domingo, 16 de junho de 2013

Manifesto antropomórfico

 

Fazer teatro é fazer política. É entender e questionar, ao mesmo tempo, o mundo em que se vive, seus abismos e fronteiras. Sim, porque se não há um abismo que impeça nossa passagem haverá uma fronteira para nos impedir. O teatro não deve pedir passagem, ele deve arrombar as porteiras e destruir os muros da intolerância, do preconceito, da pasteurização, da condescendência com a mediocridade, do cinismo, da desilusão. Veja que o verbo usado é “dever”, e não “poder”. O teatro não pode se dar ao luxo de escolher se agora ou daqui a pouco, ele deve ser sempre o instrumento transgressor que todo conservador abomina. Estou cansado de ver o teatro ser usado como instrumento multiplicador dessas mesmas coisas que deveria combater. Política. Mesmo que você não saiba, se você está fazendo teatro está fazendo política. Está tomando uma posição, mesmo sem saber. Está construindo ou destruindo, mesmo sem ter consciência disso. Se você faz teatro você está dizendo se a miséria é uma provação de deus ou se é escrotidão humana. Se você faz teatro você está dizendo se homo sapiens, homossexual, homonímia ou homofóbico. Se você faz teatro você está marcando um posicionamento perante a sociedade, desqualificando o inqualificável ou desobedecendo a métrica. Se você faz teatro você está, mesmo que não tenha o menor conhecimento disso, discutindo religião, arte, futebol, gênero, economia, opressão ou o sexo dos anjos. Portanto, tenha mais cuidado com a forma como você trata o teatro.

3 comentários:

festluso disse...

Passei e gostei.. vou compartilhar o texto..

Anônimo disse...

:]

Kil Abreu disse...

De acordo, Marcelo. É uma ótima declaração de princípios. Daí, o que significa cada um destes termos para cada artista em particular é que são elas... Porque podem cair bem tanto a um formalista quanto a um artista "engagé"... De todo modo, estou contigo, tb acho que ´- no mínimo - se deva começar por aí. Aquele abraço!