domingo, 11 de março de 2012

Somos nós no espelho?

Sou um artista intuitivo. Estudo. Gosto de estudar, contudo, quando o momento aparece, não sei estruturar formalmente as soluções necessárias. “As sortes” vêm do conhecimento empírico, das percepções, das lucubrações solitárias, das discussões com meus pares, das explosões sensórias do espectador profissional que sou. Isso me aflige, porque gosto dos argumentos teóricos, das dissertações, dos nomes próprios, das referências. Sinto-me menor, claudicante, embusteiro. Sou sincero, verdadeiro, mas esta certeza não ameniza a imagem que creio que os outros têm de mim quando opero distante dos cânones. Não faço isso premeditadamente. Para mim, o momento criativo é vulcânico, e carrego comigo as influências de todos os fantasmas que me forjaram, mas não me detenho para entendê-los. No momento da criação não me interessa entendê-los. Não sei criar catalogando, referindo, comparando, consultando. O estudo vem antes e depois, nunca durante. Isso provoca na construção da obra um estado movediço, frágil e modelável como argila no torno. Rigidez, desprezada. Certezas, abandonadas. Concretudes, esfareladas. Pronta, a obra se reinventa e vejo tudo claramente: teoricamente, tecnicamente, formalmente. Tudo está lá. Límpido e cristalino. Na maioria das vezes consigo até enxergá-lo. Mas, a inferioridade, permanece. Coisa de matuto.

2 comentários:

Rosa Ewerton Jara disse...

Neste sentido e em vários outros, sou tão matuta quanto você. E seguirei sendo. Acredito é no Teatro. O resto vem depois...

Rute Ferreira disse...

O resto vem depois. É isso aí. Adoro o trabalho desses matutos! haha (saudades, Rosa)