domingo, 3 de abril de 2011

O papel da reciclagem na pequena companhia


A utilização de materiais recicláveis pela pequena na construção dos seus espetáculos se confunde com uma consciência intuitiva e remete a meados da década de noventa na cidade de Balsas – quando o ecologicamente correto não era moda nem chato a ponto de fazer-nos urinar no chuveiro. Falo de um Santo Inquérito construído com caixas de tomate.

O desafio está na escolha dos materiais e no diálogo destes com o que se quer dizer.

Uma nova possibilidade de montagem, e lá está Jorge trazendo um monte de plásticos azuis que Didi – seu pai – jogara fora, lá está Katia a observar o lixo alheio, cá estou alerta ao entulho que me rodeia. Cláudio, como ainda está longe, é café com leite. Não é um pensamento visual, nem uma definição da encenação a partir da estética, apenas estamos atentos aos materiais do nosso entorno, imaginando que, em algum momento, podem servir. Depois, no processo de construção da encenação, enquanto o dizer se estabelece em sala de ensaio, esses materiais começam a reaparecer – imageticamente. Se algum deles dialoga com o que estamos buscando, vai sendo incorporado. Na maioria das vezes, temos mais entulho do que cenários, mas vale a pena. Entre banners velhos, bobinas gráficas descartadas, disquetes de computador (lembram?), rolhas, madeiras de todos os tipos, papelão em tubos, em folhas, CDs, telhas, sempre aparece aquele material que completará o dizer dos atores em cena. Paralelamente, a percepção do desperdício gerado pelo consumo. Assim, a partir da destruição, construímos. No caso atual, “Velhos Caem do Céu como Canivetes”. Entulho cairá na mesma intensidade.

5 comentários:

JChoairy disse...

lixo extraordinário que refina a visão da espectador.

Emilly Castelo Branco disse...

como faço pra entrar em contato com vcs? sou da rádio universidade e gostaria de fazer uma matéria sobre a companhia.

XICO CRUZ disse...

O Santo Inquérito com direção de Marcelo Flecha, foi a primeira vez que ouvir falar em espetáculo de teatro e lembro bem de Itacy falando, "Xico é tudo feito com caixa de tomate" na hora imaginei tudo.

Unknown disse...

É massa. Um segundo, vejo um compósito de objetos que existiram com outras identidades... mas não as friso na memória.... porque já me vem o espanto da desutilidade... e que também já cede rápido, na boa cena, aos novos sentidos produzidos pelas formas, luzes e texturas acionadas no palco... e essas materialidades já desvinculadas, pelo drama, do nome do objeto antes de se tornar Lixo... e tudo é especular, sou hoje o que consumi ontem

Marcelo Flecha disse...

Sim, senhor! Cadê você sumido (Hamilton)? E aquele vinho?