domingo, 27 de novembro de 2011

Teorização & Obra

Volto ao tema da postagem Teoria & Prática, mudando o foco. Assim como a teoria deveria estar a reboque da prática, a teorização deveria estar a reboque da obra. Não está. Falo de nós, da nossa aldeia, do nosso teatro. Tenho ouvido diversas explanações sobre processos, teorizações dos próprios artistas sobre suas obras, mesmo antes destas serem levadas a público. Percebam que escrevi teorização “sobre” e não teorização “para”: como se a obra tivesse relevância para estudo antes mesmo de estrear. A obra precisa existir para poder ser analisada. É necessário identificar sua importância para poder ser discutida, estudada. Não somos nós, artistas, que decidimos isso. Precisamos teorizar “para” poder construir a obra, é delirante teorizar “sobre” a obra, antes da sua existência para o público. Quem julgará a relevância da obra e, por consequência, da pesquisa, é o espectador, o crítico, o teórico, o escambau – não sejamos nós. Não nos defendamos, não nos elogiemos, para não parecermos pretensiosos ou infantis. A obra fala por nós. Façamos. O reconhecimento é mera consequência.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Antagônico da retração

Na retração os vetores mudam de sentido. Ao invés de se ampliarem, se distanciarem do corpo, dilatando-o, eles fazem o contrário. O corpo não se dilata, e a retração faz com que os vetores possam ir a um único sentido e alvo: o abdômen. É ele quem retém essa energia advinda dos vetores, que faz o corpo diminuir em tamanho, forma, movimento. Essa energia, retida obriga o ator a perder os referenciais dos outros antagônicos na perspectiva dos vetores. Caso existam outros atores em cena, e somente um utilizando a retração, teoricamente ele será meio que ignorado pelo público (não havendo falas), pois a energia que deveria ser ampliada em vários sentidos, é armazenada. 
Evidente que a retração passa essa sensação de diminuição, de pequeno ao espectador. Tudo é meio que minimalizado, curto. Dentre os antagônicos, a retração é o único que inverte o sentido de todos os vetores. potencializa-os ao contrário. Emblemático.

domingo, 20 de novembro de 2011

3ª Jornada

Chegamos ontem de Santa Inês – MA onde realizamos outra jornada de circulação de Pai & Filho patrocinada pelo Ministério da Cultura, através do Prêmio Myriam Muniz de Teatro. O apoio local ficou a cargo do CESSIN – UEMA, com o precioso empenho da nossa querida amiga Núbia Bergê, e foi de fundamental importância para os resultados conseguidos. Como a apresentação foi na Biblioteca do CESSIN (a falta de espaços para a prática teatral continua sendo o problema da classe no interior do estado) havíamos fechado uma lotação de 30 lugares. A demanda foi bem maior e superlotou os três dias. Sessenta e cinco espectadores em média. Mais cadeiras e a primeira fila sentada no chão. Superlotou a oficina e, das dezesseis vagas oferecidas, trabalhamos com 23 participantes – adequando um pouco o conteúdo e a metodologia, deu para contornar. A faixa etária ficou um pouco abaixo do ideal. No debate, quase 100% de permanência nos três dias. O público concentrou o foco nas opiniões mais do que nas perguntas, o que tornou o debate muito prazeroso de ouvir – nós quase não falamos. Nas três ações, resultados expressivos.
De volta, a sensação de estar fazendo-contribuindo-refletindo-ajudando-avançando-descobrindo-dizendo para/com/sobre alguma coisa. O bom é que, com tantas ações contínuas e seguidas, essa sensação está se tornando rotineira.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O discreto charme da burguesia

O caro leitor já reparou como a elite econômica ludovicense é burra, brega e mal preparada no que tange à fruição de teatro? Nos últimos tempos tivemos a oportunidade de ver belos espetáculos oriundos de diversas partes do Brasil, porém, você nunca verá, em nenhuma dessas apresentações, o brilho das joias, as gordas bolsas e o desfile interminável de carros importados se abarrotando na porta dos teatros – teatros é modo de dizer, porque estes seres jamais se aventuram em outra casa que não seja o TAA. Agora, coloque um humorista da Zorra Total, um microfone e alguns palavrões, e acontecerá uma verdadeira enxurrada de acéfalos à procura da cabeça perdida.

Aristocracias mundiais sempre se caracterizaram pela qualidade da educação que receberam, tornando-se elites intelectuais – um seleto grupo de privilegiados que, através da opressão da grande massa de desamparados, acediam a produtos de maior qualidade artística, sobrando para a plebe, subprodutos culturais de qualidade duvidosa.

Sabe-se que, oportunizada a condição de acesso a bens culturais de qualidade, as classes menos favorecidas atendem ao chamado e usufruem com uma sede digna de reis. Já a elite econômica da nossa roída Atenas Brasileira dispõe de orçamento, mas falta-lhe argumento. Possui verba, mas maltrata o verbo. Aplica em fundos, mas se afunda na ignorância. Tem capital, mas falta-lhe o principal: ........................... (complete a frase)

O Cantil, em 2009, na IV Semana de Teatro no Maranhão

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Que bicho esquisito!

Reclamar, insatisfação, aumento de expectativas e nível de exigência. Uma ruma de palavras que povoa a mente dos pequenos. Dia após dia a falta de dinheiro, e a necessidade de elaborar projetos. São aprovados e a  obrigação de executá-los. A plateia maranhense é escassa, dizem. Estamos no Palco Giratório; mas, tem que viajar? Horas em trânsito, desgaste físico e mental. Antes, viagem de ônibus era tortura; agora, avião comercial é motivo para se torcer o nariz e a boca. Alguém poderia exigir a compra de um jatinho para a pequena... Onde vamos parar? 

Gosto de enlatados americanos, tipo House e Grey's anatomy. Num dos episódios de Grey's havia uma discussão acerca das obrigações e responsabilidades que conseguem aqueles que buscam aprofundamento no seu fazer. Meu fazer é prazeroso. É de teatro que gosto. Marcelo F. dia desses, falava sobre isso enquanto me deixava em casa. Se tivermos prazer no que fazemos, valerá à pena. Imagine 4 pessoas com seus humores convivendo juntas durante muito tempo, sem trégua e sem folga? 

Os limites sempre serão definidos por nós; decrescê-los ou não é tarefa diária, passível de análise e mudança. Não me sinto melhor ou pior do que antes, mas diferente. Espero que essa diferença se faça em cena. Se há tesão, há conserto. Vamos ao concerto?

domingo, 6 de novembro de 2011

Deixe que digam, que pensem, que falem - 9

Dias 16, 17 e 18 de novembro estaremos em Santa Inês, continuando a circulação do espetáculo Pai & Filho pelo Prêmio Myriam Muniz de Teatro (Funarte/Minc/Gov. Federal). Oficina, apresentações... é o que diz o blog do Daniel Aguiar. 
Clique aqui para ver a matéria na íntegra.

Deixe que digam, que pensem, que falem - 8

Saiu hoje, dia 06/11/2011, no jornal O Estado do Maranhão, entrevista com a Pequena Companhia de Teatro. 

As fotos são de Ayrton Valle e quem assina a entrevista é André Lisboa.

Caso queiram ler a entrevista na íntegra, clique aqui para baixar em formato pdf.

Teoria & Prática


A 6ª Mostra SESC Guajajara de Artes e o Encontro de Pesquisadores em Teatro no Maranhão emprenharam esta postagem. Participei de duas mesas redondas e de um encontro entre grupos, onde se estabeleceram discussões das mais diversas, umas pertinentes outras não. Mas um fato me causou curiosidade: como a teoria está se distanciando da prática.
Peça de teatro é obra de arte, ou deveria ser. Livro de teoria teatral é pretensa ciência. Não podemos querer transformar o teórico no artista, nem torná-lo mais importante do que a própria obra de arte. A teoria deverá estar sempre a reboque da prática teatral, porque é a prática criadora que dá moldes à obra e motes ao teórico. Digo isto porque percebo que há, em São Luís, tanta gente pesquisando, estudando, teorizando, ensinando, mas, quando esses estudos precisam se refletir na obra, a maioria dos resultados é desinteressante e a qualidade é pífia. Eu disse a maioria, não a totalidade. Cadê as obras de arte?

Essas obras, normalmente, são acompanhadas por um encarte com um discurso teórico retumbante, mas a prática é tão distante da teoria que o espectador fica sempre com a punga atrás da Ofélia. Não se trata aqui de desprezar as contribuições teóricas que o teatro vem desenvolvendo no decorrer dos anos – nós também adoramos teorizar (risos) – ao contrário, é colocar essa produção a serviço da arte, da obra de arte. Já falei um pouco disso
aqui e aqui.
Gozos do ofício: praticar, fazer, exercitar, ensaiar, treinar, experimentar, repetir, apresentar, construir, e também pesquisar e estudar, muito! Precisamos fazer mais e falar menos. Um ator ou um encenador não se constrói dos discursos que profere, ele se afirma a partir da obra com a qual se apresenta. Isso. É a obra que apresenta o artista... é sempre mais do mesmo: ler o prefácio do Retrato de Dorian Gray e rir das nossas pretensões. Menos discurso e mais ação. Menos teoria e mais prática. Ou pelo menos meio a meio... disse o teórico.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Antagônico da velocidade

Comumente, quando Marcelo F, em sala de treinamento/oficina indica o antagônico da velocidade, as pessoas começam a correr, pois é a primeira coisa que lhes vêm à cabeça. Claro que tem fundamento, mas percebendo esse tipo de deslocamento total do corpo, ele automaticamente se esgota e o corpo fica em posição de conforto. E quais as outras alternativas? Primeiro, considero velocidade a partir do conceito de Vitor Barbosa: "a grandeza que mede o quão rápido um corpo se desloca". Mão é corpo, mente é corpo, cabeça é corpo. Alguém pode levantar a questão de que são partes de um corpo, mas entendo também que a parte só é parte quando se relaciona com um todo. Por exemplo, a mão só será parte se eu a relacionar com o corpo. Assim, mão é parte do corpo... humano. Entretanto, quanto eu relaciono a mão com as partes que a compõe (unhas, dedos, ligamentos, músculos, ossos) ela torna-se um todo independente, inclusive para gerar significados. Então, todas as partes podem ser consideradas como um todo. Desse modo, a mão pode agir de forma veloz independente do restante das partes do corpo; a cabeça, idem. Onde houver poder de mobilidade e articulação, haverá essa independência das partes no antagônico da velocidade.
Esse antagônico oscila e alterna, sobremodo, os vetores acionados, dependendo aí do que está rapidamente se movendo. Exemplificando, uma das mãos giradas aleatoriamente à frente do corpo está acionando mais o vetor do peito. Acima da cabeça e com mesmo movimento, o vetor do céu. Quando se faz o contrário (mão sendo aleatoriamente girada à frente do corpo e com o vetor das costas mais acionado, haverá uma certa desaceleração e imobilidade no movimento da mão, pois a energia que deveria ser gerada para a velocidade estará sendo utilizada para outro fim (buscar aporte no vetor das costas). O ator de rebolar (deslocamento da cintura pélvica em forma circular) estará com todos os vetores acionados. 

O importante, neste antagônicos é tentar decupar o corpo do ator, buscando perceber sua independência, para que a energia não se esgote num único movimento árido e inexpressivo.


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Fragmentos de uma entrevista anunciada...

(...) O que consolida um grupo de teatro é o ofício. Ele se estabelece, principalmente, com a produção artística e a circulação de seu repertório. Esse tem sido nosso principal objetivo e conseguimos constituir uma trajetória significativa para Pai & Filho que, em abril de 2012, completará dois anos de carreira: dois Prêmios Myriam Muniz, oito festivais e a possibilidade de fazer chegar nosso dizer a diversas plateias brasileiras.

A notícia da seleção de Pai & Filho para participar do Palco Giratório – Rede SESC de Difusão e Intercambio das Artes Cênicas, confirma essa trajetória. Esse projeto é o sonho de consumo de muitas companhias e a pequena não sonhava diferente. São poucos grupos selecionados por ano, o que nos coloca em um patamar privilegiado. Esse grupo seleto de coletivos é escolhido anualmente por curadores de todo o Brasil. Vários estados brasileiros jamais participaram do projeto, e o Maranhão estava entre esses. É uma conquista inédita. Isoneth Almeida – curadora do MA – deve ter feito uma grande defesa e a qualidade da obra dever ter auxiliado um pouquinho (risos). Nós sempre procuramos trabalhar com seriedade e acho que é o que vem nos fazendo avançar. Pai & Filho já esteve em catorze cidades de sete estados brasileiros e acho que de Balsas a Santos, de Sobral a Presidente Prudente nosso grau de comprometimento fica evidente. Sejam plateias de dez ou de cem espectadores. Claro que um projeto desse porte nos motiva ainda mais, mas uma apresentação de Pai & Filho tem a mesma intensidade, seja no Riachão – menor cidade onde o espetáculo foi apresentado – ou no Rio de Janeiro (...)