segunda-feira, 22 de março de 2010

Contando o final


O espetáculo tem seis finais. Isso. Seis alternativas diferentes de final. Inclinar-nos-emos por uma quando chegar a hora. Como assim? É que o final é menos importante. No centro está o nosso fim, o fim é o todo. Já o final é uma mera formalidade para você espectador/leitor, ávido por conclusões. É que, antes mesmo do início, o destino do pai, muito bem alcunhado de Próspero pelo próprio ator que o protagoniza, já está traçado e materialmente consolidado de acordo com a sua vontade, ou não. O filho, vazio de nome e de norte, transita entre seus seis possíveis destinos sem necessariamente importar-se com eles, porque ser um nada esvazia. Este anti-herói nos oferece como isca o enfrentamento. Nos conduz pelas entranhas do desamparo sem nos deixar acreditar na sorte. Contra um pai que é visto ao mesmo tempo como deus, juiz, estado, tirano e carrasco o que pode um filho que se vê como mártir, escravo, inseto, réu e vítima? A força está na tentativa. A ilusão também. Cada ator, na nobre função de defender sua personagem tem um final predileto. Eu tenho os meus. É a consolidação de toda a montagem que vem mostrando a tendência do final, mas, no fim, a busca da verdade exigirá de nós o consenso ou a resignação. Quem é que não gostaria de poder escolher o seu destino e prever o seu futuro? Faça teatro e brinque de ser deus. Se não quiser fazer, assista. Nós oferecemos o pai e o filho. O espírito santo ficaria por sua conta, já que a estreia está próxima.

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