domingo, 4 de setembro de 2011

Quando um sol se despe


Estamos prestes a embarcar rumo à segunda jornada do projeto de circulação de Pai & Filho, contemplado com o Prêmio Myriam Muniz de Teatro: Sobral, Fortaleza, Mossoró e Natal. Do dia 06 ao dia 23 de setembro, serão quatro montagens, doze espetáculos, doze debates, quatro oficinas, quatro mini-lançamentos, quatro desmontagens e três mil e duzentos quilômetros rodados. Tudo em dezoito dias. 07, 08 e 09, no Teatro da ECOA, em Sobral. 11, 12 e 13, no Teatro Emiliano Queiroz, em Fortaleza. 15, 16 e 17, em Mossoró, em local ainda indefinido. 19, 20 e 21, no Barracão dos Clowns, em Natal. Um Ford Fiesta, um reboque e quatro personagens à procura de um espectador. Sob o sol de satã, estaremos construindo nossa história e quiçá interferindo na história de outros. Espectadores. Quem são eles? Com o olhar nos atravessam, feito um relâmpago, mas nós nunca os vemos verdadeiramente. Deles nada sabemos e para eles expomos e despimos todas as nossas angústias, alegrias, conflitos, dores, desejos e delícias. Seres anônimos e indiferentes ao nosso processo. Para eles nada importa: se a viagem cansou, se a produção falhou, se o galo não cantou, se o demo conspirou. Só importa o espetáculo, objeto fim da nossa caminhada. O que fica? Uma lembrança? Uma sensação? Um panfleto? O que permanece vivo em nós depois de cada espetáculo que assistimos?

12 comentários:

Luciana Duarte disse...

Boa viagem! Ansiosa pela chegada de vocês!

Gilberto Freire de Santana disse...

Meu caro amigo, você já leu (já conversamos), mas acho pertinente quanto a questão que você levanta. Eis o relato de um espectador/leitor, que tem prazer em ser espectador (aliás, acho que o grande problema, entre vários, é que ninguém quer ser espectador, todos querem ser artistas. É artista demais para poucos espectadores. Escolher ser parte da platéia não é crime ou desqualificação, muito pelo contrário).
Quanto a uma resposta, não tenho e nem pretendo ter, mas posso fazer o relato de uma experiência pessoal (serve para exemplificar o contato com um livro, um filme, uma música, um espetáculo teatral etc.):
“Havia no vermelho uma vermelhidão de tal natureza que até as palavras mergulhavam na sua caudalosa insuficiência de ser. Não era só nas paredes, nas cortinas. Era algo além, aquele mistério que você sabe existir, que o decifra em parte, porém, mesmo assim, se vê em espanto. Não era apenas cor. A cor era e ao mesmo tempo deixava de ser. Dizia como palavras e silenciava como a grande pausa que se dá quando se fecha um livro. Era para os olhos, no entanto na alma oferecia seu existir. Como profanação de possibilidades e o mais sagrado do suportável. Era de tamanha extensão que tingia as outras cores de naturezas outras. O preto não era mais só o preto. Havia nele um rasgo de escuridão que iluminava a não existência de qualquer cor, da mesma forma que o branco era o mais branco do branco que olhos pudessem suportar.
Evidente que eu já tinha visto o colorido dos filmes. Que sabia das experiências de Mélies e tinha assistido alguns dos seus filmes pintados à mão, fotograma por fotograma, com anilina diluída em água e álcool. Consciente, também, que prazerosamente, por anos a fio, fui e ainda continuo sendo tragado pela riqueza das inúmeras tonalidades e pelo adivinho de ‘cores’ no preto e branco. No entanto, o colorido do filme de Bergman, Gritos e sussurros (1972), tal como uma atanazação do pensamento, proporcionou um instante novo de ver e de rever o já tão visto. Momento diferenciado que escapa de qualquer predileção, pois nos é dado o direito de banquetear cada uma das iguarias ofertadas, ora com prazer e dor, ora com o espanto e uma espécie entalo na garganta. Algumas vezes incensadas com a natureza de Nonato (Personagem protagonista do filme Estômago), , com o silêncio de Babette (personagem do filme A festa de Babette), outras, tragadas pelos sabores oswaldianos, num ritual antropofágico de um francês devorado pelos tupinambás”.

Marcelo Flecha disse...

Eis a questão... fico me perguntando se o poder está na obra, no especatdor ou na relação entre eles. Se a obra tem algum poder de transformação ou se apenas se ilude e não percebe que é a plateia que determina sua existência... Frágil existência... Seu relato é um exemplo do que tento entender... Beijão e apareça! Não digo o mesmo para a Lulu porque vou vê-la em breve (risos).

Cordão de Teatro disse...

Me levem pra mossoró!

xico

Anônimo disse...

Mossoró espera por vocês, sejam bem vindos mais uma vez! =D

Roquildes Junior disse...

Muita merda nesta jornada, amigos! Foi muito bom encontrá-los em Teresina e poder ver "Pai e Filho" (um espetáculo lindo, muito bem feito e que não nos permite sair ilesos do teatro) e vivenciar uma amostra do processo do grupo (genial trabalho), além de conhecer os demais integrantes da pequena, conversar bastante, trocar muitas ideias, etc. Que Dionísio os guie nesta empreitada.
Sempre ancioso pelo próximo encontro!
Grande abraço!

TonySilvaAtriz disse...

Até que enfim uma notícia alviçareira deste povo das bandas de lá.Seja benvindos a nossa terra que de liberdade não tem nada.Soube notícias suas através de Missias.Quanto as perguntas que fizeste no texto vai ficar nesta dúvida,pós eu esperava as respostas de Gilberto,mas com também tentou explicar com outros exemplos,não entendi muito bem o que ele queria dizer.Tenho permissão de ficar só deduzindo o que ficar,Talvés uma lembrança,ou um simples gestos,ou... nada.Otempo é quem vai dizer,dependendo do comportamento do individuo atingido pelo espetáculo.Beijos venham logo.

Cordão de Teatro disse...

Passa no blog do cordão pra ver as notícias. abraços e sucesso na viagem.

(xico)

JeyzonLeonardo disse...

coisa boa. já estava crendo que esse pai fugiu e deixou os filhos desta terra. aguardando com o coração aberto e os braços acelerados.

cris cavalcante e bragança disse...

Esperamos por sua energia e inteligencia novamente em Mossoró

Hamilton disse...

Estou estreando como espectador de teatro ao frenquentar os espetáculos da Pequena Companhia. Como acompanho o antes, o durante e o depois, não sei exatamente que tipo de espectador me tornarei. O Gilberto falou várias vezes, e repetiu lá no Rio, que se recusa a deixar de ser platéia, espectador, a viver intensamente essa condição. Ele não quer ser subrepticiamente sequestrado ao palco e ser usurpado da condição que escolheu ao sentar-se para viver teatro na platéia. Eu quase me vejo impedido de realizar essa mesma escolha. Minha escola de espectador tem sido as peças da Pequena Companhia e sempre tenho a sensação de que estou dentro do drama. A impressão que tenho é que preciso ir lá, na cena, fazer o quê não sei. E sempre saio da sala como se as coisas tivessem ocorrido comigo. Muito estranho. Dá um nervoso. E depois tem a rodada de conversa sobre a apresentação do dia, a peça nunca acaba e segue pelas taças de vinho. Fico bêbado de teatro.

Marcelo Flecha disse...

... e nos embriagamos juntos.