quarta-feira, 16 de junho de 2010

Debates e suas motivações

Uma das contrapartidas no projeto aprovado - Pai & Filho -, são os debates após as apresentações. Atores exauridos pelo esforço/suor, encenador eufórico. Lembra um pouco as mostras/festivais em que os grupos, numa perspectiva de compartilhar o seu fazer, disponibilizavam palavras ao vento para os fazedores teatrais. Um público especializado, digamos assim.

Neste caso, a comunidade em geral é que se faz presente e acreditem, a maioria fica mais de 50% do tempo disponibilizado para o debate, fazendo perguntas e/ou ouvindo as respostas.

Para o teatro o público existe. Entretanto, ele quase não é exigido na encenação, pois ele não está por lá, não acompanha o processo, não discute com o encenador. Ele aparece e pronto. A relação que se estabelece sempre foi de distanciamento, e as reações podem ir desde um bocejo a uma dormida conjugada com um ronco, tosse, saídas antes do término, atender um celular... enfim, termômetros para ter uma noção da atenção do espectador para com a obra. 

Quando franqueamos a palavra para um público ausente do processo, a primeira coisa que nos incomoda são as perguntas acerca da incompreensão de certas opções, ou ainda a necessidade de entender absolutamente toda a encenação, as características das personagens, esquecendo por completo que nosso teatro é uma obra aberta.

Parece-me que politicamente é importante disponibilizar esses espaços. Eu gosto muito. Adoro colocar meu pensamento em palavras. Assim, me exponho mais. Aquilo que não ficou claro, se solidifica em ação - palavra é ação. Pensamento, idem. Quanto aos espectadores, eles deixam um pouco essa distância e sentenciam seu pensar. É um exercício discutir em nossa sociedade, e os espaços estão sendo raros. Acho que se não fosse contrapartida no projeto, não faríamos. Assim, teríamos mais tempo para desmontar o cenário, tomar um vinho e ficar nos masturbando sobre a compreensão dos espectadores. Hoje, não temos mais isso.

Este final de semana teremos apresentação em Balsas-MA. Marcelo Flecha, Jorge Choairy e André Lucap já estão por lá. Eu e Kátia Lopes, em São Luís. Iremos na quinta-feira. 12h de viagem de ônibus!!!

Um comentário:

antônio disse...

infelizmente, nós latinoamericanosbrasileirosnordestinosmaranhensesbreijeiros não somos educados para o teatro. Mesmo os mais abastados (ou menos desinfelizes) sofrem de uma ignorância na frialdade inorgânica do subdesenvolvimento. como você disse, além de mais um espaço para se expressar, o debate também serve pra construir/desconstruir momentos "educativos", formadores e/ou equivocados. Acredito, inclusive, que pelo próprio debate que aconteceu em imperatriz, um pouco se mudou da concepção de interpretação/leitura do teatro. ou não. Abraços