Fazer
teatro é fazer política. É entender e questionar, ao mesmo tempo, o mundo em
que se vive, seus abismos e fronteiras. Sim, porque se não há um abismo que
impeça nossa passagem haverá uma fronteira para nos impedir. O teatro não deve
pedir passagem, ele deve arrombar as porteiras e destruir os muros da
intolerância, do preconceito, da pasteurização, da condescendência com a
mediocridade, do cinismo, da desilusão. Veja que o verbo usado é “dever”, e
não “poder”. O teatro não pode se dar ao
luxo de escolher se agora ou daqui a pouco, ele deve ser sempre o instrumento
transgressor que todo conservador abomina. Estou cansado de ver o teatro ser
usado como instrumento multiplicador dessas mesmas coisas que deveria combater. Política. Mesmo que você não
saiba, se você está fazendo teatro está fazendo política. Está tomando uma
posição, mesmo sem saber. Está construindo ou destruindo, mesmo sem ter
consciência disso. Se você faz teatro você está dizendo se a miséria é uma
provação de deus ou se é escrotidão humana. Se você faz teatro você está dizendo
se homo sapiens, homossexual, homonímia ou homofóbico. Se você faz teatro você
está marcando um posicionamento perante a sociedade, desqualificando o
inqualificável ou desobedecendo a métrica. Se você faz teatro você está, mesmo
que não tenha o menor conhecimento disso, discutindo religião, arte, futebol, gênero,
economia, opressão ou o sexo dos anjos. Portanto, tenha mais cuidado com a
forma como você trata o teatro.
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3 comentários:
Passei e gostei.. vou compartilhar o texto..
:]
De acordo, Marcelo. É uma ótima declaração de princípios. Daí, o que significa cada um destes termos para cada artista em particular é que são elas... Porque podem cair bem tanto a um formalista quanto a um artista "engagé"... De todo modo, estou contigo, tb acho que ´- no mínimo - se deva começar por aí. Aquele abraço!
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