domingo, 27 de fevereiro de 2011

A ridícula perfeição

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Independentemente da metodologia aplicada, há uma região no ator onde parece ser impossível penetrar e é de onde saem os momentos mais sublimes. A quebra dessa impenetrabilidade, a busca da codificação para acionar esse universo, deverá ser o objetivo final de qualquer ator, encenador ou teórico de teatro. Alheio à “talentices”, esses momentos são frutos de treinamento, porém, é onde o treinamento chega de forma não consciente. É para esse efeito místico (quando místico quer dizer: onde há mistério ou razão incompreensível) do treinamento que nunca estamos atentos, concentrando sempre o foco no resultado concreto e palpável das aplicações diárias. Eis aí o erro. Muito do que se experimenta armazena-se e acumula-se no núcleo dessa esfera. Uso a palavra “plasmar” para representar essa assimilação. Uma percepção cinestésica, não racional. Propriocepção. O ator pleno será aquele que, de maneira conscientemente técnica, e utilizando-se do corpo total, transite por esses momentos sublimes de acordo com a necessidade do seu ofício. É apenas uma impressão; aquela de quando vemos uma cena tão intensa e temos a sensação de que jamais conseguirá se repetir. Impressão. De fato sabemos que se repete e se supera.

9 comentários:

XICO CRUZ disse...

Uma penetração profunda em meu raciocínio limitado, seus textos me fazem pensar... Preciso pensar mais, ler mais... Tô angustiado!

Xico

Elizandra disse...

Marcelo, tu sempre escreves exatamente o que sinto em relação ao "Ser Ator". Veja que o verbo é Sentir e não Pensar, porque Ser Ator transcende o pensamento. Esse Sentir Místico e talvez impenetrável é o que não quero tentar entender. Não é para ser compreendido. O que existe de mais belo e de melhor na vida para mim,é sempre o que não quero entender. Parabéns pelo texto. Beijos!

Marcelo Flecha disse...

Angustiado e sumido, seu Xico, estáva com saudades dos seus comentários... A observação da Elizandra certamente serviu para reduzir sua angústia... nossa busca sempre será eterna....

Anônimo disse...

Hum sera sempre um prazer poder desfrutar desta busca embora tenha ciumes da perfeição dos mais novo.como gostaria de ter uns anos a menos e sem vicios de velho de teatro ara poder me entregar mais as sua experiencias.Beijos Tony silva

XICO CRUZ disse...

o sentir é dos atores e o pensar é de quem?

Marcelo Flecha disse...

ô minha nêga! Você é modesta! Sabe que já tivemos grandes momentos a esse respeito! Pena que a distância seja tão implacável e não possamos passar mais tempo juntos!

Danielle Almeida disse...

Esse mundo é fantástico e mágico. Afinal, viver a vida de outras vidas...

E Respondendo a pergunta de Xico Cruz:
O diretor pensa e o ator sente, materializando esse pensamento.kkkkkkkkkkkkkkkkkkk! Brincadeirinha!! Eu vou dormir, que já estou saidinha demais...



Bjss

Dani Almeida

Rodrigo França disse...

Adorei quando falas talentices... Realmente a prática constrói o ator!

Marcelo Flecha disse...

É, Rodrigo. O amadurecimento do teatro vem contribuindo para a quebra de certas máximas do passado.