alexandre Mate
Drummond manifesta em seu belo poema O Lutador que haveria palavras
dentro dele buscando canal: prontas para explodir. Criadores teatrais — como
vulcões em estados próximos à erupção —, aliado às palavras, teriam, além
destas, imagens, deslocamentos e desenhos no espaço cênico, efeitos de diversas
naturezas, músicas e sonoridades em momentos distintos... A linguagem teatral é
complexa e a eclosão de seu fenômeno ocorre durante o espetáculo. Antes e
depois disso, o que se tem são idealizações e tentativas de explicitação.
A Pequena Companhia de Teatro, de São Luís (MA), e cujo trabalho
anterior foi o pungente Pai e Filho, apresentou seu último trabalho no Teatro
do Sesi, de Piracicaba (SP), durante a nona edição do Fentepira. A obra, toma
como referência um conto de Gabriel García Márquez que, de modo bastante
sucinto, apresenta os diálogos entre um anjo “caído” e um homem apartado do
mundo. Tal situação, característica dos embates e choques entre seres de
contextos absolutamente distintos, tem como cenário uma paisagem devastada
(repleta de lixo reaproveitado e transformado em “obras de arte”) e lotada de
objetos heteróclitos.
Feito máquinas, as duas personagens falam sem pausa e de modo
ininterrupto. Sem pausa, e como condenado ao movimento constante, o ser que
habita a paisagem catastrófica, parece um descendente de Sísifo (ele não
descansa nunca, e parece condenado aos movimentos sem sentido).
Sem tempo para a reflexão do espectador, os efeitos se somam e vêm aos
borbotões. Gilberto Gil lembra em versos de música famosa algo como em um copo
vazio haveria uma plenitude de ar. Velhos Caem... precisaria, talvez, a partir
de tal preceito, conferir tempo para que o público (razão de ser do espetáculo)
pudesse decodificar a pluralidade de tantos símbolos.
Portanto, pausas e ralentamentos quanto ao discurso excessivo (texto,
adereços, movimentações...) tenderiam a ajudar na fruição de pequenas belezas
não percebidas pelo excesso.
*Velhos Caem do Céu Como Canivetes foi apresentado no domingo, dentro da
mostra oficial do 9º Fentepira
Um comentário:
Respeito o Mate, sei de seu cacife, mas levei quatro pessoas pra ver o espetáculo e discordo de que ele não oferece tempo para que o espectador o assimile, reflita sobre ele. É evidente que imediato há uma gama de símbolos bem intensa a ser decodificada, e que o espectador vai acessar dependendo de suas experiências. Mas nenhum espetáculo é feito para uma reflexão unicamente imediata. Vou ver de novo e levar outras pessoas. Seguimos conversando? Um abraço!
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