quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Pai & Filho em Belém

Pai & Filho será apresentado em Belém, no teatro Cuíra (Riachuelo com 1º de Março - Campina), nos dias 06 (sessão às 19 e 21h) e dia 07 (sessão às 19h) de janeiro de 2012. Serão três apresentações, gratuitas, dentro do projeto aprovado pela FUNARTE/Minc/Governo Federal (Myriam Muniz). 
Quer ler um texto acerca do teatro Cuíra e do bairro Campina? O título é: Quando o Cuíra acordou a zona. Clica aqui.

Deixe que digam, que pensem, que falem - 10

O jornal Vias de Fato fez uma retrospectiva na esfera cultural, em São Luís, do ano de 2011. A Pequena Cia. foi lembrada pelo Alberto Júnior - radialista e crítico musical. Diz ele: "No difícil campo das artes cênicas, a Pequena Companhia de Teatro, a Santa Ignorância Cia. de Teatro e o talento do dramaturgo Igor Nascimento não deixaram eu me acomodar na confortável resignação de fruir de espetáculos simples. Foram geniais!"
Para ler mais, clique aqui.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Ano novo, de novo.


Em janeiro concluiremos o Myriam Muniz: Belém, Ananindeua, Parnaíba, Palmas e Porto Nacional, em três jornadas. Na bagagem, o já definido calendário de Pai & Filho no Palco Giratório, que inicia em abril e visitará trinta cidades brasileiras – em breve aqui. Hoje recebemos o convite para representar o Maranhão no VI Festival BNB de Artes Cênicas, em março. E o melhor presente de natal de todos: achamos a caixa de esgoto! (uma piada interna). O natal foi feliz e a prosperidade do ano novo se avizinha. Como esta é minha última postagem do ano, deixo minha admiração à paciência do leitor de Canterville que nos acompanhou durante o ano. Pequeno, você foi um grande!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Antagônico da leveza

Minha experiência com a leveza é contraditória. Por um lado, o enraizamento se esvai, já que o vetor da terra diminui em intensidade para que o vetor do céu seja mais presente. Com isso, o equilíbrio fica precário. Para que a estabilidade se efetive, comumente é utilizado o antagônico da velocidade (como andar de bicicleta ou passar por uma pinguela). Pode-se fazer um paralelo com uma pena ou pluma. Quanto mais veloz for, mais tempo ficará no ar. Quando perde velocidade, a atração da gravidade fará com que pouse no chão. Com o corpo humano ocorre parecido, pois quanto mais velozes estivermos, menos contato com o chão teremos. Há uma alternativa também, que coincide com essa sentença: elevar um pouco os pés, com os calcanhares descolados do chão um milímetro, a ponto de passar uma folha de papel. Essa instabilidade dará a sensação de leveza. 
Outro aspecto que consigo perceber - e aí está a contradição - é que, quanto mais estivermos enraizados, mais teremos controle do corpo, e com isso viabilizar a sensação de leveza, como se estivéssemos pisando em ovos. Ainda não utilizei esse antagônico nas personagens representadas. Em nível de treinamento sei que há contaminadores expressivos, pois a leveza navega contra a gravidade.

domingo, 18 de dezembro de 2011

O Teatro Polidramático – tese inaugural


A postagem de hoje vai entediá-lo – é minha obrigação avisar. Estou versando sobre o Teatro Polidramático. O que é? Nem eu sei direito ainda, no entanto, para melhor entender o nosso fazer, venho refletindo e analisando a presença das outras dramaturgias nos nossos processos e sua relação de interferência com a dramaturgia do ator – centro da nossa pesquisa. Nosso manifesto, postulado original da companhia, já abordava o fato quando dizia não desprezar outras, apenas utilizá-las como instrumentos em benefício do dizer do ator.

Quando cunhamos o termo “Teatro Polidramático”, não foi tentando nomenclaturar, enformar ou formatar nosso fazer, é apenas uma necessidade de compreensão, a busca de um entendimento claro para o desenvolvimento da nossa investigação.

Em uma reunião informal (a maioria das nossas são) Jorge insistia na revisão da dramaturgia do ator como centro. Em outra, Cláudio sugeria uma revisita aos diários de montagens para decupar de maneira mais sistemática se efetivamente a dramaturgia do ator está no centro. Revisão preliminar feita. Penso que está. Estar no centro não significa estar sozinha. O que se percebe é que a centralidade da dramaturgia do ator não anula todos os outros instrumentos discursivos utilizados na construção da dramaturgia final das nossas encenações.

Nós partimos de três dramaturgias capitais: a do ator, do autor e do encenador. Sendo que a do ator é central e essas outras duas circundam esta. Como as três têm grande poder de discurso, há uma relação de interferência viva em sentido recíproco.

As dramaturgias auxiliares – encontradas na maneira dramatúrgica como utilizamos a cenografia, a iluminação, a sonoplastia, a espacialidade etc. – variam em intensidade dependendo da encenação. Têm maior poder polisêmico (roubo a palavra da linguística para usá-la no sentido filosófico) e multissensório, menor capacidade de discurso, mas creio que a ingerência em relação à dramaturgia do ator é menor que às dramaturgias capitais. A do ator sim interfere nelas e reconduz sentidos e sensações. (caso queira, dê uma lida no capítulo A Leitura Transversal, de Demarcy, no livro Semiologia do Teatro, organizado por J. Guinsburg e outros, pela Perspectiva. Não tem a ver, mas tem.)

Podemos dizer que nosso “Teatro Polidramático” tem por características a integração de dramaturgias, sendo que todas são convergentes à do ator; e sua pluralidade favorece a interface entre discurso, sensação e sentido. Refletindo um pouco, esse teatro tem o ator como centro catalisador de dizer. Sua dramaturgia catalisa todas as outras, por isso o “poli”. O termo “dramático” – que no sentido etimológico melhor seria “dramatológico” ou “dramatúrgico” – permanece por uma referência intencionalmente jocosa ao termo pós-dramático.

É claro que esta pretensiosa brincadeira teórica não deve ser levada a sério, até porque, é apenas uma reflexão preliminar que busca a melhor compreensão do nosso fazer. No “Diagrama do Teatro Polidramático” abaixo, tudo fica mais confuso (risos). Divirta-se, se puder.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

É ladrão de homem

Trauma

Já falei de clowns aqui e aqui. Acho que o assassinei. Quase um natimorto. Depois de Luis Casali e Fernando Vieira, acho que vou forçar um pouco mais a barra, agora com Ciléia Biaggioli. Por que algumas coisas não se efetivam? Birra? Vou pelo avesso, pela porta de trás ou arrombar a única janela que existe naquela casa sem teto, sem paredes, sem penico. Só uma janela em uma casa tardia. É que penso que há um espaço, uma lacuna, na vida de qualquer ator digno, a eterna busca de uma completude que não existe. Ser palhaço é formalizar um outro estado em seu corpo, é dar a ele uma oportunidade de percepção outra além dos treinamentos que determinam seu ritmar enquanto profissional, como deixar de comer aquilo que comumente ingere. 
Preciso de um prato com fezes

É uma angústia que me acompanha (sou um ser angustiado, sempre) e que preciso minimizar. Assim, tentativa e erro, um acerto e um equívoco. Se for melhor de três, estou tentado a pagar para ver - literalmente. Quem sabe assim, as ruas de São Luís voltem a ver esse reles-ator-medíocre mais uma vez nas praças, mostrando a cara para levar uma tortada além da virtualidade ou do conforto de um espaço coberto.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sim, senhor!

Como o caro e assíduo leitor sabe, estamos caminhando para a próxima encenação da pequena. Em Santa Inês fizemos uma das reuniões sobre o assunto e tudo indica que a montagem será mesmo “Velhos Caem do Céu como Canivetes”, inspirada no conto “Um señor muy viejo com unas alas enormes”, de Gabriel García Márquez. No cardápio do nosso dizer, a discussão sobre as diferenças, a miséria, o exílio, a fé... Uma degustação temática. No meu caso, o fato é sempre conflituoso. Sempre que terminamos um espetáculo penso que minha criatividade esgotou. Meu lento raciocínio reforça o abismo e duvido da minha capacidade criadora. É a sensação da folha em branco. Penso que o todo criativo que possuía ficara depositado em Pai & Filho. Foi assim com O Acompanhamento, O Último Discurso, Medeia, O Santo Inquérito, Entrelaços, Ramanda e Rudá, Deus Danado, Marat-Sade... sempre foi assim (risos).
É uma angústia desafiadora. Um vazio fecundo. Uma ansiedade pacífica. Uma desorientação travosa. Uma dúvida ardida. Um deserto venturoso. Um auto-retrato sem rosto. Um rito de passagem assaz dolorido e assustador. Quando um fazer se esgota? Quem nos avisa? Como percebemos? Onde estaremos quando isso acontecer? O calendário de 2012 não nos permite fechar uma agenda de montagem, principalmente por causa do Palco Giratório e do projeto do SEBRAE, mas, certamente, estaremos em processo. Circunstancialmente mais lento do que o processo de Pai & Filho, contudo, em 2012 velhos cairão do céu como canivetes. Como será?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

It's not my job

Preguiça é uma ótima palavra. Individualidade também. Foco, idem.

Há alguns dias estou a pensar e refletir sobre muita coisa, sobre o foco na minha profissão, na minha vida enquanto cidadão. Não são excludentes, mas acabamos por definir prioridades que afetam os vários lados da moeda... e do ovo. Até segunda-feira próxima passada estava envolvido com projetos a serem encaminhados para o BNB. Comumente estamos viajando, em detrimento do aprovado no Myriam Muniz. Ano que vem tem Palco Giratório. Viajar relaciona-se com prioridades na difusão da sua arte. Então, qualquer atividade que exista em sua cidade de origem, deixará de ser apreciada por você: reuniões, atividades de formação, mobilização, discussão política... Qual é o bem comum e qual é o bem individual? Dá para dissociar? Como é que anda nossa reflexão quanto a nossa contribuição para o movimento (entendo movimento como algo ou alguém que tenha as propriedades de se movimentar) qualquer que seja ele, desde o desmatamento da amazônia até o asfaltamento da minha rua, do meu bairro? O que nos pertine e o que não? 
Lembro que em Imperatriz, o Conselho da mulher não aceita homens. Será que o movimento de teatro de rua aceita grupos/pessoas que agilizam seu trabalho em palco italiano? E por que os editais são independentes? Como um coletivo se estabelece se não a partir do trabalho/mobilização dos indivíduos? Por onde andam as andorinhas? A época das chuvas se avizinha.


domingo, 27 de novembro de 2011

Teorização & Obra

Volto ao tema da postagem Teoria & Prática, mudando o foco. Assim como a teoria deveria estar a reboque da prática, a teorização deveria estar a reboque da obra. Não está. Falo de nós, da nossa aldeia, do nosso teatro. Tenho ouvido diversas explanações sobre processos, teorizações dos próprios artistas sobre suas obras, mesmo antes destas serem levadas a público. Percebam que escrevi teorização “sobre” e não teorização “para”: como se a obra tivesse relevância para estudo antes mesmo de estrear. A obra precisa existir para poder ser analisada. É necessário identificar sua importância para poder ser discutida, estudada. Não somos nós, artistas, que decidimos isso. Precisamos teorizar “para” poder construir a obra, é delirante teorizar “sobre” a obra, antes da sua existência para o público. Quem julgará a relevância da obra e, por consequência, da pesquisa, é o espectador, o crítico, o teórico, o escambau – não sejamos nós. Não nos defendamos, não nos elogiemos, para não parecermos pretensiosos ou infantis. A obra fala por nós. Façamos. O reconhecimento é mera consequência.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Antagônico da retração

Na retração os vetores mudam de sentido. Ao invés de se ampliarem, se distanciarem do corpo, dilatando-o, eles fazem o contrário. O corpo não se dilata, e a retração faz com que os vetores possam ir a um único sentido e alvo: o abdômen. É ele quem retém essa energia advinda dos vetores, que faz o corpo diminuir em tamanho, forma, movimento. Essa energia, retida obriga o ator a perder os referenciais dos outros antagônicos na perspectiva dos vetores. Caso existam outros atores em cena, e somente um utilizando a retração, teoricamente ele será meio que ignorado pelo público (não havendo falas), pois a energia que deveria ser ampliada em vários sentidos, é armazenada. 
Evidente que a retração passa essa sensação de diminuição, de pequeno ao espectador. Tudo é meio que minimalizado, curto. Dentre os antagônicos, a retração é o único que inverte o sentido de todos os vetores. potencializa-os ao contrário. Emblemático.

domingo, 20 de novembro de 2011

3ª Jornada

Chegamos ontem de Santa Inês – MA onde realizamos outra jornada de circulação de Pai & Filho patrocinada pelo Ministério da Cultura, através do Prêmio Myriam Muniz de Teatro. O apoio local ficou a cargo do CESSIN – UEMA, com o precioso empenho da nossa querida amiga Núbia Bergê, e foi de fundamental importância para os resultados conseguidos. Como a apresentação foi na Biblioteca do CESSIN (a falta de espaços para a prática teatral continua sendo o problema da classe no interior do estado) havíamos fechado uma lotação de 30 lugares. A demanda foi bem maior e superlotou os três dias. Sessenta e cinco espectadores em média. Mais cadeiras e a primeira fila sentada no chão. Superlotou a oficina e, das dezesseis vagas oferecidas, trabalhamos com 23 participantes – adequando um pouco o conteúdo e a metodologia, deu para contornar. A faixa etária ficou um pouco abaixo do ideal. No debate, quase 100% de permanência nos três dias. O público concentrou o foco nas opiniões mais do que nas perguntas, o que tornou o debate muito prazeroso de ouvir – nós quase não falamos. Nas três ações, resultados expressivos.
De volta, a sensação de estar fazendo-contribuindo-refletindo-ajudando-avançando-descobrindo-dizendo para/com/sobre alguma coisa. O bom é que, com tantas ações contínuas e seguidas, essa sensação está se tornando rotineira.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O discreto charme da burguesia

O caro leitor já reparou como a elite econômica ludovicense é burra, brega e mal preparada no que tange à fruição de teatro? Nos últimos tempos tivemos a oportunidade de ver belos espetáculos oriundos de diversas partes do Brasil, porém, você nunca verá, em nenhuma dessas apresentações, o brilho das joias, as gordas bolsas e o desfile interminável de carros importados se abarrotando na porta dos teatros – teatros é modo de dizer, porque estes seres jamais se aventuram em outra casa que não seja o TAA. Agora, coloque um humorista da Zorra Total, um microfone e alguns palavrões, e acontecerá uma verdadeira enxurrada de acéfalos à procura da cabeça perdida.

Aristocracias mundiais sempre se caracterizaram pela qualidade da educação que receberam, tornando-se elites intelectuais – um seleto grupo de privilegiados que, através da opressão da grande massa de desamparados, acediam a produtos de maior qualidade artística, sobrando para a plebe, subprodutos culturais de qualidade duvidosa.

Sabe-se que, oportunizada a condição de acesso a bens culturais de qualidade, as classes menos favorecidas atendem ao chamado e usufruem com uma sede digna de reis. Já a elite econômica da nossa roída Atenas Brasileira dispõe de orçamento, mas falta-lhe argumento. Possui verba, mas maltrata o verbo. Aplica em fundos, mas se afunda na ignorância. Tem capital, mas falta-lhe o principal: ........................... (complete a frase)

O Cantil, em 2009, na IV Semana de Teatro no Maranhão

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Que bicho esquisito!

Reclamar, insatisfação, aumento de expectativas e nível de exigência. Uma ruma de palavras que povoa a mente dos pequenos. Dia após dia a falta de dinheiro, e a necessidade de elaborar projetos. São aprovados e a  obrigação de executá-los. A plateia maranhense é escassa, dizem. Estamos no Palco Giratório; mas, tem que viajar? Horas em trânsito, desgaste físico e mental. Antes, viagem de ônibus era tortura; agora, avião comercial é motivo para se torcer o nariz e a boca. Alguém poderia exigir a compra de um jatinho para a pequena... Onde vamos parar? 

Gosto de enlatados americanos, tipo House e Grey's anatomy. Num dos episódios de Grey's havia uma discussão acerca das obrigações e responsabilidades que conseguem aqueles que buscam aprofundamento no seu fazer. Meu fazer é prazeroso. É de teatro que gosto. Marcelo F. dia desses, falava sobre isso enquanto me deixava em casa. Se tivermos prazer no que fazemos, valerá à pena. Imagine 4 pessoas com seus humores convivendo juntas durante muito tempo, sem trégua e sem folga? 

Os limites sempre serão definidos por nós; decrescê-los ou não é tarefa diária, passível de análise e mudança. Não me sinto melhor ou pior do que antes, mas diferente. Espero que essa diferença se faça em cena. Se há tesão, há conserto. Vamos ao concerto?

domingo, 6 de novembro de 2011

Deixe que digam, que pensem, que falem - 9

Dias 16, 17 e 18 de novembro estaremos em Santa Inês, continuando a circulação do espetáculo Pai & Filho pelo Prêmio Myriam Muniz de Teatro (Funarte/Minc/Gov. Federal). Oficina, apresentações... é o que diz o blog do Daniel Aguiar. 
Clique aqui para ver a matéria na íntegra.

Deixe que digam, que pensem, que falem - 8

Saiu hoje, dia 06/11/2011, no jornal O Estado do Maranhão, entrevista com a Pequena Companhia de Teatro. 

As fotos são de Ayrton Valle e quem assina a entrevista é André Lisboa.

Caso queiram ler a entrevista na íntegra, clique aqui para baixar em formato pdf.

Teoria & Prática


A 6ª Mostra SESC Guajajara de Artes e o Encontro de Pesquisadores em Teatro no Maranhão emprenharam esta postagem. Participei de duas mesas redondas e de um encontro entre grupos, onde se estabeleceram discussões das mais diversas, umas pertinentes outras não. Mas um fato me causou curiosidade: como a teoria está se distanciando da prática.
Peça de teatro é obra de arte, ou deveria ser. Livro de teoria teatral é pretensa ciência. Não podemos querer transformar o teórico no artista, nem torná-lo mais importante do que a própria obra de arte. A teoria deverá estar sempre a reboque da prática teatral, porque é a prática criadora que dá moldes à obra e motes ao teórico. Digo isto porque percebo que há, em São Luís, tanta gente pesquisando, estudando, teorizando, ensinando, mas, quando esses estudos precisam se refletir na obra, a maioria dos resultados é desinteressante e a qualidade é pífia. Eu disse a maioria, não a totalidade. Cadê as obras de arte?

Essas obras, normalmente, são acompanhadas por um encarte com um discurso teórico retumbante, mas a prática é tão distante da teoria que o espectador fica sempre com a punga atrás da Ofélia. Não se trata aqui de desprezar as contribuições teóricas que o teatro vem desenvolvendo no decorrer dos anos – nós também adoramos teorizar (risos) – ao contrário, é colocar essa produção a serviço da arte, da obra de arte. Já falei um pouco disso
aqui e aqui.
Gozos do ofício: praticar, fazer, exercitar, ensaiar, treinar, experimentar, repetir, apresentar, construir, e também pesquisar e estudar, muito! Precisamos fazer mais e falar menos. Um ator ou um encenador não se constrói dos discursos que profere, ele se afirma a partir da obra com a qual se apresenta. Isso. É a obra que apresenta o artista... é sempre mais do mesmo: ler o prefácio do Retrato de Dorian Gray e rir das nossas pretensões. Menos discurso e mais ação. Menos teoria e mais prática. Ou pelo menos meio a meio... disse o teórico.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Antagônico da velocidade

Comumente, quando Marcelo F, em sala de treinamento/oficina indica o antagônico da velocidade, as pessoas começam a correr, pois é a primeira coisa que lhes vêm à cabeça. Claro que tem fundamento, mas percebendo esse tipo de deslocamento total do corpo, ele automaticamente se esgota e o corpo fica em posição de conforto. E quais as outras alternativas? Primeiro, considero velocidade a partir do conceito de Vitor Barbosa: "a grandeza que mede o quão rápido um corpo se desloca". Mão é corpo, mente é corpo, cabeça é corpo. Alguém pode levantar a questão de que são partes de um corpo, mas entendo também que a parte só é parte quando se relaciona com um todo. Por exemplo, a mão só será parte se eu a relacionar com o corpo. Assim, mão é parte do corpo... humano. Entretanto, quanto eu relaciono a mão com as partes que a compõe (unhas, dedos, ligamentos, músculos, ossos) ela torna-se um todo independente, inclusive para gerar significados. Então, todas as partes podem ser consideradas como um todo. Desse modo, a mão pode agir de forma veloz independente do restante das partes do corpo; a cabeça, idem. Onde houver poder de mobilidade e articulação, haverá essa independência das partes no antagônico da velocidade.
Esse antagônico oscila e alterna, sobremodo, os vetores acionados, dependendo aí do que está rapidamente se movendo. Exemplificando, uma das mãos giradas aleatoriamente à frente do corpo está acionando mais o vetor do peito. Acima da cabeça e com mesmo movimento, o vetor do céu. Quando se faz o contrário (mão sendo aleatoriamente girada à frente do corpo e com o vetor das costas mais acionado, haverá uma certa desaceleração e imobilidade no movimento da mão, pois a energia que deveria ser gerada para a velocidade estará sendo utilizada para outro fim (buscar aporte no vetor das costas). O ator de rebolar (deslocamento da cintura pélvica em forma circular) estará com todos os vetores acionados. 

O importante, neste antagônicos é tentar decupar o corpo do ator, buscando perceber sua independência, para que a energia não se esgote num único movimento árido e inexpressivo.


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Fragmentos de uma entrevista anunciada...

(...) O que consolida um grupo de teatro é o ofício. Ele se estabelece, principalmente, com a produção artística e a circulação de seu repertório. Esse tem sido nosso principal objetivo e conseguimos constituir uma trajetória significativa para Pai & Filho que, em abril de 2012, completará dois anos de carreira: dois Prêmios Myriam Muniz, oito festivais e a possibilidade de fazer chegar nosso dizer a diversas plateias brasileiras.

A notícia da seleção de Pai & Filho para participar do Palco Giratório – Rede SESC de Difusão e Intercambio das Artes Cênicas, confirma essa trajetória. Esse projeto é o sonho de consumo de muitas companhias e a pequena não sonhava diferente. São poucos grupos selecionados por ano, o que nos coloca em um patamar privilegiado. Esse grupo seleto de coletivos é escolhido anualmente por curadores de todo o Brasil. Vários estados brasileiros jamais participaram do projeto, e o Maranhão estava entre esses. É uma conquista inédita. Isoneth Almeida – curadora do MA – deve ter feito uma grande defesa e a qualidade da obra dever ter auxiliado um pouquinho (risos). Nós sempre procuramos trabalhar com seriedade e acho que é o que vem nos fazendo avançar. Pai & Filho já esteve em catorze cidades de sete estados brasileiros e acho que de Balsas a Santos, de Sobral a Presidente Prudente nosso grau de comprometimento fica evidente. Sejam plateias de dez ou de cem espectadores. Claro que um projeto desse porte nos motiva ainda mais, mas uma apresentação de Pai & Filho tem a mesma intensidade, seja no Riachão – menor cidade onde o espetáculo foi apresentado – ou no Rio de Janeiro (...)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Os antagônicos do pai - 2

Há uma postagem falando um pouco sobre como se chegou aos antagônicos do Pai, que pode ser acessada clicando aqui. No aspecto dos vetores, tentarei viabilizar a minha fala a partir do diagrama que se segue:
O antagônico/guia do pai é o peso. O que o contamina é a força. O peso é a potencialização da força exercida pela gravidade no corpo. O vetor terra (1) é acionado, sobremodo, como se o mundo estivesse às costas. Há um achatamento do pescoço, arqueamento dos ombros, lentidão ao caminhar pelo excesso de peso exercido sobre os ombros. A lombar e as articulações são exigidas para sustentar o corpo que perde a retidão. Assim, os vetores tomam um outro sentido. A força é necessária para antagonizar/dialogar com o peso, sendo inviável a mobilidade do corpo que pesa sem ter força necessária para tal. O nível de tensionamento para que essa força "ganhe" do peso dá espaço à tensão enquanto força  antagônica. Esse nível de tensionamento faz com que o vetor céu (2) exista no corpo, ampliando sua presença. Exemplificando, o peso é exercido para sustentar o corpo no chão. Há necessidade da força para elevar a perna que se movimenta. Há um tensionamento em nível de musculatura no sentido chão/céu (1/2) para que a força possa se fazer presente. Tudo existe, e não dá para excluir os vetores, mas para efeito didático e compreensão dos antagônicos, os vetores podem e devem ser revisitados. Nesse caso, há uma diminuição da exigência do vetor do céu (2) em detrimento do vetor da terra (1). Com isso, o pai torna-se uma personagem cansada, com uma força exigida pelo peso que carrega (filho, compromisso, responsabilidade, trabalho) e com os pés no chão (racionalidade, trabalho) contrastando com os antagônicos do filho.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Você sabia que...

... a pequena companhia de teatro foi selecionada para participar do Palco Giratório 2012 – Rede SESC de Difusão e Intercambio das Artes Cênicas? A defesa foi feita pela curadora Isoneth Almeida – DR/MA, no Rio de Janeiro, que comunicou a notícia no último dia 19, para nossa surpresa. O resultado completo será divulgado nos próximos dias. O espetáculo selecionado foi Pai & Filho, e será acompanhado pelas atividades formativas que o grupo dispõe no seu repertório. É a primeira vez que um coletivo maranhense participa do projeto nos quinze anos de existência. A postagem de Marcelo Flecha deste domingo será suspensa para que a notícia permaneça mais tempo em destaque no cabeçalho do blog. Grande, pequena!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Antagônicos e os vetores

Na matemática vetores são segmentos de retas orientadas, tendo mesma direção e sentido. No teatro utiliza-se o mesmo conceito para relacioná-los na perspectiva do corpo dilatado, vivo. Forças que são exercidas potencializadoras do corpo exigido em cena.
Maurício Abud, Silvana Abreu, Luis Louis, Barba, Burnier... todos buscam/buscaram essa presença viva do ator em cena através dos vetores. Esse fluxo de energia é percebido através de sensações... físicas. O (1) é o enraizamento. Abrir os artelhos, fazer com que a planta do pé grude no chão, e que o ponto de equilíbrio seja confortável. Quadril encaixado, tensão na musculatura e nos tendões das pernas. O (2) equivale a ser puxado pela nuca, como se um fio existisse ligando o (1) ao (2). Estatura aumentada em alguns centímetros. O (3) é encaixar os ombros, que comumente ficam caídos. Recolocá-los no seu devido lugar. A força de tração existe entre os pontos. Como se ampliasse nossa envergadura. Tudo se amplia, pois o princípio aqui é o da dilatação. Corpo ampliado, dilatado, vivo. O (4), como que um farol estivesse apontando para a frente, e esse farol fosse a região dos mamilos. Inevitavelmente, o corpo será projetado para cima, o que será equacionado pelo vetor (5), como se fossem asas a se mostrar. Corpo preparado e pronto. Assim é um corpo dilatado. No início das apresentações de Pai & Filho, é a primeira das preparações que faço antes de entrar em cena. E em cada um dos vetores, fico de 10 a 20".
Em se tratando dos antagônicos, esses vetores terão sua força alterada ou excluída quase que por completo. Quando há contaminação de outros nos escolhidos para a origem das personagens, há uma mudança significativa dos vetores, mudança no aspecto da multiplicidade deles. É que a dilatação expande; outros, não. Vou me debruçar um pouco sobre eles para compreendê-los melhor, dando espaço, obviamente, para as impressões de diretores e de espectadores. Quanto a mim, continuo a ser somente, e tão somente, um ator.

domingo, 16 de outubro de 2011

O espaço como instrumento de dramaturgia

Fui convidado para participar de uma mesa que vai discutir “Espaço em Foco – O Protagonista da Cena Cultural”, na 6ª Mostra SESC Guajajara de Artes, e vou concentrar meu argumento no poder dramatúrgico que a espacialidade exerce sobre a obra teatral. A investigação espacial sempre foi objeto do meu processo criativo e já transitei da rua para o palco, do alternativo para o clássico, da arena para o italiano, desenvolvendo uma análise sobre o espaço cênico, que culmina com a última experiência da pequena, quando Pai & Filho se apresenta como receptor de quase todas as alternativas citadas.

Portanto, a apreciação que aqui faço não trata da qualidade do espaço, e sim da relação palco-plateia arguindo a encenação e dotando-a de maior potencial dramatúrgico. A posição do espectador em relação à cena é instrumento de discurso, consequentemente, possuidor de conteúdo. Quando convidamos o espectador a circundar a cena em O Acompanhamento ou em Deus Danado, estamos reforçando um conteúdo, buscando uma relação de diálogo – constrangedor, incômodo e inconveniente no primeiro, e sufocante, dolorido e angustiante no segundo. Em Pai & Filho, quando a partir da porta abre-se a perspectiva até atingir a plateia, procura-se trazer o espectador para dentro do conflito, reforçando a percepção de confinamento – esteja montado em espaço alternativo ou clássico.

A opção do espaço, a distribuição da plateia, a pesquisa de ambiência não deve ser tratada como um modismo, uma alternativa de distinção ou uma opção revolucionária ou contestadora de padrões – seria mera perfumaria. Essa necessidade precisa ser demandada pela encenação, qualificando seus dizeres, redefinindo seus caminhos e complementando o discurso. Caso contrário, levar uma peça para dentro de um ônibus, de um contêiner ou colocar o espectador no palco sentado em uma samambaia, não passará de mera pirotecnia – a cosmética do espaço.

domingo, 9 de outubro de 2011

Entre o cuscuz e a empada

Não tenho tido tempo. Sempre procurei reger minha vida com coerência e equilíbrio para que a cobiça e a ambição não comprometessem meus momentos de prazer – que não passam de um bom jantar em família acompanhado por um bom vinho em um ambiente agradável e caseiro. Detalhes. A vida é feita de detalhes e às vezes perdemos a noção da importância destes para o prazer cotidiano. No momento, a ambição não é econômica, porém, artística: Myriam Muniz por concluir, problemas técnicos a resolver (lembram do reboque?), um grande projeto em processo no SEBRAE, editais abertos esperando propostas, projeto acadêmico em crise, lançamento do meu livro em Mossoró, temporada regular de Pai & Filho em SLZ, novo espetáculo, romance esquecido, intenção de investir parte do meu capital na compra da nova sede da companhia e uma intoxicação alimentar que comprometeu todo o fim de semana. A grande vantagem de certas enfermidades é o delírio criativo provocado pela febre. Não houve, nem isso. Admito, meu mau humor é crônico, e consigo reclamar até do que qualquer um almejaria... menos a doença. Só queria um tempinho para poder concluir a eterna reforma da casa... é nela que vivo (risos).

domingo, 2 de outubro de 2011

Indivíduo & Coletivo

foto Fábio Flecha

O que é coletividade? Quanto de individualismo cabe em um coletivo? Minha geração cresceu acreditando na utopia socialista e a própria sociedade se encarregou de tornar-nos cada vez mais egoístas. Alguém se importa com o outro? Alguém sabe quem é o outro? Alguém se preocupa com outra coisa que não o próprio umbigo? Vivemos a contemporaneidade do indivíduo camuflada em CNPJs. Um amigo, certa vez, narrava o caso de sucesso de um coletivo onde cada um dos membros desenvolvia projetos individuais sem diálogo algum entres suas pesquisas: eu sorri, achei curioso. Porém – se o foco é comungar de um objetivo comum – generosidade, paciência, respeito, tolerância, solidariedade, são algumas das palavras que auxiliam a mediação entres os pares. Entretanto, a mediação nem sempre é possível, e o desgaste é maior para quem se propõe a mediar. Nós somos quatro e também temos nossas questões. Penso que a atual é: como consolidar um coletivo respeitando cada indivíduo formador?

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Entressafra

Sinto-me assim, esperando o tempo passar, as coisas se resolverem por conta própria, as folhas já amareladas, a árvore seca, o corpo gordo e flácido pela ausência de atividade física, os neurônios inativos. Dois projetos por elaborar, 1 + 1 por executar, 1/2 de um por concluir, roupas sujas e amarrotadas, cama sem ninguém ao lado. 
Atores sempre são trágicos - e a vida é dulcíssima. O desejo de avançar sempre, de ocupar a mente e o corpo, de exigir a vida como se esgotasse o sentido, mero sentido de ser. A ausência do relógio não despreza o tempo, nem cauteriza a ferida. A ansiedade tombou o bonde, a história escrita, o ar inalado. Tudo é motivo para não se dizer preguiçoso e desmascarar a inutilidade da vida. 

Engrenagens, roldanas, cabos. 

Zzzzzzzzzz.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Quando estamos prontos?


Chegamos à metade do projeto de circulação de Pai & Filho contemplado com o prêmio Myriam Muniz de Teatro. Seis cidades (Timon, Teresina, Sobral, Fortaleza, Mossoró e Natal), quatro estados, dezoito apresentações, dezoito debates, cinco oficinas, seis montagens, seis desmontagens, alguns pregos, teatros, hotéis, praias, piscinas, estradas, saunas, mecânicos, restaurantes e o principal: amigos.

Creio que cada um de nós quatro têm impressões e opiniões totalmente diversas quanto às recentes experiências da pequena e seus desdobramentos. No meu caso, a primeira expectativa de pertencer a um coletivo e ver seus espetáculos circulando o pais remonta ao início da década de noventa com O Santo Inquérito do Grupo Ger“Ar-te” de Teatro. O primeiro destino seria São Luís e a peça não passou da primeira apresentação no IV Festival de Teatro Sul-Maranhense. Depois, a serviço do Centro Cultural Ópera Brasil isso se concretizou com óperas e balés viajando pelo Brasil com um número inimaginável de pessoas – mas era uma grande companhia de ópera e não um grupo de teatro. Espetáculos como O Último Discurso, Marat-Sade e Ramanda e Rudá esboçaram a iniciativa, mas este último não passou de Teresina. Trabalhando com uma Cia. irmã – A Máscara – a concretude esboçou contundência e espetáculos como Medeia e Deus Danado ganharam estrada. Somente com a consolidação da pequena é que o fato começou a se formalizar para mim como membro de um grupo e a nossa lógica de circulação começou a ganhar metodologia com viagens de O Acompanhamento e Entrelaços pelo interior do Maranhão. Agora, Pai & Filho nos oferece alguns caminhos, muitas estradas, inúmeras dúvidas, vários festivais, diversas inquietações, alguns prêmios e pouco tempo para avaliar o que conquistamos. Como veem, sonhos demoram a se realizar e demandam uma dedicação que nem todos estão dispostos a pagar: isto separa os artistas de todos os outros loucos que habitam o mundo.
A foto foi tirada por meu primo Fábio Flecha no debate em Mossoró. Apesar do cansaço e das rugas, a expressão não esconde a satisfação de um velho diretor de teatro.

sábado, 24 de setembro de 2011

Jornada vai; jornada vem

Chegamos de uma pequena-longa-jornada com Pai & Filho, através do Prêmio Myriam Muniz de Teatro (Funarte/MinC/Governo Federal). Algumas dores no corpo, alguns desejos sublimados, outros guardados, ideias, impressões, tudo que uma viagem sempre mostra por detrás das janelas, das pessoas, das situações e circunstâncias.
Mossoró - apresentação especial para o elenco do Auto da Liberdade

Meu corpo necessitou de massagem, sauna, piscina, descanso. Tentei acompanhar a oficina em Mossoró, mas o corpo rejeitou a ideia no primeiro dia. Senti falta da musculação. Essas jornadas diárias de espetáculos intercalados por descolamentos exigem força e vigor do corpo. Se está despreparado, repercute em cena.
Natal - o barracão sem os clowns e com os pequenos

Misturam-se nesses instantes um prazer sem igual, uma desilusão descomunal, deslizes, sadismos, masoquismos, rupturas, aceitação, revolta, culpa. Do que se fez ao que se fará e os prazeres que ainda virão. O que temos, conquistamos e merecemos. O que ainda está por vir demanda um certo esforço e razão de ser. Outras jornadas à mostra, e com elas a experiência de viajar nesses últimos dias reencontrando amigos, fazendo outros, conversando sobre teatro, mostrando o nosso dizer. Motivações para o viver ainda nos sobram. 

domingo, 18 de setembro de 2011

Amor, amigos, teatro & destempo

Deixamos Mossoró, contudo, Mossoró nunca me deixa deixá-la. Tony, Luciana, Jeyzon, Damásio... nomes de uma Cia. que moldam meu próprio nome a cada encontro. Além das três apresentações de Pai & Filho, sessão extra para os atores do Auto da Liberdade e gente sentada no chão. Noutra, a atenção de Lázaro, representante do SESC, apoio fundamental durante nossa jornada. Melhor do que ter produtor local é ter amigos: e lá estava Mescias para qualquer obra. Oficina, oficineiro e oficiados repletos de disposição. Agora já escrevo desde Natal. Arlindo nos recebe no Barracão dos Clowns e a montagem está concluída. Estou exausto. Poucas horas de sono – evidente despedida d”A Máscara prolongada até as quatro da manhã, algumas horas no volante, subidas e decidas do andaime e uma pousada deliciosa como recompensa... Somos merecedores do amor que recebemos, ou só recebemos para que percebamos quão carentes desse amor somos?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Em Fortaleza são 13h28. Em Mossoró também

Ontem, primeira apresentação em Fortaleza. Revi Mário Filho. Qualidade em detrimento de quantidade. Bom tudo: debate e apresentação. Satisfeitos, fomos ao jantar nosso de cada dia, na "mesma praça e no mesmo banco". As flores nunca são as mesmas, e com isso o jardim das Oliveiras pode se transformar no dos Santos, dos Silvas. 

Ontem, percebi-me repetindo uma máxima (máximas se repetem, senão seriam mínimas) de que o prazer existente só se sentencia quando o outro orgasma contigo (metaforicamente falando, pois literalmente isso é uma grande bobagem). Exige-se muito do ator para que ele não ejacule antes do espectador. O diretor/encenador é apenas um voyeur nessa relação. 

Hoje as circunstâncias são diferentes e não há nada de novo no front. Diferentemente seria o cotidiano exercer a sua função primeira e repetir a dose do xarope para a tosse. É o desconforto que muda. 
Amanhã, em Mossoró e em Natal os dias serão celebrados diferentemente de todos os dias, mesmo com as repetições existentes. O cotidiano nos engana quase sempre. O ator se reinventa na mesma proporção que a vida se mostra.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Local das apresentações e oficina em Mossoró

O local das apresentações de Pai & Filho e oficina será no hotel Villa Oeste. Dias 15, 16 e 17 de setembro, às 21h30, no Salão Seridó. A oficina ocorrerá no mesmo lugar, das 14 às 18h. 
Os ingressos - limitados - serão disponibilizados na recepção do Vila Oeste ou no próprio Salão Seridó a partir das 20h30. O link do hotel é http://www.villaoeste.com.br/inicio.html caso não saiba sua localização.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

... e o sol se despiu

Sob o sol de satã, chegamos à metade da jornada. E ele nos aguardava. Satã. Penas e glórias. Récitas em Sobral esgotadas em cinco minutos. Quebra-mola, quebra de mola, quebra-cabeça. Atenção em Fortaleza, digna de reis. Rolamento estourado, orçamento estourado, estouro de boiada. Calma! Ainda não debandou ninguém. Eu disse ainda (risos). Penas e glórias. Mais penas? Mais glórias? Depende de quem vê. Circular com um espetáculo, apresentar-se diariamente, visitar cidades, provar novas plateias, ser recebido dignamente (sabendo que Mossoró nos receberá euforicamente), democratizar nosso processo, é tudo o que um artista de teatro pode querer. Acho que sou o único na companhia que já viveu a experiência com certa regularidade: circulei pelo Brasil afora, e um pouquinho no exterior, com óperas, balés, peças de teatro e musicais, mas agora é diferente. É um processo, uma construção, a consolidação de uma identidade, a concretude de um caminho iniciado por nossa companhia há anos e, no meu caso pessoal, mais de duas décadas atrás. Penas ou glórias? Para quem viveu sua vida pregressa sobre os eixos da Transbrasiliana, dormindo dias, ao relento, à espera da próxima lotação, chegar a destino no mesmo dia é uma dádiva. “Benza, Deus, pra não botar quebrante!”, disse o ateu.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

The show must go on

Hotéis rimam com pastéis e doutores rimam com atores. Tarefa difícil se percebermos que a morte na vida de um profissional de medicina é algo a ser evitada. Difícil é superar quando a "indesejada das gentes" aparece sucumbindo o ofício. Para o ator, a vulnerabilidade na qual se encontra quando em cena é comparável ao médico que retira de seus conhecimentos o esforço para alterar a linha da vida de alguém, tornando-a mais estável ou prolongada. Ele, o ator, detém as técnicas, conhece seu corpo, sabe o que fazer, reconhece o espaço e as marcações, sabe de seu ofício, esmera-se em expor sua virtuose no intuito de agradar a quem o especta suas virtudes profissionais a ponto de perceber que seu trabalho é digno de apreciação, reconhecimento e aplauso. 

Quão frágil é o ser quando se percebe nessa situação, como o mar que tem suas características, mas é cíclico em suas marés. O ator e suas personagens estão circunstancialmente velejando em uma nau que oscila sempre. Estar numa corda banda sem seguro de vida é para os fortes ou para os tolos. Sempre me considero um quando estou com a morte lambendo-me por entre o sulco das nádegas. Muito a aprender tenho eu. E por último, Sobral rima com Bacabal.

domingo, 4 de setembro de 2011

Quando um sol se despe


Estamos prestes a embarcar rumo à segunda jornada do projeto de circulação de Pai & Filho, contemplado com o Prêmio Myriam Muniz de Teatro: Sobral, Fortaleza, Mossoró e Natal. Do dia 06 ao dia 23 de setembro, serão quatro montagens, doze espetáculos, doze debates, quatro oficinas, quatro mini-lançamentos, quatro desmontagens e três mil e duzentos quilômetros rodados. Tudo em dezoito dias. 07, 08 e 09, no Teatro da ECOA, em Sobral. 11, 12 e 13, no Teatro Emiliano Queiroz, em Fortaleza. 15, 16 e 17, em Mossoró, em local ainda indefinido. 19, 20 e 21, no Barracão dos Clowns, em Natal. Um Ford Fiesta, um reboque e quatro personagens à procura de um espectador. Sob o sol de satã, estaremos construindo nossa história e quiçá interferindo na história de outros. Espectadores. Quem são eles? Com o olhar nos atravessam, feito um relâmpago, mas nós nunca os vemos verdadeiramente. Deles nada sabemos e para eles expomos e despimos todas as nossas angústias, alegrias, conflitos, dores, desejos e delícias. Seres anônimos e indiferentes ao nosso processo. Para eles nada importa: se a viagem cansou, se a produção falhou, se o galo não cantou, se o demo conspirou. Só importa o espetáculo, objeto fim da nossa caminhada. O que fica? Uma lembrança? Uma sensação? Um panfleto? O que permanece vivo em nós depois de cada espetáculo que assistimos?

sábado, 3 de setembro de 2011

La strada


A partir da iniciativa do governo federal de disponibilizar recursos públicos para montagem e circulação de espetáculos teatrais, companhias puderam amadurecer, conhecer novos grupos, experimentar novas plateias e garantir a sustentabilidade de seus repertórios. Essa realidade plasmou-se na Pequena Companhia de Teatro, através do Prêmio Myriam Muniz de Teatro. Esses recursos viabilizaram a montagem do espetáculo Pai & Filho, em 2010 e, agora, levam a encenação a doze cidades de seis estados diferentes.

Na bagagem, o espetáculo carrega as participações no XVII FENTEPP – Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente, do XVII Festival Nordestino de Guaramiranga, do Festival Agosto de Teatro, em Natal, do 53° FESTA – Festival Santista de Teatro, do 18° Festival de Teatro do Rio, do FestLuso 2011 – Festival de Teatro Lusófono, em Teresina, além da 5ª Mostra SESC Guajajara de Artes e da VI Semana do Teatro no Maranhão, em São Luís.

A trajetória de Pai & Filho confirma a importância de editais, prêmios e fundos de cultura para o fortalecimento dos coletivos teatrais que não regem suas ações pelas demandas do mercado e sim pelo poder transformador que o teatro oferece.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Definitivamente não é definitivo

Quando estamos um pouco distantes, reencontramo-nos para o que chamamos de manutenção do espetáculo. Ensaios, treinamento. Nossa experiência diz que de 1 a 2 semanas são suficientes para refrescar a memória, redefinir algumas marcações, corrigir outras, dilatar a musculatura, estar pronto para as apresentações que se mostram.

Nessa última viagem, entre Timon e Teresina, experimentamos apresentações em ritmo de ensaios: de segunda a sexta foram seis, sendo que no último dia uma seguida da outra. 
Algumas marcas foram alteradas, percepções de energias diferentes, conflitos reforçados. Tudo ali, como se fossem ensaios. Pego-me a pensar no que comumente acreditamos e verbalizamos que é: a partir da estreia outro espetáculo se forma e a cada apresentação, um novo se faz. Quando nos sentirmos satisfeitos, devemos desistir dele. 
Fica mais fácil compreender a dinâmica do ator nessas condições, como os humores se alteram e como/quando isso interfere na relação com o outro ser, com a outra personagem; que circunstâncias levam-nos a determinados fluxos de energia e não a outros. Nesse turbilhão de ocorrências, as postagens se tornam mais vívidas, mais precisas acerca do fazer. Títulos dizem o que foi feito; ação ocorre e pronto. Somos gente de teatro. Viver na ação é respirar cotidianamente o encontro com o outro.

domingo, 28 de agosto de 2011

Diário de Teresina

Na oficina

26/08/11. Sexta, 2:30 AM

Teresina nos recebe com um grupo interessante de participantes da nossa oficina. O nível surpreendeu e o rendimento dos inscritos possibilitou um bom resultado. Falta saber quantos restarão amanhã, depois de terem provado quatro horas de treinamento intenso. Prometo contar. À noite o espetáculo. Casa cheia. FestLuso. Acho que o horário de 23:00 horas afetou a energia, mas os debates sempre contestam minhas impressões... as pessoas são condescendentes com nossas falhas, pelo menos na nossa frente (risos). Depois, uma das melhores partes, os quatro no quarto de hotel, rindo de nós mesmos.

28/08/11. Domingo, 2:12 AM

Pulo no tempo. Já passaram as duas outras apresentações, as duas últimas jornadas da oficina e a reunião com os diretores. Missão cumprida e comprida. O saldo final nos regozija. Gente voltando da porta na última apresentação, as baixas na oficina foram muito poucas, e o encontro com os diretores, sempre um papo informal e agradável. O FestLuso é um espaço onde me sinto bem. Talvez pela proximidade com os organizadores, amigos que tornam o encontro algo mais do que ofício. Sobram as impressões sobre o espetáculo: seis apresentações em cinco dias e oscilações de energia, ritmo e modulação a serem observadas. Contudo, o espetáculo ganhou em contundência. Fim da primeira jornada de Circulação de Pai & Filho pelo Myriam Muniz. Ainda faltam cinco.



Nas alturas