Pego-me pensando acerca da medida do tempo e a precariedade da vida. Assim, o primeiro interfere, sobremodo, na segunda. Dito isso, o direito de surfar por entre ondas de calor sobre uma prancha de gelo sólido e firme é bendito, como o fruto. A multiplicidade de se redefinir não nos torna superficiais, voláteis ou inconstantes. Faz parte do ser, de todas as influências que permitimos e outras tantas que atravessam o corpo sem pedir licença. Evidente que as escolhas são nossas - nem tanto, diriam alguns. Porém, nada está consumado a não ser a vontade de experimentar sempre, perceber até aonde o corpo vai e que além das nuvens tem um infinito a ser desvelado. Não que isso me assuste, tão pouco tenho o desejo de voar, ir para o espaço sideral. O que reflito é sobre a rigidez que nos condena a ficarmos ilhados em um tempo que não o de hoje. A perfeição só se estabelece no campo das ideias, e temos que conviver com nossos fracassos e os dos outros, com a inflexibilidade de conceitos e de relações, quaisquer que sejam elas. É insuportável morrer. Pior é não viver. Sinto-me assim. De posse desse pensamento quero curtir o tempo para que ele se consolide a meu favor; que o teatro que acredito possa ser aquele feito por mim; que meus beijos sejam beijos com sabor e sem; que os sexos sejam rijos, flácidos, tântricos; que os olhos possam descortinar o óbvio - sempre e quase sempre; que as plateias sejam mais do que cadeiras vermelhas, podendo ser de outras cores e sons - aplausos, vaias... Essa percepção daquilo que se solidifica em mim deve ser para reafirmar o ser que acredito. Quero estar aberto às estações num Estado que inexiste além de duas e me sufocar com um sorriso ardente nos lábios, mesmo que esse esconda a insatisfação das rugas nada tardias.
quinta-feira, 28 de junho de 2012
domingo, 24 de junho de 2012
A realidade é pior que a queda
Se um ser de outra espécie caísse na
terra e visse que os homens deixam suas sobras para que outros homens se alimentem
delas, diria que a natureza da espécie humana é generosa. A verdade é que possuímos
mais do que podemos usar, cozinhamos mais do que podemos comer, compramos mais
do que podemos vestir... É o que responde o ser humano ao ser alado, em Velhos Caem do Céu como Canivetes. Somos uma espécie rara. Passamos da generosidade à
violência em questão de segundos. Esse mesmo ser alado indaga nosso anti-herói quanto
a sua falta de ideais. Nós, humanos que somos, sabemos muito bem que essa
palavra deixou de existir, ficando para nós – agora artistas – o armazenamento
museológico desse conceito. Não há por que lutar, há? O artista – que é humano,
mas parece não ser deste planeta – vive entre a esperança e a desesperança.
Acredita no homem, o vê padecer, e sofre por ele. Talvez somente uma estirpe de
seres alados e sábios possam tomar conta do mundo e resolver o problema... Se um ser pensante caísse na terra teríamos trabalho
para explicar o que somos, no quê nos transformamos e como convivemos com isso.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Autoexílio
Entressafra e hiato são vocábulos presentes em minha vida, pois defini ciclos para ela. Assim, iniciam-se vários em vários momentos e começam outros em outros tantos... instantes. Meu processo criativo está escasso como absolutamente tudo. Lembro que esqueci outra palavra que repercute em mim: anestesia. Não que o exílio sirva para reflexão ou algo semelhante, é mero estado de não-estar-e-nada-fazer, sem preocupações com absolutamente nada. Formalizar palavras para uma postagem nunca foi tão desafiador. É que me sinto em férias pela primeira vez em 43 anos - acho que já me utilizei desse subterfúgio. Respirar e defecar são ações diárias que penso nesses tempos de distância do trabalho, do intelecto, dos pares. Desejo de pensar um pouco mais sobre minhas angústias de ator, mesmo sabendo que um joelho me sobra para fazer companhia a um diagnóstico que só se revela na segunda. Nem coragem (sic) para abrir uma garrafa de vinho tenho. Pensar em arte é perceber-me um tanto distante do tempo para compor pensamentos... e obras. Quase um diletante.
sábado, 16 de junho de 2012
Arte & perfumaria
A
verdadeira arte não abre concessões. Não negocia. É intransigente. Para
conseguir esse estágio de excelência é necessário um profissionalismo engajado.
Disciplina, rigor, pontualidade, seriedade, comprometimento. Teoricamente, uma
obra de arte deveria ser avaliada pelo seu resultado artístico e, em alguns
casos, pelos caminhos até o parto. Infelizmente a realidade nem sempre é essa.
Vinculado à arte, e em um círculo vicioso, estão os conchavos, as amizades, a competência
das curadorias, as simpatias, as manipulações, os críticos e seus interesses, a
mídia, os mecanismos de coação, os alinhamentos ideológicos, as gratidões, o
policiamento comportamental, as negociatas, as relações de poder, os
despropósitos dos que detêm esse poder, e nem sempre a projeção de uma obra
está relacionada com a sua qualidade artística. Ontem, hoje e sempre. É um
problema basilar. Origina-se na forma como nos relacionamos com a arte: nunca
me interessou saber se Nelson Rodrigues era reacionário ou se Wilde um dândi.
No momento da fruição isso não me preocupa. Não me importa saber se o autor é
gente boa. Seja no teatro ou na literatura. Na música ou nas artes visuais. Estou
cansando de ouvir elogios para os amigos e críticas para os desafetos. A arte
exige e merece respeito. Respeitemos. Estou sendo obtuso?
Viva Dalton Trevisan!
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Palco Giratório – Fim da 2ª Jornada
Semanalmente
mando um e-mail para os contatos da minha caixa postal divulgando a temática da
semana. Com a maioria já me marcou como lixo eletrônico, meu esforço em ser
duas vezes criativo (e-mail e postagem) tem sido em vão (risos). Mesmo assim,
não me entrego. Estamos de volta a São Luís, depois da 2ª Jornada do projeto
Palco Giratório. Paraná e Santa Catarina para um Pai & um Filho que
completam seu passeio pela região sul do país. É a primeira região visitada na
íntegra; estivemos nos três estados e ainda voltaremos em outra jornada para Curitiba
– PR, Rio do Sul – SC, Chapecó – SC e Lages – SC. Da região nordeste ainda nos
falta o Sergipe e a Paraíba, porém, ficaremos na vontade porque não temos
previsão de visita. Da região sudeste falta apenas Minas Gerais, que visitaremos
em agosto, só Belo Horizonte. Também estaremos em São Paulo, mas já o visitamos
em duas ocasiões anteriores. Na região centro-oeste e na região norte ficarão as
maiores vontades, pois da primeira só visitamos o Mato Grosso, e da segunda estivemos
no Pará, Tocantins e Amapá – Rondônia nos espera em novembro. Goiás, Mato
Grosso do Sul, Amazonas, Roraima e Acre completam a lista dos pouquíssimos
estados que nos faltará visitar quando o ano acabar, além do Distrito Federal. Estar
em todas as regiões do país com um espetáculo de teatro maranhense não é lá uma
coisa corriqueira. Como diria o pai: Graças! ... ao Myriam Muniz 2010 e 2011,
ao Palco Giratório e aos vinte festivais e mostras por onde o espetáculo Pai
& Filho se apresentou até aqui. Vida longa é não morrer de véspera!
sexta-feira, 8 de junho de 2012
A palavra é arrogância
Mas, poderia ser também coragem, personalidade, orgulho.
No teatro temos uma certa dificuldade em comentar os espetáculos dos outros por medo de magoá-los. Na vida, quando recebemos um elogio, comumente agradecemos com uma pitada de modéstia, como se fosse pecado ser valorizado. Tratamos alguns como coitados e não temos coragem de assumir o nosso teatro. Quando o fazemos, os outros é que se sentem despreparados e nos rotulam ou se distanciam. O que não sabem, os tolos, é que o que nos identifica é o orgulho que temos do teatro que queremos, e do resultado obtido, tanto em cena quanto na longevidade das encenações. Verbalizar nossa árdua tarefa em sermos felizes diariamente fazendo teatro, de forma profissional, e exigindo profissionalismo daqueles que se propõem a dialogar conosco é algo natural numa companhia que busca a excelência em suas produções.
Sabemos o que queremos e por isso fazemos, e temos orgulho disso, e não nos cegamos. Ao contrário, estamos lúcidos o suficiente para nos mantermos íntegros, inteiros e generosos criativamente.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
2ªJornada
Após
uma brevíssima pausa em São Luís, já iniciamos a segunda jornada da nossa
circulação pelo projeto Palco Giratório patrocinado pelo SESC. Estamos em
Blumenau – a Alemanha tropical – e a jornada prossegue pelas cidades
catarinenses de Itajaí e Tubarão, e a paranaense Paranavaí. Quatro
apresentações e uma oficina. Já somamos dezesseis estados visitados desde a estreia. Aqui, salsicha, chucrute, batata e o palco do
teatro Carlos Gomes. Pai & Filho apresentado com boa dinâmica para um
público receptivo e caloroso. O debate é sempre um momento à parte: perguntas,
reflexões, elogios, e o relógio nos surpreende com a desmontagem por vir. Veio.
Mais salsicha, mais batata, mais mostarda, um chope e hotel. Uma sensação de
satisfação invade os quatro – deve ser o tamanho da cama que nos espera.
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