sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Ser ou estar?


Gilberto F., certa vez, disse que Graça F. não era atriz. Ela meio que se emputeceu e enviou, pelos Correios, o currículo para ele. 

Eu sei que sou ator porque tenho o registro na minha carteira de trabalho. Eu sei que não estou atuando porque estamos em entressafra. Nesse meio tempo, o que um ator faz? 

Eu me masturbo mentalmente sobre processos e sobre coisas. Imagino como será nossa circulação pelo Norte e pelo Nordeste. Faço musculação e não como porcarias. Executo projetos pendentes. Conto as horas para mudar-me para São Luís. Penso no amor tardio de quem me espera. 

Hoje pensei um pouco sobre a impossibilidade de bater cartão, diariamente, para fazer teatro, como fazem os professores, médicos e outros profissionais dignos de terem uma carga horária de trabalho definida. Existe algo estranho nesse aspecto. A arte de atuar não deveria ser profissão. Não se encaixa. Não temos hora para trabalho, não temos salário fixo. Assim, fica uma certa angústia de nunca estar preenchido. Pensei também que não morreremos porque a nossa arte vai viver. Não preciso mais me preocupar com minha saúde física e mental, nem com filhos, nem com árvores. A arte deverá suprir todas as minhas falhas trágicas de ser humano que sou.

E por fim, tem um amigo meu, Jairo M. que diz que, enquanto evangélico, não pode falar de outra coisa a não ser do que ele está preenchido, isto é, de Deus, de amor, de cristianismo, de caridade. Isso é uma verdade. Uma outra verdade, e a descobri há algum tempo, é que a gente só fala daquilo que nos falta. Excesso e falta. 

Quero continuar a ser um fosso sem fundo e jamais me esgotar. E como Walt W. eu canto o corpo elétrico


Um comentário:

JeyzonLeonardo disse...

Nestas ferias (forçadas) estamos todos com o mesmo pensamento, a mesma gula, beliscando as paredes do juízo, querendo entender a que mundo pertencemos, de qual cadeia profissional somos prisioneiros? qual o nosso direito? se o palco, então nos dê!

26 de fevereiro de 2011 13:45