domingo, 23 de maio de 2010

Do espaço cênico e da plateia

“... o espectador tem visibilidade adequada e contato com a ação onde quer que esta se desenrole...”
(Yan Michalski sobre Cemitério de Automóveis, de Arrabal por Garcia-1970)

Foram tantos e tão variados os e-mails recebidos que ficou muito difícil escolher por onde começar. Escolho um e-mail de Antônio Átila Castillo, estudante de artes efêmeras na Universidade Democrática de Barcelona. O e-mail dele indagava sobre a espacialidade no espetáculo Pai & Filho.

Desde O acompanhamento, passando por Medéia, Deus Dando, Entre laços e Pai & Filho venho tentando experimentar uma distribuição cênica que propicie ao espectador o privilégio de olhar o que o encenador vê durante todo o processo de montagem. Isso levou a uma série de experiências espaciais, todas elas com acertos e equívocos. O desafio em Pai & Filho se tornou ainda maior quando pretendi que o mesmo espetáculo possa ser levado em espaço alternativo ou palco italiano, como ocorrerá em Imperatriz no mês de junho. O leitor dirá que a pretensão é impossível de ser alcançada, e eu direi que concordo e que continuo tentando. De todas as experiências, acho que Pai & Filho é a que melhor se adapta às duas opções - a frontalidade preserva o formato tradicional, sem prejuízos para a platéia convencional, mas com alguns problemas de visibilidade parcial em espaço alternativo quando o número de lugares tenta superar aqueles oferecidos pela lógica do espaço – diferentemente de Deus Danado e O Acompanhamento (fotos acima), quando o espectador está sempre na primeira fila, ou segunda no máximo. Observado esse fator, acho que Pai & Filho funcionará dramática e esteticamente nas duas opções. O que me aflige na opção do palco italiano é a distância entre o espectador e a cena: temo que o interlocutor seja afastado da atmosfera responsável pelo elo entre ele (bela cacofonia) e a cena, perdendo as propriedades íntimas oferecidas na encenação como fator de sufocamento. Imperatriz dirá.

Um comentário:

Marconcine disse...

literalmente, né?! é que depois teremos debate... o que mais me encanta é a gente fazer um teatro não mercadológico e ainda querer que o público entenda... o público ainda está em formação. gosto de taxar o público de burro para que ele me possibilite ao diálogo. se estou sendo muito boçal, paciência; é que meu prazer vem em primeiro lugar. acho que estou meio ácido hoje... imperatriz vai gostar do espetáculo e vai se queixar, sim, da distância... uma sugestão, marcelo, é que vc coloque algumas cadeiras na lateral do triângulo, sobre o palco. assim, os espectadores vão se sentir meio que ursos enjaulados. aos de baixo, a gente distribuirá amendoins (sei que ursos não comem amendoim... é para o público debaixo, mesmo...).