quinta-feira, 11 de agosto de 2011

E Cazuza tinha razão

Lidar com um teatro de energias requer um corpo pronto. A capacidade de armazenamento de informações está diretamente relacionada à disposição e prontidão do corpo que anteriormente vivenciou, experienciou a construção de uma personagem em sala de ensaio. Se o corpo deixa de estar pronto, a personagem se distancia, não por falta de memória corporal, mas por limitações físicas de um corpo que se ausentou de suas atividades diárias. O nível de exigência em um treinamento para a construção de um espetáculo deve ter seus critérios contaminados na manutenção das ações cênicas. É aquela velha história de que o espetáculo não se esgota – em nível de ensaios – na estreia. A frequência dos encontros entre os atores e a direção deve ser permanente, como é permanente o respirar, o comer, o vestir. Quando isso se altera numa perspectiva de descontinuidade, as consequências não são nada interessantes para a recuperação de uma aproximação daquilo que se estabeleceu como razoável para a permanência das personagens na ação vívida da cena. Sabemos que o teatro é efêmero, mas o mínimo de definição e continuidade permaneceriam... naquilo que se propôs, o ator, consciente disso, lida com as incontinências do cargo: viver é morrer diariamente um pouco. E teatro ainda é drama, e ator-dramático-capricorniano-ansioso-confesso sofre com as palavras ditas e as não-ditas; com a falência do corpo e com a sonolência dos passos.

Acho que é lenda urbana, mas dizem os seres alados que sobrevoam as catedrais góticas da Finlândia, que existe um patrício de Mara e Dona que de tão neurótico contava macarrões para serem cozidos, ao dente, e distribuídos em pequenas porções em coités piauienses, para os desabrigados dos teatros do Maranhão. Minha neura maior está na fragilidade permanente do corpo adormecido pela incapacidade do uso. 

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