domingo, 25 de maio de 2014

O prazer de ser autônomo

Hoje acordei às 6h10 da manhã – os poucos que conhecem minha rotina sabem o quanto isso é improvável. Levantei e fui trabalhar. De casa ao trabalho são dois lances de escadas, para cima ou para baixo. Trabalhei. Quando o relógio mecânico marcava 8h20, o biológico anunciou que o meu sono voltara. Fiz o trajeto de vinda e voltei para a cama. Simples assim. Não há nada mais delicioso que a autonomia de trabalhar, acordar, comer, namorar, dormir, correr, em qualquer ordem, hora ou dia. Foi a arte que me proporcionou esse privilégio. O teatro. Enquanto fazia algo do que fiz enquanto acordado, pensava no quão romântico continuo sendo. Faço teatro porque gosto. A única motivação que me levou a traçar a minha trajetória foi gostar de fazer o que faço. Se em algum momento da vida tivesse pensado em sobrevivência, o teatro teria me largado. Irresponsavelmente, nunca pensei no que é necessário para viver: livros, comida, água, roupa, luz, telefone, yerba, internet. Tudo sempre veio a reboque de um desejo, de uma vontade, de uma necessidade de expressão que só encontrava guarida no teatro. Irresponsavelmente romântico. Nem o tempo, que promove aquele implacável vergamento do ser, fazendo-o observar atento o chão que pisa sem poder alçar o voo libertário em busca do céu, conseguiu aplacar essa irresponsabilidade. Um romântico irresponsável. Um homem nessa condição não tem direito de protestar – se esse homem só enxerga seu umbigo e não vê a miséria que o circunda. A propósito, Velhos caem do céu como canivetes trata dessa miséria que você finge não ver. Não quer dar pelo menos uma espiadinha? Segunda-feira tem apresentação, às 19h, em uma Pequena Companhia de Teatro perto de você – e bem mais perto de mim.

P.S.: E antes que algum gaiato venha contestar qualquer coisa que eu tenha dito ou contradito, não se esqueçam do principal: eu sou uma ficção.

São Luís, 23.05.2014 – 13h10



7 comentários:

Aleksandro Silva disse...

Nossa, após a leitura desse post recobrei todo o ânimo que faltava para continuar, obrigado Marcelo.

Unknown disse...

...E um exemplo. Evoé!

Marcelo Flecha disse...

Obrigado, Aleksandro, Jacqueline! Apareção mais vezes por aqui.

Marthefran disse...

Adorei assistir (ou melhor: participar desse espetáculo já que eu estava a poucos centímetros dos atores). sua temática bastante realística nos convida para dentro da peça. Envolvente demais. Parabéns, espero poder ter o privilégio de assistir outras.

Unknown disse...

Você como sempre surpreendente! Ficção? Naõ creio! Pra mim uma realidade viva e pulsante desde o nosso primeiro contato em 2005. Romântico? Sim! Se você não existisse o que seria de nós homens, mulheres, crianças...rsrsrsrs! Amo! Saudade e mais uma vez parabéns pelo Projeto Teatralidades que com certeza segunda etapa já está no forno, não é? Xerim de manjericão

Unknown disse...

Esse texto me emocionou e me encorajou a seguir rumos aos meus mais nobres sonhos. Obrigado por despertar essa vontade em mim.

Marcelo Flecha disse...

Martherfran, Luciana, Hudson! Obrigado pelas palavras!