Mesa de bar. Mossoró. Cidade Junina. Entre amigos, discutimos. Teatro. Na mesa atrizes queridas (Tony e Luciana) e o diretor do espetáculo “Chuva de Bala no País de Mossoró”, o competente João Marcelino. A conversa toca em um ponto que sempre me inquietou.
Dou um exemplo: no espetáculo "Pai & Filho" há uma cena, logo no início, em que o pai mata um mosquito nas costas do filho com violência. O público ri. Normal. Mas para mim é essa cena que concentra toda a trajetória dramática que as personagens carregam em si: o pai, no golpe, mostra seu vigor, seu poder, sua força; mas a ação está a serviço do bem estar do filho, que era mordido por um mosquito. O filho, frágil, absorve o golpe sem reclamar. Por que a cena surge? Porque ela diz do que eles são ou porque poderia ser engraçada? Esse é o ponto. O compromisso com o “como” dizer não pode estar refém do público. O riso, ou choro, ou indiferença, ou nada, deve ser consequência. A cena – em que alguns riem, outros ignoram e outros sofrem – é tecnicamente clownesca porque precisava ser. Se gosto da reação? Gosto e é saborosamente inesperada; a cena não foi construída para isso. Posso falar do coito de Teodoro com a vaca em "Deus Danado", do Tuco vestindo o smoking em "O Acompanhamento", enfim, cenas que existem porque são necessárias. Talvez esteja sendo um pouco hermético hoje, mas acho que deu para entender. Deu?