domingo, 5 de outubro de 2014

R.S.V.P.

A expectativa
A nova sede da Pequena Companhia de Teatro forjou uma prática que venho exercitando desde o ano passado, buscando atrair espectadores para as temporadas dos nossos espetáculos. Trata-se de um convite personalizado que faço, via caixa de diálogo, em diversas redes sociais, provocando o espectador a vir nos ver. O fato seria banal, não fosse o comentário da Cris Campos, provocador desta reflexão. Segundo ela, essa minha indelicada atitude, “foi fundamental, não para eu ir, mas para ir diferente”, e completa, “quando a gente gosta muito de algo que fizemos, que consideramos bacana, interessante de ser compartilhado, a gente faz questão de que seja de fato compartilhado, né? Não é só um flyer, é um convite pessoal, semanal e desejoso. E isso é muito bom. Para mim, me trouxe a expetativa de ir, de trocar, de absorver, de ir desarmada para receber o que o universo, daquele instante, queria que eu vivesse”. Quando digo “indelicada atitude”, é porque, as mensagens que envio, normalmente têm um tom provocativo, ora ácido, ora irônico, ora jocoso, brincando com a ideia de que você curte teatro, mas não frequenta. Naturalmente, meu atrevimento fazia com que eu imaginasse certo constrangimento do destinatário da missiva, um espectador sendo cobrando no mais íntimo de todos os meios modernos: a mensagem in box. O que eu não imaginava era que, alguns espectadores, iriam perceber o subtexto que ali deixo, e que a Cris, delicadamente, percebeu: a pessoalidade. Sim, o que eu digo em cada uma dessas mensagens é da importância pessoal e intransferível de que você veja o espetáculo. Do importante que é, para mim, que você veja este ou aquele espetáculo. A pessoalidade aqui, busca a quebra desse espectador genérico, anônimo, insípido, e procura percebê-lo como ser individual, pessoal, possuidor de uma opinião tão diversa e particular que faz com que a cor seja vista descolorida pelo espectador ao lado. Se minhas mensagens não chegam mais, é porque desisti de você, ou porque o constrangimento agora é meu. Se nunca chegaram, é porque minha educação é inversamente proporcional à nossa intimidade. Você deve se perguntar por que ultimamente tenho insistindo tanto no tema espectador. Acontece que sou de um tempo e de um espaço onde o espectador não existia. Fazíamos teatro para ninguém, literalmente. Hoje, esse precioso indivíduo, se apresenta para o diálogo, e, como não tenho muito traquejo para lidar com ele, vou construindo essa conversa com a sensibilidade de um cavalo. Por tanto, se receber uma mensagem, sinta-se acariciado, mesmo que seja com um coice.
 
O resultado
P.S.: Amanhã tem Pai & Filho, não vai ficar esperando minha mensagem. Vai?

5 comentários:

Cris Campos disse...

Menino, e eu que já levei coices e tapas da vida assistindo espetáculos?
E a sensação de que aquilo que via era pra mim?
Viva o peito aberto e a capacidade de compreender que somos grãos de um gigantesco universo e que a conexão pode ser perene.
;)

Alberto Júnior disse...

cavalo não, um bode argentino, daqueles que gostam de maçonaria e um bom vinho, rs, martelo-flecha.

Marcelo Flecha disse...

Senhora. Senhor. Seus comentários são o elixir deste teimoso cronista da tragédia humana.

Rute Ferreira disse...

Recebi um desses convites, hahaha. Me senti tão "pequena espectadora", foi tão legal ^^ hahaha
Abraço, Marcelo!

Marcelo Flecha disse...

Mas é muito VIP!