segunda-feira, 30 de agosto de 2010

De volta

Fotos Fernando Martinez

De retorno ao Maranhão, voltamos às postagens semanais. Eu às segundas. Cláudio às quintas. Quer saber o dia de Kátia e Jorge? Clique aqui. Dia 06 de setembro outra jornada teatral começa: Festival Nordestino de Guaramiranga – FNT. Se houve conexão, pretendemos trazer para este canal nossas impressões sobre a mostra. Até lá, estamos trabalhando no encaminhamento de outro projeto de circulação de Pai & Filho, agora para a região centro oeste. O prêmio Myriam Muniz que recebemos recentemente vai fazer o espetáculo circular por duas regiões do país, norte e nordeste, em doze cidades dos estados do Piauí (Teresina e Parnaíba), Pará (Belém e Marabá), Tocantins (Palmas e Araguaína), Ceará (Fortaleza e Sobral), Rio Grande de Norte (Natal e Mossoró) e Maranhão (Santa Inês e Timon), três apresentações por cidade, totalizando 36 apresentações, com entrada franca. Também vamos levar para essas doze cidades a oficina O Quadro de Antagônicos como instrumento de treinamento para o ator, além dos indispensáveis debates no final de cada uma das apresentações. No FENTEPP mantivemos nossa prática e o debate correu bem. Acreditem, é uma prática que não vi como rotina das companhias. Nenhum dos espetáculos que assisti disponibilizava um espaço para a discussão depois das apresentações. Nós insistiremos. Guaramiranga oferece uma vivência na manha seguinte de cada apresentação, ainda assim, estamos negociando com a organização para que nosso debate após a apresentação também aconteça. É nos debates após as apresentações que está o público não especializado e esses pareceres também são importantes para a nossa avaliação.

sábado, 28 de agosto de 2010

Palavras finais

Foto de Fernando Martinez
Distante da produção brasileira, principalmente paulistana – a última vez que estive em contato com ela foi na temporada de Deus Danando no SESC Paulista em 2008 – confesso que nada me arrebatou. Não é uma crítica ao festival, é uma observação sobre a "safra atual" – expressão cunhada, ou pelo menos aplicada por um dos curadores do FENTEPP, Sidnei Martins, no debate de hoje à tarde sobre Crítica e Curadoria. Vi espetáculos muito bons, mas aquela sensação de habitar o fim do mundo e comprovar a qualidade da produção no centro do mundo – só escorrego na ironia porque é pertinente para boa compreensão do comentário – não aconteceu. Espetáculos corretos, alguns divertidos, uns contundentes, outros um tanto quanto óbvios, alguns pesquisados, outros mal amanhados, mas nenhum me arrebatou como, em outras ocasiões, O cantil arrebatou Jorge ou Till arrebatou Gilberto ou... sobre Cláudio prefiro não arriscar. Eu costumava ser arrebatado pelos poucos espetáculos que visitavam a cidade de Balsas em meados dos anos 80 (risos). Tudo era novo. Hoje tudo está velho. Ontem vi a disputa entre tradição e modernidade (grosseiramente falando): Gardênia x Cartas do paraíso. Pro incrível que pareça a tradição ganhou de goleada. Mas ainda é pouco. Por que atualmente o cinema brasileiro está tão à frente do teatro? Posso citar um numero significante de obras recentes que me arrebataram, que me fizeram sentir aquela inveja branca de dizer: como gostaria de ter feito esse filme... Me pergunto se meu olhar não estará viciado e envelhecido ao ponto de não conseguir mais enxergar. Talvez esteja, mas posso lhes garantir que, sentados nas plateias de São Paulo, São Pedro, São Lucas ou São Luís, estamos vendo as mesmas coisas, boas e ruins. Espectador privilegiado do FENTEPP que fui, encerro agradecendo a oportunidade de VER.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Encontros e desencontros

Pese a todas as qualidades do FENTEPP, um fato me causa estranheza e incompreensão. O esvaziamento do festival no que se refere à permanência dos membros das companhias para estabelecer um encontro de fazedores. Posso dizer que estou só. Claro que estou tendo a oportunidade de acompanhar boa parte da produção teatral, principalmente do estado de São Paulo. Também é claro que o foco do festival é oportunizar essa fruição à comunidade prudentina. Mas e o teatro? E as companhias? Qual é mesmo o benefício de chegar, ser visto por um número não maior do que 300 pessoas, receber o cachê e zarpar em busca de outro? A culpa não é do festival. Ele hospeda um membro de cada companhia selecionada durante toda a jornada caso o grupo deseje. Ainda assim, o encontro não se efetiva. As companhias chegam se apresentam e se vão. Lembro que alguns de nós, membros da pequena companhia de teatro, temos experiência em organização de festivais e mostras que remete ao final dos anos oitenta no interior do Maranhão. Sempre pensamos nesses encontros como um espaço para dialogar sobre o nosso fazer. Foi em um desses festivais, por exemplo, que conheci Cláudio Marconcine, par e amigo permanente de inquietações nas últimas décadas e mais recentemente membro da companhia da qual faço parte. Foi em mostras que conheci Gilberto Freire de Santana, amigo, irmão e confidente cultural desde o primeiro dia em que o nosso encontro se deu. Foi neste FENTEPP que conheci Márcio Marciano, distante de poder chamá-lo de amigo depois de algumas conversas esporádicas, mas pessoa presente durante todo o festival – fator que favoreceu a discussão das aflições de quem ter por vida o teatro. Penso que os encontros de teatro, além de trazer novos espetáculos para as comunidades contempladas, alem de servir de vitrine para companhias selecionadas, além de patrocinar uma ou duas apresentações de uma peça, deveriam ser verdadeiros encontros. Logo teremos uma experiência diferente. Guaramiranga hospeda todos aqueles que queiram permanecer durante o festival. Se o encontro se efetiva? Guaramiranga dirá.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Solidão prudentina

Foto Fernando Martinez
Dias de solidão e teatro. Conversas esporádicas com Márcio Marciano e Kil Abreu pontuam a solidão e servem para constatar que a produção teatral maranhense não existe para o Brasil se ela não circular. Em tempos de internet e suas mirabolantes redes sociais o isolamento nas aldeias continua o mesmo que vivi nos anos oitenta no interior do Maranhão. Não estou falando aqui da produção da pequena companhia de teatro. Estou falando da inexistência de qualquer referência teatral sobre qualquer produção maranhense dos últimos dez anos em qualquer um dos papos. Lembrando que as conversas são com um crítico atento à produção nordestina e com um encenador instalado na região há alguns anos. Há referências à produção recente do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, enfim, referências ao nordeste, do qual não fazemos parte. Referências também à produção do Norte, do qual também não fazemos parte. Nosso pertencimento regional é tão confuso que me pergunto se, morando no Maranhão, sou mesmo Brasileiro. E para mim, um estrangeiro em qualquer parte, isso toca fundo, mas é menos importante. Importante é circular para podermos recolocar a produção do Maranhão no Mapa do Brasil.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A salvação da rua


Hoje, como todos os que já foram e os que virão, foi um dia de teatro. Uma atividade formativa e dois espetáculos. Dia melancólico por dois motivos: um dos pares e minha ímpar favorita não estão mais aqui. Kátia e Jorge retornam para São Luis. Permanecemos Cláudio e eu, óbvio. O outro motivo vem da máscara melancólica de uma atriz do espetáculo que assistimos ontem – por que a criança cozinha na polenta? Não vou falar do espetáculo, só registro a intensidade da máscara deste ser suspenso na desgraça da vida. Melancolia pura, tocante. Aquela máscara carregava um pouco da história do mundo. Por fim, agora à noite, vimos o melhor espetáculo do festival até aqui. Recebidos pela banda “os engomados” (?), num tom inenarrável, gerando a ambiência ideal para ver Domdeandar, da Cia Teatral ManiCômicos. Belo. Agora felizes, abrimos uma garrafa de vinho e brindamos. Amanhã Cláudio parte também.

A desgraça de ter espírito


Ontem, à mesa do jantar, Marcelo F. e eu. Ao lado, o elenco de "Por que a criança cozinha na polenta?", da Cia. Mugunzá, de São Paulo. Nós, compenetrados, falando sobre as incorreções da vida e da estrada, os projetos, as agruras. Eles, eufóricos, felizes por terem se apresentado. Marcelo F. compara a felicidade deles com a nossa após as apresentações. Assim, reflito:

Somos todo energia. Ela se modula. Determinados espetáculo necessitam de um tipo de energia. Outros, de outras. Ao término das apresentações, a energia vai se modulando. Minha reflexão, minha crítica e análise, começa após os aplausos. Fazer teatro sério (sic) requer sisudez (sic)? A parte humana que me sobra, que me cabe, é reflexiva, sempre. O riso embota minha reflexão. Meu clown adormece em berço de bambu. Ele não sorri. Só se mostra. A parte espírito encontra-se em algum lugar por detrás das coxias.

Deixe que digam, que pensem, que falem - 8

Márcio Marciano, diretor do Coletivo de Teatro Alfenim e crítico do XVII FENTEPP, escreveu algo sobre a apresentação de Pai & Filho, no sítio do festival.


Abaixo, o texto na íntegra.

A tradição literária ocidental tem suas figuras emblemáticas. Kafka é uma delas. Tal é o poder de sua obra que o termo kafkiano tem hoje uso corrente. O criador de Gregor Samsa, o indivíduo transformado em inseto, imprimiu em sua literatura traços cinzentos, obscuridades e discrepâncias de modo a metaforizar o mundo administrado. Seu universo parece frio e distante. E é a partir desse universo que a Pequena Cia. De Teatro, de São Luís, concebe seu Pai e Filho, mais especificamente, baseado na “Carta ao Pai”. 


O grupo transpõe para a cena, em forma de diálogos, o texto que o Autor endereçou a seu pai, que não chegou a lê-lo. Trata-se de um longo desabafo sobre a tirania paterna, repleta de detalhes acerca do comportamento irascível desse pai que não consegue entender a perplexidade que abala a sensibilidade de seu filho. 


Essa operação não ocorre sem perdas e ganhos. É fascinante ver em cena o mundo kafkiano transmudado em um ambiente marcado por traços da cultura maranhense. Não se trata de exotismos, tampouco da ilustração regionalista de um mundo estranhado, mas da meticulosa realização de um projeto cênico, absolutamente justificado na confecção de cada detalhe do cenário, da indumentária, dos figurinos e objetos de cena. Não é o Maranhão que se insinua, mas uma fina compreensão de nosso pertencimento ao universo brasileiro. 


Nessa perspectiva, as figuras do Pai e do Filho surgem de forma orgânica, plenamente adaptadas a esse mundo repleto de fios materiais e simbólicos que se entretecem e se emaranham ao longo do espetáculo. As referências dizem respeito a algo mais profundo do que deixam entrever as aparências, dizem respeito às relações de Poder que fundam a cultura ocidental. Aqui as águas maranhenses afloram as margens do Danúbio. 


O trabalho de composição dos atores, a minuciosa definição de gestos e tons de voz, a matemática disposição e reposição dos objetos na cena, tudo leva a impressão de um lugar suspenso no tempo e no espaço, algo semelhante ao que provoca a narrativa kafkiana, uma espécie de contaminação ao mesmo tempo letárgica e exasperada, uma espécie de lucidez embriagada. 


Entretanto, apesar dos inúmeros acertos, algo se perde nessa ousada transposição e diz respeito à intenção mesma do projeto inicial, à disposição de discutir as relações de poder no seio familiar brasileiro. A família pequeno-burguesa de Kafka, historicamente situada numa Europa assolada por guerras, desfigurada pela lógica do Capital em franca internacionalização, em nada se parece com o universo patriarcal brasileiro, marcado pelo mandonismo, pela afirmação da identidade por via da supressão radical do outro. Há diferenças para além das imediatas semelhanças que seria preciso investigar. 


A mera transposição do universo kafkiano, mantidos os ritos de sociabilidade expressos na linguagem, parece não corresponder às especificidades de nossas relações familiares. Seria o caso de se perguntar por que Kafka não escreveu sua carta na forma de diálogo. Talvez porque ele próprio compreendesse a impossibilidade de uma conversa naqueles termos. A uma primeira resposta atravessada do filho, ou a uma primeira insinuação grosseira do pai, talvez a comunicação se rompesse. 


Seria o caso de indagar se a forma dialogada, baseada na inter-relação subjetiva, se o modo dramático de ressaltar o conflito não acabam por ser uma solução redutora. Seria o caso de indagar, se o tempo e o espaço do diálogo, assim como ocorre na “Carta ao Pai”, não ganhariam com uma disjunção não dramática. 

Fonte: Márcio Marciano

Efeito estufa

Vocês repararam para o monte de quadradinhos aqui do lado? Nosso 50° seguidor chegou e ele pensou que fosse passar despercebido. Seja bem vindo. Ótimo momento para nos seguir, já que estamos socializando nossas experiências no XVII FENTEPP Festival Nacional de Presidente Prudente. Hoje, dia de despachar o cenário para Guaramiranga, não deu para dormir até mais tarde, acabamos acordando oito da manhã. Cenário a caminho. Anteontem, Cláudio e eu, vimos o espetáculo Espaço Outro d’Acruel Companhia de Teatro. Nós e outras quarenta e oito pessoas, sob o sol de três da tarde, dentro de um cubículo de acrílico, olhando para fora da praça onde os atores pegavam ar fresco enquanto faziam algumas pantomimas – acho que há exageros na busca da originalidade, portanto, decidi me concentrar em trazer para esta conversa apenas aquilo que realmente me convença. Ainda não dá para fazer uma radiografia do festival, mas destaco rapidamente algumas coisas que se percebem na cidade. Os espaços para a cena – teatros, galpões e afins – são muito interessantes e a procura do público depois de dezessete anos de festival, prova que ações continuadas são efetivas na formação de plateia. Mas vamos esperar...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Fora Fábio!


Os manifestantes do Fora Fábio! - Secretário de Cultura de Presidente Prudente - se fazem presentes desde a primeira apresentação que assistimos: sobre uma mureta, intercalando corpos em pé, giravam suas frentes e costas para a fila que se preparava para entrar e assistir ao espetáculo. Dizeres nas camisas para, logo em seguida, entrarem para assisti-lo. Eles estavam em todos os lugares, em um protesto silencioso. Assistiam a tudo.


A plateia assisti ao debate de nossa apresentação. Uma manifestação silenciosa daqueles que contemplam algo mais além do apresentado. Fitar um ao outro é articular pensares e formular dizeres que jamais serão expressos oralmente para os ouvidos de quem se mostra. A representação real de algo subjetivo provoca uma certo esvaziamento/esgotamento para, logo em seguida, ser preenchido com uma outra parte de alguém que se esvazia para a gente. Fábio sai; Clarice entra.

domingo, 22 de agosto de 2010

A espera


Podemos, Nicodemos?! Nove meses. Eternidade. Ponteiros. Estações. Ferrovias. Aeroportos. Campaínhas. Público. Aplausos. Morte. Tudo está por vir. O instante é tão teatral, tão efêmero, tão areia por entre os dedos, que insistimos em esperar que esse momento chegue. Momentos de prazer são assim, planejados com ansiedade. Uma semana para seu instante, aquele para o qual você se preparou. Sinto-me anestesiado em algumas circunstâncias. Ontem, depois do espetáculo, sentamo-nos para o debate. Muita gente para ouvir, poucas para falar. Entre nós, Marcelo F. foi o interlocutor. Jorge C. é meio avesso aos debates que se perdem de vista. Quanto a mim, anestesiado. Ficava tentando fitar os olhos das pessoas sem, contudo, conseguir. Minha vista tornou-se mais curta. Gente desconhecida, e eu me perguntava se aquele, também, não poderia ser um outro momento de prazer. Não o debate em si, mas o instante de ver gente desconhecida que foi lá para prestigiar o SEU momento de prazer planejado. Sempre gosto de imaginar, e por vezes dizer, que algumas pessoas são especiais porque passam em nossas vidas e deixam marcas que reformularão nosso pensamento. Ontem, senti-me um pouco assim, na outra margem. A anestesia diminui a dor de sentir o que se sente. 

A pequena no FENTEPP

Como diria o poeta estamos em pleno mar. Um mar teatral que banha o Festival Nacional de Presidente Prudente. Dez horas de viagem aérea e a confirmação de que o nosso Maranhão é longe. Apesar da distância e do cansaço a chegada foi tranquila. Jorge, Katia e eu. Cláudio já nos aguardava aqui. Montagem dentro da normalidade. O sono era nosso pior inimigo. Jantar e teatro: a peça era do Pessoal do Faroeste – Meio dia do fim. Nosso fim: despencamos na cama para acordar no dia de hoje: e hoje não é hoje? Hoje é e foi o dia da nossa apresentação. Oito da manhã de pé para receber uma equipe de TV no teatro municipal de Presidente Prudente – o Procópio Ferreira (eu sei, Cláudio já falou disso). Entrevista primeiro ensaio depois. Até as 13:00h. O ensaio? Assim... assim... A apresentação? Muito boa. Casa cheia. Elenco aplaudido de pé e debate agradável... Uma boa taça de vinho, muitas risadas e o sono chama... primeiras impressões... amanhã continuarei narrando nossa estada, e certamente voltarei à nossa apresentação com mais detalhes. Agora, cama. Mistura de cansaço e de prazer cumprido.

sábado, 21 de agosto de 2010

Dia 21 de agosto, às 22 horas


Hoje, às 8h, estávamos no Teatro Municipal em Presidente Prudente - SP, para ultimar a montagem do cenário, atender a uma equipe de televisão local, e ensaiar.

Tudo muito dentro das circunstâncias que norteiam, basicamente, uma apresentação em outra cidade: uma preguiça sem igual, um desejo de terminar logo o esforço físico, e voltar para casa. Dever cumprido? Não há dever; há opções e escolhas. 

Minha flexibilidade continua em alta. Mas, sinto-me um pouco fraco e sonolento. O vinho ontem foi providencial para fazer com que eu tivesse essa sensação.

Jorge e eu ainda iremos passar o texto antes da apresentação de hoje. Algumas falhas sempre são encontradas. O Melhor é a convicção de que isso sempre acontecerá. Por isso a necessidade de ensaios. Hoje a apresentação será bonita, acredito eu. Não tenho time de futebol para torcer. Sim, a apresentação será bonita.

domingo, 15 de agosto de 2010

Imperatriz. 13/06/2010. Domingo, 02:30 AM.

O hotel, quase clínica, não deu. Mudamos em busca de melhor conforto. Conseguimos. Dia dos namorados. Alguns de nós próximos dos seus, outros distantes e o dia passou quase que com a normalidade de um dia qualquer. Momento para comprar algum presente e teatro de novo. É o que a gente faz. Teatro. Boa apresentação. Limpa. Emocionante. O teatro nos permite muita coisa. Normalmente pessoas sentam-se à mesa para conversar. No bar, em casa. Conversam no trabalho. Mas o teatro nos permite dialogar, ao mesmo tempo, com cem, duzentas pessoas, e isso encurta os caminhos da pequena companhia de teatro na tentativa de discutir o seu entorno, de consolidar uma iniciativa de transformação. É possível. As mudanças acontecem. As pessoas saem do teatro discutindo temas de maneira menos rasteira. O teatro tem esse poder. Tenho percebido que há uma necessidade urgente do público por espetáculos que busquem algo mais do que mero entretenimento, e isso vem me surpreendendo. Não era assim. Algo está mudando. Sorte a nossa. Fechadas as portas do teatro, corremos para encontrar algum restaurante aberto. Conseguimos. Muitas risadas, uma boa refeição e cama. O namoro ficou para depois.

O quê: Fragmento do Diário de Viagem
Sobre: Espetáculo Pai & Filho
Onde: Jornal o Estado do Maranhão
Quando: 08/08/10
Imagens: Catálogo de Ideias
Fonte: Diário de Montagem

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Qual o seu número?



Tipos de atores. Atores não fazem tipo. Teatro tem que ter glossário. Cada um tem o seu, como cotovelo. Para cada verbete, um ator diferente. O gesso te imobiliza? Teorizando é melhor praticar. Jogar mesmo. A arte nunca imita a vida. Sequer se aproxima. Relego a naturalidade a quem, naturalmente está morto. Sobram as estéticas de vitrina. Ver, apontar, escolher, provar, pagar, levar. Modismo tem data. Amanhã, a mesma vitrina estará em promoção. E depois, outras padronagens, outros cortes. O ser nunca é o mesmo. Só as origens permanecem. O calçado carrega consigo a poeira e o pó da trilha. O que sobe aos palcos é a incerteza, a insegurança, a insuficiência de ar, o insofismável desejo de perceber-se vivo. Os olhos enjaulados percorrem sempre as mesmas lacunas. Gostaria de ser brechtiano. Assim, meus olhos não seriam mais sintomáticos para minhas falências. Quando o teatro fica sério, os atores brigam. Vou deixar o Jorge C. trancado fora de casa para perceber o vento acariciando a face rosada pelo frio. Ou, quem sabe, colocar jornais úmidos dentro dos sapatos para o desconforto do inseto. 

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Esquizofrenia

Leram a postagem intitulada Davi e Golias? Quem escreveu aquilo é um careta tentando justificar sua covardia! O artista deve e deverá sempre ir para o enfrentamento independentemente das consequências. Pobre do artista que tem que ficar se justificando para esconder sua acomodação. Digo para vocês, não confiem num homem que tem por nome Henrique sem H. Falar de netos, shopping, natal? Que conversa é essa? Se fosse desse jeito nunca haveria existido uma revolução. Pode até haver algo de nobre quando ele recusa cargos ou contratos para ser coerente com seu discurso, mas é pouco. Mudar a forma de resistência é até bonito, mas é burocrático! É com esse discursinho brando que ele pretende mudar o mundo? Ação e verbo caminham juntos. Ele fala de silêncio e fica choramingando seu destino com um monte de futilidades. Conta de telefone? Colégio? Me poupe! Se não tem peito para ser artista vire funcionário público! Saramago tinha contas para pagar mas nunca amoleceu, pelo contrário, manteve seu discurso e sua prática até a morte. Dizer que podem até botar cabresto mas que a peleja será grande? Jamais! Cabresto é para cavalo. O que esse “caboco” precisa é de um belo coice para acordar!

domingo, 8 de agosto de 2010

Davi e Golias

Um grande filósofo amigo meu, em um momento de intimidade crua, me disse: a sociedade vai nos domando. E vai. Nossa rebeldia vai cedendo. Nossa violência vai se contendo. Nosso anarquismo vai se civilizando. Nosso poder de confronto vai amolecendo. Usando seus três principais instrumentos – a família, a propriedade privada e o amor – a sociedade vai nos domando como cordeirinhos para dentro do quadro formal da vida. Para o artista, esse adestramento é mais terrível ainda. Como conseguir escapar desse aplanamento civilizatório quando se tem que pensar na conta de telefone, no colégio dos filhos, no presente de natal? Resistindo. Para o artista a luta contra o consenso é muito mais brutal e desafiadora. Somos um bando de loucos de fora do mundo tentando convencer o mundo que somos deste mundo mas que queremos um mundo melhor para poder morar. Ao artista é exigido um mínimo de coerência entre o discurso e a prática e isso nos custa abdicar de contratos ou cargos que não se alinhem com o nosso dizer, embora soframos as consequências desse posicionamento na hora de botar a mão no bolso para que o neto possa ir ao shopping. Mas essa pressão não nos abranda. Na verdade nossa resistência vai mudando o tom. Com o tempo, com as rugas e com o reumatismo, começamos a usar menos a força e mais a forma. Menos a faca e mais a pena. Menos o grito e mais o silêncio. Menos o verbo e mais a ação. Mas resistimos. Resistimos porque acreditamos que a vida pode ser melhor. O mundo pode ser melhor. A única alegria que nos resta é a certeza de que o cabresto, no artista, é bem mais difícil de botar. Podem até botar, mas a peleja é grande... Por que a foto de Ayrton Vale? Pai & Filho também trata disso.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Conflitos da profissão

As impressões que tenho do fazer teatral repercutem na minha vida fora do palco. Nem sei as motivações de distanciar um do outro, ou aglutiná-los. As personagens não interferem, não é isso, pois não sou louco - não a esse ponto da esquizofrenia -, mas há uma inquietação na busca de um aperfeiçoamento do humano no ator tal qual o ator para com a sua personagem.

E se eu fosse médico, jornalista? Não é do ser. Posso deixar de atuar, distanciar-me do teatro, mas o que se construiu permanecerá.

Pai & Filho marca algumas questões na minha vida - não acredito muito em divisor de águas; não sou tão católico assim. A relação com um grupo, com seus humores, (dis)sabores; uma exigência de rotinas e horários; atividades físicas para prontidão corporal - estou fazendo musculação pela manhã e natação no final da tarde/início da noite; e agora, circular pelo Brasil. Nunca fiz isso, só pontuadamente com "O segredo do labirinto" e "A casa dos velhos". Essa circulação aponta para a maturidade e profissionalização do fazer e uma carga de desejo de mostrar ao mundo o que temos a dizer. Talvez aí resida minha crise. 

domingo, 1 de agosto de 2010

Fragmento de um diário nunca publicado...

foto de André Lucap


“... Última apresentação em Imperatriz. Casa cheia, de novo, e outra etapa concluída. Toda desmontagem é um pouco melancólica. É um pequeno fim. No teatro, embala-se o cenário e deixam-se para trás apresentações que jamais se repetirão. Diferentemente de cinema ou televisão, no palco uma apresentação nunca será igual à outra. Tentamos codificar, ensaiar, repetir, mas, por maior empenho, talento ou disciplina, jamais se consegue a reprodução exata. Aquele gesto delicado, aquele tom de voz que toca fundo está entregue ao cidadão que se dispôs a assistir aquela apresentação. Haverá melhores, haverá piores, mas não iguais. O teatro não se atrapa. Tem vida própria. E assim, Imperatriz marca Pai & Filho para sempre. Somam-se, à vida da encenação, estas três apresentações únicas. Um abraço em Jorge, um abraço em Cláudio, um abraço em Katia, e a certeza de que estamos caminhando juntos na prazerosa estrada do amadurecimento. Como bom domingo, encerramos com pizza. Terminadas estas linhas, despenco na cama. Amanhã a estrada nos espera.”

Diário de viagem. Imperatriz. Segunda-feira, 14 de junho de 2010. 04:00 AM.