segunda-feira, 7 de maio de 2012

Teatro brasileiro

Dormia. Enquanto dormia pensava. Estou em Cuiabá. Não no sonho, realmente estou na capital do Mato Grosso. Estamos. Na noite anterior haviamos visto o espetáculo Cabaré, da Cia. de Teatro Faces, de Primavera do Leste. Pensava na pluralidade e nas diferenças do nosso teatro. Do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul fazemos teatro de maneiras tão diversas e tão distantes que é difícil compreender e organizar tamanhas diferenças em um único país. Sem perceber, vemos espetáculos de outros estados com distanciamento e sem a menor sensação de pertencimento. Esse teatro é nosso, é brasileiro. O teatro feito no Pará ou no Paraná me pertence, é meu, diz do meu país, de um país continental que mal percebe a sua grandeza. É isso que estão lendo: ufanismo puro. Porém, na maioria das vezes, olhamos para muitas produções de outras regiões com desprezo, desdém e preconceito, obstruindo a possibilidade de compreender que fazem parte de nós, de um total brasileiro de somas, de um ser maior e antropologicamente construído de partes. É claro que não há uma unidade, nem deveria. Somos a somatória de nossas diferenças e não estamos imunes. Vemos o que somos, e se vemos com um olhar imperfeito, revelamos toda a nossa imperfeição.

5 comentários:

Giba disse...

Meu irmão, é inevitável perceber que a partir (principalmente) das postagens "modernices" e "saudosismo", o meu amado amigo está mergulhado cada vez mais em pensamentos que não estão voltados tão somente para a lida do fazer, mas também os reflexos e reflexões a partir disso tudo e do além mais. Da poesia do pensamento me rendo por completo. Do riso, o prazer diante da dor do pensar. Do pensar, também sobre, uma satisfação de ler/ver/ouvir o tão precioso outro. Há na última postagem, prenúncio poéticos "dos canivetes" que virão, e brasileiramente confesso que a sua explícita declaração de pertencimento (não pensava que chegasse a tanto - o que não é nenhum desmérito), me faz pensar em quê e em qual país pertenço eu. Panos e mangas a serem discutidas e esgarçadas na próximas noites de julho, rsrsrsrsrs... saudades aos trubilhões.

Marcelo Flecha disse...

Meu irmão! Seu comentário me comoveu profundamente, e espero que as noites de julho cheguem logo para podermos matar a saudade dos papos intermináveis, ameaçados pelo clarão do dia que nos avisa que é hora de dormir... Abraço no coração!

TonySilvaAtriz disse...

Não sei medir o quanto eu admiro e gosto de você. Você é um dos homens maiores que já conheci,pela forma de pensar,agir e infiltrar na alma humana nos mais escondidos recanto.O seu pensamento durante essa turnê,que me orgulha tanto,virá com muitas formas e jeitos do fazer TEATRAL.E nós só temos aganhar.Beijos ....SAUDADES...CHOROS e MUITA INVEJA...BUÀ,buá,buá.......

Marcelo Flecha disse...

Minha querida amiga, eu só lamento que a vida não nos permita estar perto por mais tempo, sua presença é sempre um aprendizado, morro de saudades!

Igor Café disse...

Marcelo, essa sensação de que fazemos parte de um todo está cada vez mais distante. Esse pertencimento ao mundo foi absorvido por um termo: a globalização. Passam a idéia de que estamos juntos, mas, na verdade, cada qual está isolado com seu monitor. No maranhão, o efeito desta, digamos, doença, é mais sintomático. Vivemos em uma ilha pequena, miúda, na qual a distância entre as pessoas é enorme. Quando entramos no mérito do teatro, o efeito desse distaciamento (nem um pingo brechtiano, e sim, neocapitalista) é fatal, pois a cena sempre é coletiva e o que varia é apenas o grau de passividade entre os autores, executores e o público.

Nesse intuíto, para que fiquemos mais próximos, aproveito a ocasiçao para deixar o meu blog:

igorcaffe.blogspot.com

no qual a pequena companhia já é (mesmo sem a devida permissão) um parceiro.


abraço!