quinta-feira, 30 de maio de 2013

Somos um grupo

Foto de Marcelo Flecha
Velhos caem do céu como canivetes é meu terceiro espetáculo na Pequena Companhia de Teatro. Antes Pai & Filho e Entrelaços. Todos utilizando o Quadro de Antagônicos como procedimento metodológico na preparação dos atores para a construção da personagem. 

Na bagagem esses espetáculos e o corpo. À frente outro. 

Grupos de pesquisa são surpreendentes, pois exigem esforço e tempo para comprovar hipóteses. E sempre estamos em processo, questionando o nosso fazer, testando as alternativas, pondo-nos à prova. O prazer só reside enquanto houver busca, foco, apreço, desejo, gosto. Estamos assim, nos encontrando diariamente para redescobrirmos nosso fazer. Amigos não caem do céu como canivetes.

domingo, 26 de maio de 2013

Velhos e a nova sede



A montagem de Velhos Caem do Céu como Canivetes está no seu 39° ensaio. Minha ausência do blog nada tem a ver com isso, ao contrário, queria estar postando desde o primeiro dia, porém, a Oi, empresa responsável pela transferência do antigo telefone/internet para a nova sede/residência, precisou de dois meses e dez dias para efetuar uma simples mudança de endereço. Paciência. Na vossa ausência – são vossas vozes que habitam meu imaginário enquanto escrevo cada postagem – gozei mais que sofri. Um novo espetáculo oxigena o velho artista. As dores trazidas pela montagem nunca machucam a alma, apenas chamuscam o corpo. Estar em processo é sentir-se útil, porque o que fazemos transgride a pretensa inutilidade da arte. A montagem caminha a passos largos e serenos, diferentemente de outros processos, quando a dependência de espaços alugados para ensaios e apresentações destoava do tempo demandado pela cena. Agora, com casa própria, tudo funciona melhor mesmo quando não funciona. Uma engrenagem azeitada que contempla a prática na sala de ensaio, a teoria no espaço de vivências, a construção no atelier, os testes no palco, a produção no escritório. Tudo ao mesmo tempo e no mesmo espaço, como se entrássemos na Fita de Moebius, em movimento infinito, até envelhecermos, decrépitos e unidos por um abraço de celebração que revelará um amontoado de ossos fragilizados. Velhos, aplicando o Quadro de A(nta)gônicos, esperando o fim. Ilusão? Delírio? Sonhar não custa nada. Só custa para aquele que ouve ou lê o sonho.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O processo criativo

Cada processo é diferente do seu anterior, mesmo que a Pequena Companhia de Teatro tenha um único procedimento metodológico para as suas montagens. É que atores são humanos e cheios de manias. Tem dias que estamos mais receptivos e outros nem tanto. Dias bons e ruins que fazem com que percebamos a transitoriedade das acertivas. Muitas variáveis. É que teatro é arte e não ciência. Muitos humores e o corpo reage como quer, como o organismo manda. E tentamos arduamente acreditar que corpo e voz não são dissociados e ao mesmo tempo queremos dissociar a racionalidade da subjetividade. Repetir algo de um dia para o outro é pedir que os atores em processo refaçam o gelo que derreteu. Tudo é muito volátil. A sensação de ausência, de cansaço, de quase desespero é angustiante e ao mesmo tempo enternecedora. Vá entender...

domingo, 12 de maio de 2013

E começa a diversão

Foto de André Lucap
Antagônicos são assim: alguns gostamos e outros nem tanto. Uns funcionam para alguns fluxos de energia e não se solidificam a partir de outras necessidades. A determinação se estabelece nas escolhas do ator. Estamos nesta fase, de fazer opções, jogar com elas e perceber a que mais se afina. Entendo por afinar  a satisfação do ator em estar no jogo com a personagem e que ela se sinta confortável com o perfil escolhido a ponto de correr, saltar, cair, levantar, dialogar. O jogo é este: perceber quais os caminhos a serem seguidos para a composição da personagem. Nessa semana começamos a experimentar 8 antagônicos de um total de 16 (eram 18, mas isso é uma outra história). Estamos abertos ao descarte a partir daí, de forma mais individual, pois o anterior foi em conjunto (eu e Jorge, no mesmo dia, e a mesma quantidade de antagônicos). Agora o ritmar se estabelece um pouco mais individualizado. Eu, por exemplo, já descartaria mais 4, para ficar com os 4 que eu mais me senti atraído para esta montagem. Entretanto, acho meio imaturo excluir quatro em uma única passada mais consistente. Vou me ater a deletar dois deles, ficando com 6 para jogar esta semana. O processo é cansativo, produtivo, divertido, prazeroso. Uma mistura de sensações entre o desejo de não ir e o prazer que querer ficar. Extremos. Sinto-me brindado.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Descarte

E começamos a descartar os antagônicos que não nos apetece para a composição das personagens. No processo anterior era momento de crise, pois o tempo, naquela época, para mim, não era o suficiente para sentenciar a exclusão. Neste processo o procedimento metodológico do Quadro de Antagônicos se mostra mais claro no aspecto da experimentação, o que me fez jogar mais, perceber outras possibilidades, tanto na parte pré-expressiva como agora, onde a expressividade se faz presente. Paralelo aos ensaios, fazer com que o texto seja decorado, página a página, diariamente, tem estado na pauta. Sempre grasnei acerca de decorar textos. Este tempo está mais tranquilo, tudo se encaixando. Tento não pensar, racionalizar muito determinadas questões, principalmente antevendo resultados. Buscar deixar o corpo se encarregar do processo, de forma integral tem se tornado o lema diário dos ensaios.