quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Eu me manifesto


O teatro não é casa de ninguém. Não há ditadura do texto, do cenário, da indumentária, da estética da fome de um povo secularmente faminto por manifestações do seu próprio ser, tão pouco a ditadura do corpo que se molda. Teatro não precisa ser conflituoso ao extremo. O conflito é interno, o expectador é o seu próprio ator-autor-encenador. A exigência da existência do teatro deixou de ser a catarse. Ele é visceral. Não é ator sem órgãos, mas sim como potência de ser preenchido esse vazio. Quando se diz sem órgãos evita-se pensar no vazio enquanto potência. Ela vem daquilo que o ator-compositor-dançarino-encenador-performer-expectador exerceu, viu, experienciou em todos os minutos desta vida, da vida de seus pais, de seus avós, de seus ancestrais. São essas referências que interferem nesse espaço vazio que jamais será preenchido. E é essa insaciedade que fará o teatro crer ser vida, gênero de primeira necessidade. O pão deixará de ser posto à mesa para ser devorado, consumido nos palcos existentes no interior e fora de nós. Essa percepção do teatro-vida existirá quando o espaço-vazio possível, dos que fazem,  for povoado de matizes coletivas que exercerão uma espécie de transe àqueles experienciadores devidamente fisicizados  participarem e se sentirem pertencentes à não-ação. Teatro é ação na não-ação. O não-conflito existente no conflito. Teatro-vida é anterior ao teatro; anterior à ação. A força motriz, a energia vital, o impulso, essa sensação de virilidade, da protuberância entre as pernas juvenis é o teatro que se mostra capaz de ser potência criadora. O não, existente em uma boca carcomida pelo tempo, pela técnica apurada, pela virtuose, será ineficiente sempre. O hoje se efetiva na improvisação enquanto instrumento, na essência das coisas. O que fica, fica. O que se dilui, se dilui. Teatro é efêmero, surge da necessidade de incorporar a ineficiência divina. A performatividade é inerente ao teatro do ator solitariamente completo, pois que ele sempre permanecerá sendo parte. Parte daquilo que se constrói, buscando destruir sempre. Remodelar, reformular, nunca! Construir para destruir, sempre! A saída deixa de ser uma porta entreaberta para ser paredes sólidas e flexivelmente leves,  com asas...