quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Manifesto 2

A cada dia que passa estou fisicamente mais velho. Porém, internamente sou um ser que se compara ao fervor da adolescência, uma espécie de juventude tardia. Percebo em mim, mesmo com meus  44 anos, que não me identifico com quase nada e ao mesmo tempo com quase tudo. Percorro  espaços físico-geográficos aos borbotões, não me possibilitando firmar-me neles. Minhas relações com pertencimento e territorialidade se comparam à minha identificação: sinto-me em busca, em processo. Assim, o publico e/ou as temáticas dos espetáculos ficaram, por muito tempo, em segundo plano. Faz-se hoje, imagino pela idade cronológica que carrego nos pés, uma mudança de postura, na perspectiva da minha necessidade;  não uma casinha no campo ao pé-da-serra, mas como eu me relaciono com o espaço em que vivo; o que me provoca nos ambientes e nas pessoas que habitam e coabitam comigo. Têm vida, mas não a minha. Devo imprimir com urina as grades do portão e o poste da esquina, não com o propósito de delimitar território, mas sim que ela também faça parte da ruela, do beco. Quero saber que as circunstâncias que envolvem a história dos espaços e das pessoas são frutos do meu respirar, do meu tocar, do sentir. Não que não seja, mas a sensação não se traduz. Imagino que a construção coletiva tenha um agridoce. O individual não se coaduna com esse sabor. Parece-me de uma monotonia...

domingo, 27 de janeiro de 2013

Efemeridade: teatro & vida


Em Buenos Aires, na década de noventa, tive a oportunidade de conhecer o bar El Chino. Local emblemático, onde se ouvia tango cantado ao vivo e sem amplificação por cantores que frequentavam o bar. Lugar genuíno, não havia sido preparado para o turismo, não pretendia ser cult, contudo, possuía uma atmosfera mágica, com dezenas de quadros superpostos e empoeirados, que faziam da visita uma experiência única. Com direito a cachorro debaixo da mesa e tango dançado em cima do balcão depois de recolhidos os quitutes, foi uma das mais significativas experiências que tive na vida.  Com a morte do proprietário – el chino – o espaço desapareceu e, na década passada, foi reaberto por um amigo, já sem a mística e com o aparato preparado para ser consumido por gringos. Quem viveu, viveu, quem não viveu, não viverá.

Assim é a vida, assim é o teatro. Efêmeros. Essa impalpabilidade é angustiante e provocadora. Fazer teatro é se oferecer à passagem do tempo e ao esquecimento. Hoje está amanhã não mais. Construir uma obra significativa poderá, no máximo, provocar alguns relatos, ficar no imaginário por um tempo ou servir como objeto de pesquisa, porém, essa trajetória, nunca será fixada na matéria, na concretude da pedra – lembrando que não considero o registro de teatro em vídeo uma opção capaz de capturar autenticamente a obra e sua ambiência. Fazer teatro é compreender a fugacidade da vida. Fazer teatro é saborear a caminhada sabendo que quando a cortina se fecha tudo acaba. Fazer teatro é entender o fim. Cinema, artes plásticas, arquitetura, música, literatura, são artes permanentes. Presunçosas. Perpetuam-se em livros, discos, película, prédios, quadros. Um contrassenso para com a efemeridade da existência. Somente o teatro é passageiro e insignificante como a vida. Quem viu, viu, quem não viu, não verá.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A arte de ator

Foto de Ayrton Valle
Teatro é assim: respiração. Corpo é significante e ao mesmo tempo significado. Existo, logo penso. 

Estou em processo de montagem do meu novo espetáculo-solo. Mas, independente disso, gosto de oxigenar o corpo para que ele não fique no meio do caminho, mesmo que eu estire um músculo é vá parar na Santa Casa de Misericórdia, caminhando, pensando ter quebrado o pé esquerdo. A vida é cheia de riscos e rabiscos. Tudo é tão urgente que meu temor é querer demais para um corpo de 45 (ou são 44?). Imagino-me mais descarado e pronto para as ruas. Talvez ilusão. O meu tempo é este que se mostra, e o prazer existe. Gostarei, certamente, do resultado de tudo isso, mas numa perspectiva de melhoria de técnica, de propósito, de humano. É que mesmo em grupo, o ser individual não se isola, não se exclui.

São Paulo é uma cidade muito pequena para mim.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Agenda 2013


Saíram as datas de Pai & Filho para o projeto Viagem Teatral do SESI. Serão 18 apresentações nas cidades paulistas de Mauá (20 e 21/07), São Bernardo (02 e 03/08), Osasco (10 e 11/08), Santos (17 e 18/08), Araraquara (14 e 15/09), Franca (21 e 22/09), Rio Claro (12 e 13/10), Marília (19 e 20/10) e Santo André (09 e 10/11). Com isso, conseguimos formatar a agenda básica da Pequena Companhia de Teatro para o ano. Dia 01 de abril iniciaremos os ensaios de Velhos caem do céu como canivetes, montagem contemplada com o Prêmio FUNARTE de Teatro Myriam Muniz, e do espetáculo solo de Cláudio, contemplado com o Prêmio FUNARTE Artes na Rua. Durante os processos de montagem, o espetáculo Pai & Filho permanecerá em temporada regular na nova sede, uma vez por semana, durante o primeiro semestre. Em junho, realizaremos as três oficinas do projeto A Ótica da Pequena, com patrocínio do programa BNB/BNDES de Cultura. Com estreia prevista para julho/agosto, o novo espetáculo permanecerá em cartaz na sede durante todo o segundo semestre, depois de concluir a estreia estadual que contempla os municípios de Balsas, Imperatriz, Caxias, Itapecuru-Mirim e São Luís. Até o início de abril, estaremos cuidando da logística, da burocracia, do esqueleto dramatúrgico e da reforma da sede – estes dois últimos estão a pleno vapor. Por último a mudança de sede e as outras mudanças: Crovis pra cá, nós (Katia-Katia e Marce) pra lá e Chu onde está. Espero que o tempo seja generoso conosco.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Teatro Colón

 
Para quem está em ritmo de férias e pretende passar uns dias na capital portenha, vai uma sugestão turística – este blog é cultura é diversão é entretenimento é reflexão. A dica é a visita ao Teatro Colón, uma das principais casas de ópera da América Latina. A visita guiada custa uns R$ 45,00 para turistas estrangeiros e contempla um passeio pelo foyer, salão nobre, corredores, plateia e lojinha – onde você encontra toda sorte de suvenires, desde aromatizador com essência de teatro a livros contando a história da casa. O defeito fica por conta da excursão não chegar até as oficinas de produção de figurinos, cenários e adereços, alocadas em subterrâneos que adentram a Avenida 9 de julho – dizem ser o principal atrativo. O palco é visto a distância, contudo, equipamentos e traquitanas só interessam a nós, ratos de teatro. A reflexão fica por conta da dicotomia entre ópera e teatro artesanal. De que maneira um pode contribuir com o outro. Trato disso na postagem intitulada Mudança radical. Como a dica hoje é turística, a reflexão fica por conta de quem quiser dar o clique e acessar a análise. As imagens são do templo. Bom passeio.
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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Aniversário




Sete de janeiro de 2013. Hoje completo quarenta e cinco anos. Diferentemente dos comentários que ouço quando alguém aniversaria, não passaram rápido. Muito menos voando. Passaram como tinham de passar. Os anos. Vivi dezesseis mil quatrocentos e vinte e cinco dias – não me dei ao trabalho de calcular os anos bissextos. Com a paciência de quem sabe que a vida é uma jornada para a morte, vivi cada dia – tampouco como se fosse o último – como a vida me os ofereceu. Sobre a pressa do tempo, só posso arbitrar que as horas passam mais vagarosamente que os dias. Já os anos, passam no tempo que devem passar. Comigo foram generosos. Deram-me mais do que pretendi. Faltam-me alguns. Espero que esses não corram, logo agora que estou onde sempre quis estar. Se forem justos, passarei a derradeira fase da vida vivendo, dia após dia, sem pressas ou demoras. Tudo ao seu tempo.

 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Entressafra


Não é só não fazer teatro, mas deixar de ver também. 

Nunca assisti a espetáculos teatrais às segundas-feiras. Será por causa da folga dos garçons que não há o que se ver no segundo dia da semana? Época de férias as pessoas viajam, dizem. Com isso adeus julho, dezembro, janeiro. Cada um tem uma espécie de suposição para nunca proporem teatro nessas épocas. "Dar um tempo" tem nome de férias. Férias de uns, focinho de outros. Um espaço/tempo de ócio extremo. Letargia beirando a morte. Jogos no computador, filmes assistidos - tanto em casa quanto nos cinemas. Parentes, aderentes, absorventes. Esse não sou eu. 

Estranho isso, um tempo para não ser você. É que tenho dificuldades em diferenciar os dias e os meses. Meu tempo/ritmo é só meu. Falta, acredito, uma reafirmação da individualidade das gentes. Preciso acreditar em mim antes de pensar nos outros. Em 2013 quero me apresentar às segundas-feiras. O público será só meu.