quarta-feira, 30 de junho de 2010

Quem ri por último ri atrasado

foto Ayrton Vale

Mesa de bar. Mossoró. Cidade Junina. Entre amigos, discutimos. Teatro. Na mesa atrizes queridas (Tony e Luciana) e o diretor do espetáculo “Chuva de Bala no País de Mossoró”, o competente João Marcelino. A conversa toca em um ponto que sempre me inquietou.
Dou um exemplo: no espetáculo "Pai & Filho" há uma cena, logo no início, em que o pai mata um mosquito nas costas do filho com violência. O público ri. Normal. Mas para mim é essa cena que concentra toda a trajetória dramática que as personagens carregam em si: o pai, no golpe, mostra seu vigor, seu poder, sua força; mas a ação está a serviço do bem estar do filho, que era mordido por um mosquito. O filho, frágil, absorve o golpe sem reclamar. Por que a cena surge? Porque ela diz do que eles são ou porque poderia ser engraçada? Esse é o ponto. O compromisso com o “como” dizer não pode estar refém do público. O riso, ou choro, ou indiferença, ou nada, deve ser consequência. A cena – em que alguns riem, outros ignoram e outros sofrem – é tecnicamente clownesca porque precisava ser. Se gosto da reação? Gosto e é saborosamente inesperada; a cena não foi construída para isso. Posso falar do coito de Teodoro com a vaca em "Deus Danado", do Tuco vestindo o smoking em "O Acompanhamento", enfim, cenas que existem porque são necessárias. Talvez esteja sendo um pouco hermético hoje, mas acho que deu para entender. Deu?

terça-feira, 22 de junho de 2010

E lá fomos nós!

foto André Lucap

De volta a São Luís depois das apresentações de Pai & Filho em Imperatriz e Balsas. Falta Riachão. Em Julho. Amanhã parto para Mossoró rever os amigos da Cia. A Máscara de Teatro. Muitos e-mails, comentários e quantidades de cartas recebidas pelo correio reclamando minha presença no blog. Vocês não perceberam, mas passei uma semana sem postar. Um e-mail do Bernardo Bôscoli, membro da Real Academia de Teatro Prático, perguntava como foram as apresentações em Imperatriz e Balsas. Começo por Imperatriz que desconstruiu meu receio quanto ao possível distanciamento provocado pelo palco italiano. O contato entre as personagens e seus convidados foi intenso e não creio que os espectadores tenham perdido atmosfera por estarem na platéia do “Ferreirinha”. Esteticamente a montagem ficou bela, a melhor até aqui. As apresentações foram boas. Depois dos sessenta dias de intervalo desde a última apresentação em São Luís, o resultado superou minhas sempre pessimistas expectativas. A casa? Cheia, como sempre, e no domingo aquela saborosa sensação do dever cumprido. Já Balsas nos reservou algumas surpresas. Uma avalanche de gente no primeiro dia que nos obrigou a devolver para suas casas umas duzentas pessoas entre alunos e alunos e um blecaute que inviabilizou a última apresentação. Sim. No domingo faltou luz e só voltou à meia noite. Desmontagem no escuro. No mais, o espetáculo do Sábado foi o melhor dos cinco apresentados nos dois municípios. Convidado a escrever um diário de viagem para um jornal local, vou postar nos próximos dias e a conta gotas aqui no blog, algumas impressões registradas nesse diário. Aguardem. Ainda temos muito para contar desta jornada pelo sul do Maranhão.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Debates e suas motivações

Uma das contrapartidas no projeto aprovado - Pai & Filho -, são os debates após as apresentações. Atores exauridos pelo esforço/suor, encenador eufórico. Lembra um pouco as mostras/festivais em que os grupos, numa perspectiva de compartilhar o seu fazer, disponibilizavam palavras ao vento para os fazedores teatrais. Um público especializado, digamos assim.

Neste caso, a comunidade em geral é que se faz presente e acreditem, a maioria fica mais de 50% do tempo disponibilizado para o debate, fazendo perguntas e/ou ouvindo as respostas.

Para o teatro o público existe. Entretanto, ele quase não é exigido na encenação, pois ele não está por lá, não acompanha o processo, não discute com o encenador. Ele aparece e pronto. A relação que se estabelece sempre foi de distanciamento, e as reações podem ir desde um bocejo a uma dormida conjugada com um ronco, tosse, saídas antes do término, atender um celular... enfim, termômetros para ter uma noção da atenção do espectador para com a obra. 

Quando franqueamos a palavra para um público ausente do processo, a primeira coisa que nos incomoda são as perguntas acerca da incompreensão de certas opções, ou ainda a necessidade de entender absolutamente toda a encenação, as características das personagens, esquecendo por completo que nosso teatro é uma obra aberta.

Parece-me que politicamente é importante disponibilizar esses espaços. Eu gosto muito. Adoro colocar meu pensamento em palavras. Assim, me exponho mais. Aquilo que não ficou claro, se solidifica em ação - palavra é ação. Pensamento, idem. Quanto aos espectadores, eles deixam um pouco essa distância e sentenciam seu pensar. É um exercício discutir em nossa sociedade, e os espaços estão sendo raros. Acho que se não fosse contrapartida no projeto, não faríamos. Assim, teríamos mais tempo para desmontar o cenário, tomar um vinho e ficar nos masturbando sobre a compreensão dos espectadores. Hoje, não temos mais isso.

Este final de semana teremos apresentação em Balsas-MA. Marcelo Flecha, Jorge Choairy e André Lucap já estão por lá. Eu e Kátia Lopes, em São Luís. Iremos na quinta-feira. 12h de viagem de ônibus!!!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Em Imperatriz são 08h36.

Marcelo Flecha, Kátia Lopes, Jorge Choairy e André Lucap encontraram o ator, esse que vos tecla, em Imperatriz, para apresentações.

Cenário montado, fizemos uma passagem para relembrar marcações e texto - há alguns dias não estávamos manutenindo o espetáculo. A distância física é terrível.

Duas emissoras de televisão apareceram para externas, com o intuito de informar a comunidade sobre as apresentações. Um dos repórteres indaga sobre o teatro de patifaria e teatro tradicional. Essas questões têm uma relação com o fazer de um grupo de pessoas da cidade de Imperatriz e em contraponto, o nosso teatro - que segundo ele seria tradicional.

Bobagens à parte, a Pequena Companhia de Teatro não se filia a uma estética específica, mas se alimenta de pensamentos e ações de pessoas que escreveram e experienciaram sobre/o teatro durante séculos. Nossa contribuição, nosso fazer, principia-se aí. Pra isso, ela se fortalece quando elabora seu manifesto. Cada espetáculo/apresentação é como se afirmasse o seu propósito. Enquanto isso, a gente se debruça em nossa prática para analisá-la, e perceber se estamos em um caminho que nos convença.

Depois daqui, Balsas e Riachão.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

E lá vamos nós!

                                                                                                             foto Ayrton Vale
Quinta-feira embarcaremos para Imperatriz. Sexta, sábado e domingo, Pai & Filho no Teatro Ferreira Gullar. 20hs. Entrada franca. Depois, Balsas e Riachão. Na viagem seremos três personagens à procura de um ator no bom e velho Ford KA. As personagens? Katia, Jorge e eu. O ator? Cláudio.








Santa Inês /Indo para São Bento

Já estive nas duas situações: já morei no “interior” e recebi espetáculo da “capital” e já morei na capital e viajei com espetáculos para o interior. “Nunca” circulei do interior para a capital. No Maranhão, a relação entre capital e interior sempre foi muito problemática. São Luís se sente o próprio estado e só lembra que o interior existe quando alguma produção precisa circular para receber recursos. A via raramente é de mão dupla. Raramente projetos do “estado” pensam na produção realizada no interior circulando pela capital, ou entre os próprios municípios do interior. A pequena companhia tem uma proposta afetivamente ligada ao interior do estado (a palavra “interior”, que tanto odeio, se repetirá aqui umas quinhentas vezes). Desde a sua fundação, todos os espetáculos circularam pelo estado independentemente dos recursos recebidos, e, em alguns casos, custeados pela própria companhia. Os Espetáculos O Acompanhamento, Entre Laços e Pai & Filho incluíram cidades do interior nas suas temporadas de estreia e projetos como o da Literatura Viva já foram desenvolvidos em outros municípios maranhenses. Também já recebemos em São Luis grupos do interior do Maranhão e do Rio Grande do Norte, mas em todos os casos havia uma afinidade de proposta ou um vínculo afetivo muito grande. E é nisso que acreditamos – estou tendo certa dificuldade em falar na primeira pessoa do plural porque o "fogo amigo" de Cláudio frequentemente vem me desdizer como companhia, mas falo por mim e falo como membro fundador da pequena companhia de teatro (risos). Acreditamos que as relações precisam se estabelecer também de maneira afetiva (como o próprio Cláudio comenta na postagem do dia 27 de maio) e somente assim se solidificarão. Se a circulação não é uma alternativa para a troca de experiências e discussão dos diferentes fazeres e só se efetiva quando se precisa justificar um projeto, em nada se avança. Foi com projetos de circulação entre Balsas e Imperatriz que, há vinte anos, conheci duas das pessoas mais importantes na formação do meu fazer. Circulemos pelo nosso estado com o coração aberto.






São José de Ribamar /Bacabal

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O quadro de antagônicos e a vida que se mostra.

Para mim, hoje não é sexta-feira. É ontem.

Tive contato com a obra de Ivã Volpi e fiquei encantado. Pensei num livro sobre dansintersemiotização, de Soraia Maria Silva, a partir dos Profetas, do Aleijadinho. Acho que o Quadro de Antagônicos tem a ver com a vida que se mostra. Me vi percebendo o material e o movimento das obras do Ivã e relacionando com o Quadro, como Soraia e os Profetas. Assim, relaciono a vida ao Quadro, para ele não se tornar árido. Uma pista, talvez. Estou envolvido com isso, com essa troca de experiências, de construção coletiva de conhecimento. Parece-me uma espécie de mímesis corpórea cubista. Ainda tenho muito o que ler e pesquisar. Entendam como uma espécie de impressão de que o processo do Quadro de Antagônicos é apenas um fio de uma meada.