sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Diálogo da dança com o teatro

O ator, em situação de representação, necessita de outros elementos, que não o texto dramático, para compor a cena. "Dizemos que essa maneira particular de construção da cena e da personagem é uma maneira não interpretativa de representação", já que "a interpretação está intimamente relacionada com o texto dramático", o que não inviabiliza a utilização do texto em dado momento do treinamento, mas ele não servirá de matriz para a cena. É fundamental que neste momento inicial o ator esteja somente, e tão somente, com seu corpo e com a carga de informação que é inerente ao seu existir. 

Entretanto, esse desejo de usar o corpo para expressar/dizer algo “não determina o que ele deve fazer, os procedimentos que adotará. A expressão do ator, de fato, deriva — quase apesar dele — de suas ações, do uso de sua presença física. É o fazer, e o como é feito, que determina o que um ator expressa". Isso ocorre tanto na dança, como no teatro — obviamente, na visão de um dançator. 

Como improvisação, a dança no teatro pode vir a funcionar como processo para a composição ou enquanto instrumento em cena. A bem da verdade, ela já vem sendo utilizada em quase todos os processos de composição do ator. O diferencial, talvez, seja que ela está diluída, dessacralizada por constituir matéria de dançarinos/bailarinos — visão equivocada e que o autor desta postagem discorda. 

Os mecanismos de análise do movimento coreográfico, como o croqui e o storyboard devem ser utilizados para o ator-compositor ou ator-performer, além do chamado diário-de-bordo, para consubstanciar seu processo criativo e de significação, muito mais do que o vídeo, pois esse último tem uma visão limitada se comparado à planta-baixa. 

As matrizes utilizadas no início do processo devem ser experienciadas ao extremo para que despertem o processo criativo, e transformem os movimentos corporais em expressividade para a cena. 

Da mesma maneira que no teatro se utiliza de elementos pré-expressivos, a dança também o faz. Não esqueçamos que tudo faz parte de um único treinamento, que coloca o ator-dançarino em prontidão. Não que eu esteja dizendo que o trabalho com as danças de salão estejam na pré-expressividade, não. Ao contrário, é exemplo de treinamento expressivo. Falo dos alongamentos, que diferem, em muito, dos praticados pelos atores em teatro, pelos atletas em academias. Os propostos ampliam o corpo no espaço, conscientizam a musculatura de forma mais expressiva, interferindo, sobremodo, na fluidez, nas estruturas espaciais e nas dinâmicas. 

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