Estou propenso a crer que a verdade do
artista só se efetiva se falar daquilo que o sangra. Singrar por oceanos
embevecidos da própria vida. O olhar exterior, analítico, diz sobre a coisa,
mas não é a própria. Falar do que não nos toca pode ser útil, todavia, pouco
crível. Essa reflexão surgiu com a montagem de Pai & Filho e, hoje,
reverbera. Apesar da ficção, a obra se interliga nevralgicamente comigo. Em
Velhos caem do céu como canivetes a sensação se assemelha. Seremos, nós, os narradores? Indagava
Gilberto, no nosso último encontro. Suspeito que sim. Sempre (?). Mesmo sem
querer admitir, para parecermos mais inventivos. Não falo de (auto)
biografismos. Digo da sutil tessitura da escrita artística. Uma obra, mesmo que
arrancada das mãos, guarda as digitais do autor. Depois da obra lançada, o
artista pouco importa, contudo, engana-se o público ao acreditar na pureza da
ficção? Sempre recusei a comparação entre vida e obra, por estar na ficção o
fascínio da arte – apesar de a experiência artística sempre me oportunizar a
chance de pensar sobre. Não devia tocar no assunto, pois carece de uma reflexão
mais aguçada. Perdoem-me o hermetismo da abordagem, às vezes é inevitável... Reflexão
em processo.
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2 comentários:
Não raro, a arte suplanta a vida, pois, além de tudo, uma obra não é, por si, documental...
E não bastasse ser imaginada (imaginando-se) antes, por quem a realiza, é imaginada também depois, à mais, à menos, ou apenas outra, por quem a reorganiza no deleite de consumi-la...
Tocar no assunto é a pedra de toque de toda reflexão... vejamos o que virá por aí...
abraço
Sim, senhor!
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