domingo, 27 de março de 2011

Artistas em decomposição

Não tenho problemas com o envelhecimento. Fui jogador de futebol, soube o que é ser velho aos 27 anos. Assim, sei lidar com fim de carreira, vetustez precoce, restrições psicomotoras, desprezo dos habilitados – coisinhas como a dificuldade de coçar as costas naquela interseção entre a mão esquerda e a direita. Cláudio tem tratado do assunto do ponto de vista do ator e suas limitações físicas aqui e em outras postagens que o caro leitor poderá pacientemente procurar. Eu sempre apostei no cérebro sem lembrar que também envelhece. As personagens do texto “Dois”, publicado recentemente, defendem a hipótese no trecho abaixo: HOMEM – Devíamos ter nos dedicado ao cérebro. MULHER – Como? HOMEM – Intelecto, pensadores não envelhecem... MULHER – Faz sentido. HOMEM – Claro que faz! MULHER – Um intelectual de oitenta anos é um homem respeitado... HOMEM – ... uma atriz de sessenta é uma velha em fim de carreira! Na posição de encenador – apesar de conduzir as encenações fisicamente – sempre me imaginei resguardado e propenso à longevidade, pelo fato da atividade estar relacionada ao exercício intelectual. Porém, quantos espetáculos totalmente envelhecidos estreiam anualmente, independentemente da idade cronológica do encenador? Ou seja, caros atores, de fato, a velhice é absurdamente democrática e não poupa ninguém. O que nos cabe apenas é saber envelhecer... ou esperar pela dádiva – o exemplo do kazuo Ohno serve para nos confortar, física e intelectualmente (risos).

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